letters | wenclair

useless | Enid Sinclair

Enid acordou sentindo-se revigorada. Olhou para o buquê que colocara na mesinha ao lado da sua cama na última noite e sorriu abertamente. Wednesday Addams se declarou em francês para mim... E mais que isso! Ela quer me ver. Com esse pensamento, a loira pulou da cama disposta a se arrumar da maneira mais bonita que podia, para impressionar não apenas sua futura namorada, como também seus futuros sogros e cunhados. Só tinha um problema. Na verdade, dois. O primeiro era que recém era 7:30 da manhã. O segundo era que sua mãe ainda não sabia de sua saída repentina para a casa da colega de quarto. Enid bufou, indo para o banheiro para fazer sua higiene matinal. Teria que conversar com sua mãe.

Ao sair do banheiro, se dirigiu à cozinha onde pegou um pouco de cereal e logo foi em busca da mais velha. Estava nervosa, afinal de contas, a chance de sua mãe não deixar era de 50%. Ao achar a mais velha, Enid projetou sua melhor face de cachorrinho pidão e foi de encontro à ela.

- Mamãe... - Enid só a chamava assim quando queria algo.

- Bom dia, filha. O que tu já tá querendo? - Charlotte falou, num tom brincalhão.

- Então... A Wednesday, minha colega de quarto de Nervermore, me chamou pra ir na casa dela hoje... O motorista dela vem me buscar e tudo. Já tá tudo arrumadinho, é só tu deixar... - Enid olhou para a mulher demonstrando expectativa.

O rosto da mulher caiu por um segundo, Enid sabia o motivo. - Oh, meu bem... Tu sabe que por mim tudo bem, mas logo será o aniversário do seu pai... Aposto que ele gostaria de ti aqui.

A loira fez uma careta. - Não, nem pensar. Não quero ficar aqui pro aniversário dele e sei que ele vai dar graças a Deus por isso. - Enid falou tudo de forma descontrolada, perdendo a expressão de cachorro abandonado.

- Olha... Até quando vai ficar brava com seu pai?... Sabe que ele só fazia pelo teu bem... - Nem a Charlotte acreditava no que ela dizia.

- Pro meu bem? Desde quando praticamente torturar uma criança é pro bem dela?! - Enid perguntou indignada.

- Filha... Fica pro aniversário do seu pai, tá bem? Depois eu deixo tu sair o quanto quiser. - Charlotte passou a mão direita no rosto de Enid com um sorriso quase preocupado.

A garota loba apenas se virou e saiu marchando em direção ao escritório do seu pai. Não aceitaria aquilo de jeito nenhum. Justo agora que minha vida amorosa tá se encaminhando?! Não vou deixar isso acontecer por causa dele! Tudo de ruim é por causa dele! Sentiu lágrimas quentes de raiva escorrendo por suas bochechas. Abriu a porta do escritório do seu pai sem se importar, o homem estava lendo algum documento.

- Eu não vou deixar você estragar minha vida por causa do aniversário idiota! - Enid falou sem nem ao menos explicar o significado daquilo.

- O que?... - O homem largou o documento e encarou a menina, primeiro sua expressão era confusa, mas logo se tornou séria. - O que significa isso, Enid?

- Significa que eu vou à casa da minha amiga hoje e só vou voltar quando eu quiser! Tu não vai me impedir! - Ela sentiu sua respiração pesar quando o silêncio se fez presente após sua fala.

O homem arqueou uma sobrancelha, sentindo-se desafiado. - Eu poderia muito bem impedi-la de viver, se eu quisesse. Poderia impedi-la de ver essa sua amiguinha. Mas não vou. Sabe por que? Porque eu não me importo com sua presença. Você estando aqui ou não, sempre será uma decepção. - O homem falou num tom irônico, tirando sarro da garota à sua frente.

Enid sentiu o nó em sua garganta aumentar, aquelas palavras a atingiram em cheio. - ... Ó-Ótimo!... - Gaguejou fechando a porta e correndo para o quarto.