Capítulo 7: Você me colocou na cama ontem?

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—O macarrão está aprovado? —Pietro indagou, enquanto nos sentávamos no sofá, com Azeitona entre não dois, pedindo carinho de ambos.

—Está sim. Se eu conseguir fazer igual, minha mãe vai amar. —Afirmei, suspirando. —Pelo menos eu espero que ela ame.

Dei um gole no vinho, sentindo que estava ficando mais leve a cada segundo. Percebi que vinho era melhor do que música clássica para me acalmar e me deixar relaxada. Não me lembrava mais em qual número estávamos. Mas já havíamos passado das 4 que Pietro falou no início da noite.

—Eu deveria lavar a louça. —Ele olhou para trás, para a pia entulhada de coisas. —Faço isso antes de ir embora, prometo.

—Tudo bem. Eu arrumo depois. Pode deixar. —Olhei pra ele, com a cabeça escorada no sofá e os olhos um pouco pesados. Pietro havia chegado ali as 19:00 em ponto. Mas já passava das dez da noite. —Você já está sendo muito gentil em vir aqui me ajudar. Eu não sirvo nem pra seguir uma receita.

—Ei, não é assim. —Ele virou o vinho na boca de uma vez só, fazendo uma careta. Suas bochechas estavam vermelhas e ele parecia cansado. —Cozinhar não é a coisa mais simples do mundo. Alguns podem achar que sim. Mas não é. Uma mísera pitada de sal a mais pode estragar um prato todo.

—Hm... —Suspirei, esfregando meus olhos, antes de afofar a cabeça de Azeitona, que havia deitado com ela no meu colo. —Minha mãe com certeza é da parte que acha que cozinhar é fácil.

—Bem, ela está errada quanto a isso. —Pietro soltou a taça na mesa de centro e se ajeitou no sofá, ficando virado pra mim. Desviei os olhos dele, encarando Azeitona. —Qual é a dos post its?

—Gosto de escrever o que preciso fazer no dia. Ou alguma coisa que achei interessante ou não entendi. —Falei, dando de ombros, um pouco sem graça. Aquela era a parte que a maioria das pessoas me achava estranha. Porque os post its cobriam quase todos os espaços vagos nas paredes. —Vou ter que recolher tudo, ou minha mãe vai reclamar. Ela sempre tem muito a reclamar.

—Deixa eles aí. —Ergui os olhos para Pietro, que agora observava os mini papéis coloridos. —Se gosta de escrever e deixá-los assim, então não os tire porque ela não gosta. É a sua casa, suas regras. —Ele olhou pra mim e piscou, abrindo um sorriso. —Sua mãe não deveria se incomodar tanto com isso. E muito menos se incomodar por você não saber cozinhar. Ou ter dificuldade.

—Fala isso pra ela então. —Murmurei, vendo ele estender a mão pra mim. —O que?

—Liga pra ela que eu falo, ué. —Ele riu quando arregalei meus olhos. —Estou brincando, Hermione. Sua mãe ia achar que eu sou louco.

—Provavelmente. —Concordei, ouvindo ele rir de novo, o que me fez sorrir também.

[...]

Abri os olhos com o barulho do despertador tocando e os latidos de Azeitona ao lado da cama. Me sentei na mesma, desligando o despertador e encarando o cachorro sentado no chão, que me encarava com os olhos muito grandes.

Olhei ao redor, tentando me lembrar do momento que vim para cama, já que minha última lembrança era estar no sofá com Pietro. Olhei para minhas roupas, vendo que eram as mesmas de ontem. Então encontrei o post it roxo sobre o outro travesseiro, com uma letra que não era minha.

''Descobri que você não é do tipo que fica bêbada, mas sim do tipo que apaga e não acorda por nada.  
  Ps: Eu lavei a louça e dei comida para o Azeitona.''

Soltei uma risada nervosa, sentindo o efeito do vinho borbulhando na minha cabeça. Nunca tinha bebido tanto, mesmo que fosse vinho, porque minha mãe era controladora até nisso. Mas, nossa, parece que meu cérebro foi revirado. Isso era ressaca? Se fosse, eu não iria beber nunca mais.

Me levantei a contragosto, pegando o post it de Pietro e colando no meu espelho, onde estavam os recados que eu julgava mais importante. Me arrastei até o banheiro e finalmente comecei o dia, sentido que aquele peso de ter bebido me seguiria pelo resto do dia.

[...]

—Bom dia, florzinha. —Ian abriu a porta do café pra mim, com seu sorriso radiante de sempre, antes de agradar a cabeça de Azeitona, que se esfregou nele. —Que carinha é essa, Hermione? Parece que um vendaval passou por cima de você.

—Ah... —Fiz uma careta, sem entender o que ele queria dizer com aquilo. —Dia ruim.

—Mas hoje é sexta feira, melhor dia da semana. —Ele me guiou até a mesa que eu sempre ocupava. —Logo, logo a Beca passa pela porta explodindo fogos de artifício. —Olhei pra ele com uma careta de novo, o que o fez rir. —Deixa pra lá, vou trazer o seu pedido. O de sempre?

—Sim, por favor. —Falei baixinho, vendo Ian já se afastando.

Me sentei no meu lugar e Azeitona se deitou no chão, ficando quietinho, como se também não estivesse em um bom dia. Enquanto aguardava aproveitei para ver todas as fotos da viagem que meu pai estava me enviando, assim como as mensagens da minha mãe, que não paravam de chegar e que eu fazia de tudo para evitar.

—Ei, oi. —Pietro colocou meu chocolate quente na mesa, assim como meu donuts repleto de morangos. Soltei um suspiro de felicidade, sabendo que precisava muito daquilo.

—Bom dia. —Olhei pra ele, franzindo a testa. —Você me colocou na cama ontem?

—Coloquei. Você dormiu e não acordava de jeito nenhum. Fiquei com medo de deixá-la no sofá e você acabar caindo e se machucando a noite. —Pietro deu de ombros. —Eu tranquei a porta e passei a chave por baixo da mesma.

—Eu vi. —Me remexi, um pouco sem graça por perceber que ele havia me carregado até o quarto. —Obrigado por ser gentil.

—Essa é sua forma de dizer que gostou de jantar comigo? —Indagou, erguendo uma das sobrancelhas, enquanto sorria.

—Oh, sim. Eu gostei muito do jantar. —Corei um pouco, desviando os olhos dele, quando percebi que ele continuaria me olhando. —Espero não errar quando for fazer pra minha mãe.

—Você não vai. Tenho certeza. —Ele olhou para a porta quando Rebeca passou por ela, com um sorriso muito grande nos lábios, cumprimentando todo mundo que estava pelo café.

—Pode ser sem vinho hoje? —Lancei meu olhar mais suplicante a ele. —Minha cabeça está estranha. Nunca fiquei de ressaca e não quero ficar de novo.

Pietro riu, enquanto passava as mãos no cabelo, tentando ajeita-lo.

—Talvez você precise de um café super forte e não de um chocolate quente. —Afirmou, apontando para o copo de chocolate quente. —Acho que você também não está acostumada. Mais de 4 taças não me derrubam facilmente.

—Não gosto de café. —Segurei o copo com as duas mãos, como se Pietro fosse tomá-lo de mim em algum momento. —Então...

—Não se preocupe. —Ele começou a se afastar para atender os clientes que chegavam. —Sem vinho hoje a noite. —Ele parou, olhou pra mim e sorriu. —E eu também gostei muito do jantar.

Pietro se virou com um sorriso nos lábios e eu o observei pelo restante do tempo que fiquei no café, como se não fosse capaz de desviar os olhos.


Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora