Capítulo 5: Harry Potter.

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Voltei a andar quando Azeitona choramingou de novo, puxando a coleira na minha mão. Olhei para Pietro e então desviei os olhos quando ele me fitou.

—Por que? —Indaguei, observando pelo canto dos olhos ele fazer uma careta.

Por que? —Repetiu, erguendo as sobrancelhas.

—Por que me ajudar a fazer um jantar pra minha mãe? —Refiz a pergunta, percebendo que ele não havia entendido.

—Ah! —Ele soltou uma risada e então fez uma careta de novo. —Não estava esperando essa pergunta. Eu não sei. Só... queria ajudar você talvez?

—Mas por que? —Insisti, observando ele pressionar os lábios em uma linha fina. O sorriso bonito havia ido embora de novo e eu percebi que não gostava quando isso acontecia.

—Bom, também não me dou bem com a minha mãe. Mas diferente da sua, a minha é desinteressada demais na minha vida. —Ele deu de ombros, soltando um suspiro lento. —Gostaria de ter uma relação melhor com ela e eu já tentei várias vezes. Então, já que a sua é superprotetora ao extremo, pensando pelo meu lado, acho que gostaria de te ajudar a ter uma relação boa com ela.

Balancei a cabeça afirmativamente, sem saber ao certo no que estava concordando. Pensando pelo lado dele, acho que não gostaria nem um pouco se minha mãe não se interessasse por mim.

—Sua mãe mora aqui em Aspen também? —Indaguei, aproveitando que ele não me observando a para olhá-lo com mais atenção.

—Sim, mas não na cidade. Ela mora na fazenda do novo marido. Vou visitar ela algumas vezes por semana. —Explicou, enquanto olhava para as pessoas que passavam ao nosso redor.

—E o seu pai?

—Hm... ele já faleceu. Quando eu ainda era criança. Não tenho muitas lembranças dele. Mas sei que ele me amava. —Ele olhou pra mim, me lançando um sorriso que não chegava até os olhos.

—Sinto muito. —Murmurei baixinho, me lamentando mentalmente por ter perguntado. —Meu pai está na Itália com a minha madrasta.

—Jura? —Agora sim o sorriso aumentou, fazendo as bochechas dele ficarem muito cheias. Acho que eu nunca tinha prestado tanta atenção assim no sorriso dele.

Será que as pessoas costumavam se apaixonar por sorrisos?

Sim. Ele está em Florença agora. Mas vai passar em outras cidades.

É uma cidade e tanto. Não tão bonita quanto Roma, na minha opinião. Mas tem seus pontos turísticos interessantes. A comida é... fabulosa. —Afirmou, me fazendo soltar uma risada, achando que aquilo era o tipo de coisa que um cozinheiro falaria. —Ei, você sorriu. —Fiquei séria, vendo ele me observando. —Percebi que nunca vi você sorrindo assim.

Assim como? —Indaguei, tentando entender.

Você é sempre muito quieta. Responde tudo com gentileza, mas nunca sorri e nunca se abre para conversar com ninguém que tenta falar com você no café. —Comentou, enquanto eu evitava olhar pra ele, já que sentia seus olhos e sua atenção toda em mim. —Agora você está aqui conversando comigo e está sorrindo.

—Não fui gentil com você ontem a noite. —Retruquei, mordendo o interior da bochecha.

—Você já disse que sente muito. E eu adorei o cacto, a propósito. —Ele fez uma careta. —Mas acho que nunca cuidei de um.

—Você só precisa deixar em um lugar que ele pegue sol em alguma parte do dia e molha-lo as vezes. Não muito. —Parei em frente ao meu prédio, percebendo que tinha chegado em casa mais rápido que o normal. —Eu moro aqui. Obrigado pela companhia.

Me virei para a porta, enfiando a mão na bolsa para procurar a chave.

—Disponha. Espero que goste dos cookies. —Pietro acariciou a cabeça de Azeitona, enquanto e destrancava a porta do prédio. —Se quiser que eu a ajude com o jantar, só me falar.

—Tudo bem. Mas... —Hesitei, deixando que Azeitona entrasse no prédio. —Minha mãe vai ficar uma semana comigo. Então acho que mesmo que eu a conquiste com um jantar, ela ainda vai querer que eu vá morar com ela.

—Então você conquista ela em todos os jantarem da semana. —Pietro ergueu as sobrancelhas, abrindo um sorriso com o canto dos lábios. —Estou livre aos domingos e a noite depois das 19 horas.

Ele piscou pra mim, enfiando as mãos nos bolsos da calça e então se afastou. Fiquei observando ele se afastar pela rua, antes de entrar no prédio e subir para meu andar com Azeitona. Uma coisa ele tinha razão, aquela foi a conversa mais longa que tive com alguém.

Entrei no meu apartamento, soltando Azeitona da coleira e deixando que ele fizesse o que costumava fazer depois de uma caminhada, dormir espelhado no meu sofá em frente a tv. Fui para o quarto, tirando meus sapatos e os colocando em um cantinho organizado.

Minha noite terminou embaixo das cobertas, com o terceiro livro de Harry Potter na mão —meu favorito, a propósito — e a caixa de cookies na outra. E eu havia gostado bastante deles. Gostado bastante mesmo.

[...]

Na quinta de manhã, dois dias depois da conversa mais longa que eu tive com alguém, percebi que talvez a ideia dele me ajudar não era ruim. Ele era cozinheiro. Muito bom, a propósito. E talvez a gente acabasse virando amigos. Minha mãe sempre reclamou do fato de eu nunca fazer amizades. Bem, não é algo tão fácil assim no meu ponto de vista.

Estava desenhando um flork comendo um cupcake em um post it amarelo pastel, quando Pietro depositou meu chocolate quente e o donuts na minha frente. Nos últimos dias, ele nem se preocupou em vir anotar meu pedido, quando eu via ele já estava se aproximado com meu pedido de sempre.

—Obrigada. —Ergui os olhos, mas desviei no mesmo instante, vendo que ele estava me fitando. Azeitona estava deitado ao lado da mesa e esfregou a cabeça na perna de Pietro, pedindo carinho.

—Gosta de desenhar? —Ele observou o pequeno papel com o desenho, enquanto acariciava o cachorro pidão.

—É só um flork sem graça. —Dei de ombros, escutando uma risada vir dele. Mordi o interior da bochecha e estalei meus dedos embaixo da mesa. —Você... você está livre depois das 19 horas hoje?

—Estou. —Ele ergueu uma das sobrancelhas, mas a atenção estava no bloquinho na sua mão, que ele rabiscava algo. —Pode pensar no que gostaria de cozinhar pra sua mãe e me mandar.

Ele arrancou o papel e deslizou pela mesa até mim. Observei ele deixar o papel onde o post it com o desenho de flork estava, trocando-os de lugar e ficando com meus rabiscos estranhos. Pressionei meus lábios ao ver que ele havia anotado seu número no papel e estava dando a mim naquele momento.

—Não vou atrapalhar você? —Indaguei, sentindo minhas bochechas corarem um pouco.

—Minha vida anda bem entediada nos últimos tempos, Hermione. Você vai deixar ela mais interessante, te dou certeza. —Ele sorriu pra mim. —E além disso, estartei fazendo o que eu gosto de fazer, cozinhar.

E com isso, ele se afastou para atender os outros clientes.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora