Capítulo 60

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Katherine

     Encarei Emory. Ela estava olhando para a porta pela qual Jake havia acabado de sair. Não parecia sequer tentada a ir atrás deles para impedi-los. Isso me surpreendeu e me assustou na mesma proporção. 

     — Emory... — sussurrei, e seus olhos se voltaram para mim. — A audiência... eles podem...

     Ela balançou a cabeça. — Eu posso participar da audiência sozinha. — afirmou, sem hesitação. — Eles não precisam estar lá, e se estiverem, o juiz não poderá considerar algo assim como relevante para um julgamento de herança e testamento. — ela falou, calma e direta, como se já tivesse pensado nisso antes. Sem brechas para discussão.

     Algo assim. Mas o que isso significa?

     Meus ombros caíram quando um suspiro escapou dos meus lábios. Ela estava totalmente de acordo com o que os seus irmãos pretendiam fazer. Seja lá o que fosse.

     Eu não conseguia ter a mesma tranquilidade. Depois do que vi nos olhos de Isaac, tenho medo do que ele será capaz de fazer quando ver Ian.

     Não que ele não mereça, mas a última coisa que eu quero é que Isaac ou Jake se prejudique por causa dele ou de mim.

     Emory pode estar certa sobre o julgamento, mas também pode estar errada. O senhor Clifford pode usar de qualquer erro deles para provar alguma ideia distorcida sobre o caráter de ambos.

     Eu não conseguia nem pensar nas consequências disso. No que eles podem se meter. Isaac, na verdade. Não acredito que eu estou pensando isso, mas, Jake pode ser o mais sensato agora. Ele não está cego de ódio como Isaac. Nenhuma raiva no mundo se compara com a que eu vi brilhando naqueles olhos cor de safiras.

     Levantei a cabeça e fitei Emory de novo. — A polícia. — exclamei, e ela piscou ao me encarar. — Eu vou denunciá-lo para a polícia. — porque parece óbvio agora que nenhum deles fizeram isso. Isaac queria resolver sozinho. Fazer justiça com as próprias mãos. Por isso a médica não parecia saber o que tinha acontecido comigo.

     As sobrancelhas de Emory foram se franzindo devagar. — Claro. Te daremos o maior apoio. Já esperavamos que você fosse. — ela parou, pareceu pensar um pouco enquanto estudava meu rosto. — Mas você sabe que até lá, Isaac e Jake já fizeram o que queriam com ele, não é? Jake não parou de procurá-lo, por ordem de Isaac, desde que você chegou no hospital. E agora que o encontraram... — ela apenas balançou a cabeça, deixando a frase morrer no ar.

     Suspirei, deixando ar escapar pela boca. Ela está certa. Mesmo que eu ligue agora para a polícia e denuncie, demorariam muito para achá-los. Isaac e Jake já teriam feito a merda.

     Deixei minha cabeça cair nas minhas mãos, cobrindo a careta de frustração que estava estampada no meu rosto. Deus, que nada aconteça com eles. Já não basta tudo que aconteceu nos últimos dois dias.

     Senti, mais do que vi, Emory se aproximar. Ela colocou uma mão nas minhas costas e sentou-se ao meu lado na cama. — Ei. — sussurrou, suavemente, e eu virei meus olhos para ela. — Não é com eles que você deveria estar preocupada. Olha o que você acabou de passar. Como ainda consegue pensar em outra coisa depois de tudo isso? — perguntou, com a voz baixa, acariciando minhas costas. Seus olhos pareciam preocupados e curiosos enquanto estudava meu rosto.

     Franzi de leve minha testa e olhei para o meu colo, para minhas mãos. — Eu... eu estou bem. — sussurrei, empurrando tudo de estranho e doloroso que eu estava sentindo, para um lugar escuro dentro de mim. Um lugar que eu não queria olhar agora. Que eu iria ignorar até não poder mais.

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