Um nó se formou na minha garganta, enquanto eu erguia os olhos para tentar decifrar a reação de Pietro. Mas ele mantinha a mesma expressão tranquila de antes, apesar de eu sentir seu corpo mais tenso contra o meu. Sua mão apertou minha cintura, me puxando mais para perto de si.
—É mesmo? —Ele olhou pra mim e depois para Cameron de novo. —Ela nunca me falou de você. Não deve ter deixado uma impressão muito boa, cara.
Cameron riu, olhando ao redor, enquanto engolia em seco. Continuei olhando para Pietro, desejando muito poder ler seus pensamentos naquele momento.
—Nossa história teve seus altos e baixos, não é? —Cameron olhou pra mim sorrindo, como se esperasse que eu concordasse. —Ainda tenho boas lembranças.
Eu não tinha. Eu só tinha as piores. Mas tenho certeza que ele prefere ignorar elas. Percebi que para algumas pessoas é mais fácil fingir que algo não aconteceu, porque você não precisa lidar com isso tão cedo. Cameron certamente é uma dessas pessoas. Não foi ele que saiu machucado. Foi em mim que a merda respingou.
Eu e Pietro não falamos nada, enquanto Cameron parecia muito interessado em ficar ali com a gente. Pra minha felicidade, Silvia Carson passou por ali, chamando todos para dentro, para cantarmos parabéns para as filhas. Cameron foi primeiro, enquanto Pietro afastava a mão da minha cintura apenas para segurar minha mão.
Entramos na casa, nos juntando a todas as pessoas que estavam lá. Fiquei aliviada quando Cameron ficou do outro lado da sala, bem longe de nós dois. Mas ele ainda estava olhando pra mim, quando toda atenção deveria ser para as aniversariantes. Cantei parabéns no automático, com os olhos fixos nas duas garotinhas do outro lado da mesa, que encaravam o bolo e as velas com os olhos brilhando em expectativa.
—Você está bravo comigo? —Indaguei baixinho, erguendo os olhos para Pietro. Ele estava olhando pro outro lado da sala, com a mandíbula mais tensa do que eu jamais tinha visto. —Me desculpe por mentir. Mas...
—Não peça desculpas. Se você preferiu fingir que ele não existia e me dizer que nunca tinha namorado, então é porque ele não é alguém digno de ser lembrado. —Afirmou, muito lentamente, parecendo engolir com dificuldade.
—Então não está bravo comigo? —Perguntei hesitante, tocando a bochecha dele para fazê-lo olhar pra mim. O corpo dele relaxou e seus olhos se suavizaram quando encontraram os meus.
—Não. Estou bravo com ele. Você estava feliz até ele aparecer na sua frente. Estou vendo e sentindo o quanto está triste agora, Hermione. E isso me faz odiar esse cara sem nem conhecê-lo. —Ele segurou meu rosto e deixou um beijo na minha testa. —E eu estou morrendo de ciúmes, meu bem. Quero bater nele por já ter ficado com você. Quero muito mesmo.
Fechei meus olhos, absorvendo as palavras dele, que faziam meu coração se aquecer e bater com mais força dentro do meu peito. Ele nem precisava ter ciúmes. Nunca.
—Você ainda gosta dele? —Indagou, se afastando para observar meu rosto. —Você ainda sente alguma coisa por ele? Qualquer coisa que seja?
Mordi o lábio, negando com a cabeça.
—Eu sinto por você. —Falei, com meu rosto ficando quente. —Eu gosto de você.
Ele soltou uma risada, me abraçando apertado, enquanto escorava o queixo na minha cabeça. Sorri com aquilo, me sentindo muito melhor do que estava minutos atrás, na presença daquele que não merece ser lembrado e que eu muito menos queria ter reencontrado.
—Podemos ir pra casa? —Indaguei, erguendo os olhos. —Minha mãe ia sair pra fazer compras hoje. Podemos assistir um filme ou fazer outra coisa até ela voltar.
—Pensei que não gostasse de filmes. —Comentou, erguendo as sobrancelhas ao mesmo tempo que sorria.
—Eu não gosto. —Afundei meu rosto no peito dele, escutando sua risada. —Mas quando vou assistir com você eu gosto.
—Tudo bem. Vamos nos despedir e ir. —Ele beijou minha testa de novo e olhou pro outro lado da sala, fazendo meus olhos seguirem o movimento. Cameron ainda estava lá, olhando na nossa direção, enquanto conversava com um homem.
Quero apagar esse reencontro. Não quero voltar a vê-lo de novo.
[...]
Papai — O que aconteceu?
Hermione — Cameron estava na festa de aniversário.
Ele voltou a morar em Aspen.Papai — Sério?
Você está bem?
Pietro estava com você?Hermione — Estava e está aqui em casa comigo agora.
Posso ligar mais tarde?
Acho que não quero falar disso agora.Papai — Tudo bem.
Me ligue se precisar de alguma coisa.
Não quero ver minha filha infeliz.Apaguei a tela do celular e coloquei embaixo do travesseiro assim que Pietro entrou no meu quarto, observando cada cantinho. Ele já tinha estado ali no primeiro jantar, quando me colocou na cama. Mas acho que não parou para observar tudo. Fiquei envergonhada quando ele parou na frente do espelho, sorrindo ao ver os post its dele que estavam ali. Os únicos.
—Você tirou todos os outros? —Indagou, percebendo as paredes limpas.
—Foi a minha mãe. —Ele me olhou e eu dei de ombros.
—Ah, sinto muito. Ela não deveria mexer nas suas coisas. —Afirmou, se sentando na ponta da cama, enquanto eu puxava o notebook para procurar um filme. —Você está bem?
—Estou. Vou procurar um filme pra gente. —Falei, tentando fugir do assunto que eu sabia que uma hora iria explodir sobre mim.
Pietro ficou me observando, enquanto eu olhava para a tela do notebook e digitava. Meus lábios tremeram quando ele tocou minha mão, me fazendo parar o que estava fazendo. Olhei para nossas mãos juntas, sentindo meu coração martelando no peito.
—Não precisamos falar disso. Mas eu estou vendo que está triste. —Afirmou, muito baixo, enquanto deslizava o polegar pelo meu pulso. —Por favor, meu bem, conte pra mim o que aconteceu. Só quero entender você.
Meus olhos se encheram de lágrimas e um soluço escapo pelos meus lábios, quando abaixei minha cabeça mais ainda. Eu estava no colo de Pietro segundos depois, sentindo seus braços me envolverem. Afundei meu rosto na sua camiseta, molhando ela com as minhas lágrimas, enquanto soluçava sem parar. Ele me abraçou mais e mais apertado, sussurrando palavras de conforto enquanto eu me afundava naquele sentimento ruim.
—Não chore. Por favor, Hermione, não chore. —Ele segurou meu rosto, tentando limpar minhas lágrimas, quanto mais eu chorava. Balancei a cabeça negativamente, tentando ouvir o que ele dizia, mas só conseguia chorar mais ainda. —Meu bem, não chore. O que quer que tenha sido, estou aqui com você. Não se sinta mal. Você não tem que se sentir mal por nada.
Pietro estava beijando meu rosto, minhas lágrimas. Beijou minhas bochechas, meu queixo, minhas pálpebras, minha testa, meu nariz... Beijos tão suaves e lentos que me fizeram parar de pensar no porque eu estava chorando e focar apenas naquele toque gentil dos lábios dele.
Ele beijou a ponta do meu nariz, traçando o contorno da minha mandíbula com o polegar. Continuei de olhos fechados, enquanto minhas lágrimas diminuíam, assim como meus soluços. Ele segurou meu queixo, erguendo meu rosto, enquanto deixava uma linha de beijos pela minha bochecha.
Então beijou o canto esquerdo dos meus lábios. Depois o direito. Até que seu lábio tocou o meu, tão lentamente e brevemente que desejei que ele fizesse de novo. E ele fez. Deixou outro selinho nos meus lábios, antes de beijar minha outra bochecha, minha testa e todos os cantinhos que seus lábios conseguiam alcançar.
—Por favor, me conte o que ele fez. —Pediu, ainda beijando meu rosto. Deixando outro selinho nos meus lábios. —Prometo concertar o que quer que tenha sido. Só não chore, meu bem.
Não sei o que aconteceu com o meu coração, mas acho que ele já havia explodido no meu peito.
Continua...
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Docemente Apaixonados / Vol. 1
RomanceHermione é uma das singularidades da acolhedora cidade de Aspen. Com vinte anos, dona da sua própria floricultura, amante de livros, mãe de pet e super antissocial, ela tem tudo sobre controle na sua vida. Tudo sobre controle mesmo, já que sua vida...