Capítulo 16: Vou levar uma amiga.

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Hermione ficou me encarando como se eu tivesse contado alguma piada. Isso fez eu me sentir mal por perguntar aquilo. É claro que ela não iria querer ir. De todas as coisas que eu falei sobre a minha família, Alfredo é a única parte boa. Ela não tem motivos pra se sentir animada em aceitar isso.

—O que? —Ela começou a estalar os dedos, ficando visivelmente nervosa. —Por que está me convidando?

—Eu... não sei. Só pensei em te convidar. —Dei de ombros, vendo a expressão confusa no rosto dela, enquanto a mesma tentava desviar os olhos de mim. Já tinha percebido que ela não gostava de manter contato visual. Sempre que eu a estava encarando ela corava e desviava os olhos. —Vamos até lá todos os anos nessa data. Nunca é legal. Pensei que com você indo poderia ser diferente. Alfredo também iria gostar que fosse. E achei que você poderia gostar. Tem vários animais lá e... —Dei de ombros. —Mas entendo se não quiser ir. Não fiz muitos elogios a minha mãe.

—Oh! —Ela passou a mão pelas tranças, parecendo ansiosa, enquanto a outra estava caída ao lado do corpo e seus dedos estalavam a cada segundo. Segurei a mão dela involuntariamente, fazendo ela parar de fazer aquilo e olhar pra mim.

—Você está fazendo aquilo de novo, Hermione. —Comentei, deslizando o polegar pelas costas da sua mão, sentindo a pele macia. —Vamos almoçar. Esqueça que eu perguntei isso. Não deveria ter convidado.

—Mesmo? —Ela ficou vermelha, desviando os olhos. —Porque eu iria aceitar o convite.

Abri um sorriso muito grande, tendo que soltar a mão dela quando Azeitona resolveu dar uma lambida nas duas juntas, como se estivesse com ciúmes. Enfiei minhas mãos no bolso e assenti para ela.

—Que bom. Vamos sair antes das 9 da manhã. Pego você em casa. —Ela apenas concordou com a cabeça, como se não soubesse o que falar. Pelo menos havia parado de estalar os dedos e agora estava ocupada fazendo carinho em Azeitona.

—Posso levar o Azeitona? —Ela olhou para o seu fiel amigo, como se não pudesse ir em algum lugar sem ele. Encolhi os ombros, percebendo que não era uma boa ideia.

—Acho melhor não. Tem outros cachorros menos sociáveis lá. —Comentei, vendo ela fazer uma careta e puxar o cachorro mais para perto de si quando ouviu isso. —Ian pode cuidar dele. A Rebeca tem um cachorro pequeno que as vezes fica na casa do Ian quando ela precisa viajar. Tenho certeza que ele não vai se incomodar de cuidar do Azeitona.

—Ah, não. Não sei se é uma boa ideia. —Ela balançou a cabeça negativamente freneticamente. —Não quero incomodar ele com isso.

—Não se preocupe, Ian não vai se importar. Eu falo com ele. —Gesticulei para a porta, vendo os olhos dela fitarem os meus por longos segundos antes de ela desviar de novo. —Venha, vamos almoçar. Amanhã vai ser um dia e tanto.

[...]

Ian me encarou, erguendo as sobrancelhas enquanto cruzava os braços na frente do corpo. Rebeca estava sentada ao lado dele, com uma xícara de café fumegante enquanto observava divertida a situação.

—Vai levá-la pra conhecer sua mãe? —Ian finalmente soltou alguma coisa, depois de eu ter pedido para que ele ficasse com Azeitona. —Já estão nesse nível? —Revirei meus olhos, escutando ele soltar uma risadinha. —Ora, eu fico com aquele cachorro. Ele é adorável.

—Obrigada por isso. E não estou levando-a para conhecer minha mãe. Estou levando ela pra conhecer a fazenda. —Afirmei, vendo ele me lançar um olhar descrente.

Bem, era isso e também passar um pouco mais de tempo com ela, antes de sua mãe chegar. Não sei como vai ser a próxima semana. Sei que nossos jantares toda noite vão acabar, mas não quero que ela volte a ser uma estranha que toma café da manhã todo dia aqui.

—Sua mãe não vai dar uma de...? —Rebeca não completou, mas eu podia ver a palavra "babaca" dançando nos seus lábios.

—Eu espero que não. Mas de qualquer forma, jamais deixaria ela falar qualquer coisa que ofendesse a Hermione. —Afirmei, sabendo que precisava avisa-la que iria levar alguém.

Minha mãe era uma pessoa difícil. Mas nunca a vi ofender alguém que não fosse parte da família e que não fosse especificamente eu ou Alfredo. E Hermione era adorável demais de todas as formas possíveis. Talvez conquiste minha mãe. Pelo menos eu esperava que sim.

—Tudo bem. Só cuida dela. Hermione é uma florzinha doce que não merece se machucar. —Ian ficou de pé, dando um tapinha no meu ombro. —Leva o Azeitona lá pra casa. A Rebeca vai pra lá e me ajudar a cuidar dele.

—Tudo bem. Obrigada por isso. —Falei, sabendo que Ian tinha um coração enorme.

Trabalho com esse cara a tanto tempo. Não consigo me lembrar de uma época que desejei sair do café. Sempre gostei de trabalhar aqui com ele. Ele sempre tratou todos os funcionários bem e sempre faz de tudo para que se sintam confortáveis aqui. E principalmente, ele sempre vê algo em mim. Um potencial que eu nunca achei que poderia existir. Sempre me disse para abrir meu próprio negócio. Que mereço mais do que servir cafés. Gosto de servir cafés. Gosto de ver o tempo passar pelas janelas do café.

Mas agora vou realmente ter meu próprio negócio como ele sempre me disse. Tudo bem, ainda vamos ser sócios, porque percebi que não posso abrir um negócio em que Ian não esteja envolvido. Mas ele não estava esperando uma padaria. Bem, não pensei muito sobre isso. Existem restaurantes em cada esquina e eu queria algo diferente. Um diferente que deixaria minha mãe irritada e me deixaria feliz. Vou continuar cozinhando as coisas que gosto agora no meu próprio espaço.

Soltei um suspiro pesado e puxei meu celular, vendo as últimas mensagem da minha mãe que eu não havia sequer respondido. Não acho que ela se importe com isso de qualquer forma.

Pietro — Vamos chegar cedo.
Vou levar uma amiga.
Achei que deveria avisar.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora