Capítulo 48: Se fosse mãe de verdade...

2.6K 358 129
                                    

Não sei o que está acontecendo, mas meu coração está queimando dentro do meu peito. Minhas bochechas estão molhadas e meus olhos fechados com força. Meus lábios parecem ter sido grudados um no outro, porque nenhum som sai deles. Minhas mãos estão fechadas em punho ao lado da minha cabeça, enquanto meu corpo treme no que eu acho ser vários soluços seguidos.

Alguém está segurando meus ombros, está me chamando, implorando pra que eu abra os olhos. Não quero fazer isso. Quero que eles parem de gritar um com o outro. Quero que ela pare de falar comigo daquela forma.

E os latidos de Azeitona não param. Um a cada segundo. Mais altos. Mais raivosos.

—Hermione... —Meu corpo foi puxado com força, com meu rosto foi pressionado contra algo firme, onde eu podia ouvir o som de um coração batendo muito rápido. —Hermione, por favor, fale comigo!

As mãos de Pietro estão me envolvendo com tanta força que acho que vou me desmanchar contra ele. Não consigo parar de chorar e soluçar. Não consigo abrir meus olhos. Quero ir embora dali. Quero me esconder e voltar a ser invisível.

—Meu bem, fale comigo. Por favor, olhe pra mim. —Ele deixou um beijo na minha testa. —Eu estou aqui. Só fale comigo.

—Vá embora, mãe! —A voz de Alfredo estava alta demais. O som percorria todo meu corpo como brasa, me fazendo estremecer. —Olha só o que você fez? Não está satisfeita já?

—Pare de falar assim comigo. Não posso fazer nada se a garota é toda errada e esquisita! —A voz dela faz meu coração de rachar.

Voltei a pressionar as mãos contra meus ouvidos, forte o suficiente para que Pietro não consiga tirar minhas mãos de onde elas estão. Mas ele não me solta mesmo assim. Fica me segurando como se eu fosse feita de papel. Como se eu fosse desaparecer.

—Chega! —A voz alta dele faz meus olhos se abrirem.

Estou encolhida no chão, com meus joelhos contra meu peito. Não lembro de ter ido parar ali. Mas Pietro está me abraçando, enquanto olha por cima do ombro, em direção aonde a mãe e o irmão estão.

—Esse apartamento é meu! Meu, mãe, você entendeu? Sou eu quem pago as contas e não você! —Exclamou, enquanto seus braços ficavam ainda mais firmes ao meu redor. —Quero que vá embora daqui. Quero que vá embora agora e não volte mais!

—Ficou louco? Eu sou sua mãe!

—Estou cansado disso. Cansado de tentar conviver com você e não ganhar nada além do seu olhar indiferente. —Ele se virou, deixando um beijo no topo da minha cabeça. —Se não respeita a minha namorada, então vá embora e não volte mais. Se quer me fazer escolher, então eu escolho ela. —A respiração dele está batendo contra minha testa, ofegante. —Vá embora daqui!

—Se eu sair por aquela porta, eu não volto mais! —Afirmou, enquanto meus olhos voltavam a se fechar, com o coração de Pietro martelando na minha cabeça. Estava tão rápido. Mais rápido que o meu.

—O que está acontecendo aqui?

Acho que nunca me senti tão aliada na vida por ouvir o som da voz da minha mãe. Tão baixo e calmo perto de todo o caos que está aquele lugar.

—Hermione? —A voz dela saiu apressada, enquanto eu ouvia o som de sacolas caindo no chão. —Filha? O que está acontecendo?

Quando vejo, ela já está abaixada na minha frente, me deixando presa entre ela e Pietro. Abri os olhos quando ela segurou meu rosto, erguendo-o ao mesmo tempo que me faz encara-lá.

—O que aconteceu, filha? Conte pra mim! —Pediu, erguendo os olhos para Pietro, que ainda não havia me soltado e para a mãe dele no meio da sala. —O que aconteceu aqui? O que vocês fizeram? Quem é essa?

—Essa é a nossa mãe, mas ela já está de saída. —Alfredo murmurou, enquanto eu me remexia para sair dos braços de Pietro.

—Hermione... —A voz dele foi interrompida pela da minha mãe, que ficou de pé com uma expressão que eu conhecia muito bem.

—Ela não vai embora até vocês me explicarem o que aconteceu aqui! Porque minha filha está chorando no chão e vocês estão berrando uns com os outros? —Exclamou, enquanto eu escondia meu rosto nos meus joelhos. —Azeitona, vai se deitar, agora! Azeitona, agora!

Ele finalmente parou de latir, fazendo um silêncio sufocante tomar conta da sala. Tenho certeza que todo o prédio conseguiu ouvir o que aconteceu aqui no último segundo, porque ninguém fez questão de falar baixo ou ser no mínimo educado.

—Estou esperando uma explicação! —Minha mãe falou de novo, quando todo mundo permeasse em silêncio.

—Quer saber? Você que lide com as consequências. —Ouvi os passos de Alfredo para perto de onde estamos. —Sinto muito, tia. Minha mãe desrespeitou a Hermione. Falou o que não deveria porque é uma maluca insensível!

—Você fez o que? —Minha mãe se virou pra ela.

—Sua filha não serve para o meu filho. Só estou protegendo ele. —Ouvi ela respirar fundo. —Ela escondeu dele que tinha autismo. Só está fazendo toda essa cena porque foi pega na mentira. Porque eu joguei na cara dela que sabia a verdade.

—Eu disse pra você não se intrometer! —Pietro finalmente me soltou, ficando de pé. —Por que não me ouviu? Por que você tinha que aparecer aqui e estragar tudo?

—Eu vim ver o Alfredo que estava doente!

—Ah, ora vejam só. —Minha mãe colocou as mãos na cintura, soltando uma risada. —Você é um excelente exemplo de mãe que se preocupa, não é? Seu filho estava desde ontem queimando em febre e você não deu um telefonema! E não venha dizer que é mentira porque quem ficou aqui cuidando desse menino foi eu! E só aparece aqui hoje, quando ele já está melhor. —Fiquei de pé atrás da minha mãe, esfregando minhas bochechas para limpar as lágrimas que não paravam de cair. —Não tem vergonha nessa cara? Se estivesse realmente preocupada tinha aparecido aqui ontem! Ontem, não hoje!

—Quem você...

—Eu não terminei! Eu venho aqui, cuido do seu filho, pra no final das contas você aparecer do nada achando que tem moral pra insultar a minha filha só porque ela tem autismo? —Acho que nunca vi minha mãe tão irritada assim, desde o incidente com Cameron. —Sua ridícula preconceituosa! Como ousa falar assim com ela? Como ousa tratar ela mal por isso?

—Eu não vou ficar aqui sendo insultada por uma desconhecida. —A mãe de Pietro já estava indo em direção a porta.

—Vá embora mesmo. Seus filhos não merecem ter uma mãe como você. —Ela parou de andar, olhando pra minha mãe com o rosto vermelho. —E se você abrir a boca pra falar da minha filha de novo, pode ter certeza que no dia seguinte a polícia vai estar na sua porta e você vai precisar de um bom advogado!

—Não me ameace!

—Isso é um aviso e não uma ameaça. Se fosse mãe de verdade, saberia que eu não estou brincando quando digo isso! —Minha mãe afirmou, erguendo a cabeça enquanto encarava ela sem nem piscar.

—Que cheiro é esse? —Alfredo olhou na direção da cozinha, enquanto eu sentia o ar se prendendo na minha garganta.

Pietro e Alfredo correram para a cozinha quando o cheiro de queimado invadiu toda a casa. Algo estourou e então a comida que estava na frigideira começou a pegar fogo sobre o fogão.



Continua...

Docemente Apaixonados / Vol. 1Onde histórias criam vida. Descubra agora