Capítulo 62

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Isaac

     Soltando um suspiro pesado, Jake se levanta do chão, limpando as mãos na calça jeans escura. — Tudo bem, eu dou uma olhada no filho da puta. — resmungou.

     Louis observou com os olhos alarmados de expectativa enquanto meu irmão caminhava até o corpo inerte de Ian.

     Eu também o seguia com os olhos, mas sem o sentimento de antecipação como Louis, e sim com uma expressão de tédio. Afinal, se aquele fodido estivesse respirando ou não, eu estaria infeliz de qualquer forma.

     Se Ian morrer, Jake e Louis pagarão caro. Por algo que eles nem queriam fazer. E eu jamais me perdoaria por isso.

     Mas se Ian ainda estivesse vivo... Porra, seria como uma pedra no meu sapato. Uma existência insignificante mas que incomodaria pra caralho. A ciência de que o cara que machucou Kit ainda estava respirando era algo que atormentaria minha vida por um longo tempo.

     Observei em silêncio meu irmão se agachar nos calcanhares, sujando as solas dos sapatos com o sangue que escorria e formava uma poça ao redor de Ian. Ele levou dois dedos ao pescoço dele e esperou. Nós esperamos.

     Foram os três segundos mais longos da minha vida. Até que Jake afastou sua mão e apoiou seus cotovelos nos joelhos. A sua cabeça pendeu para frente, entre os ombros, quando ele fechou os olhos com força. — Porra.

     Franzi as sobrancelhas.

     Louis arregalou os olhos e o desespero tomou sua feição. — Ele está morto mesmo? — indagou, sua voz soando alarmada. — Caralho, olha de novo...

     — Não preciso. — Jake interrompeu, e ele levantou a cabeça para nos encarar com uma careta. — O fodido está vivo.

     Silêncio.

     Então, um baque forte soou e eu girei minha cabeça para o lado, vendo Louis jogado no chão com as mãos no rosto murmurando o que parecia ser orações de agradecimento e maldições contra Jake e eu ao mesmo tempo.

     — Por enquanto, pelo menos. — Jake murmurou, e de novo, nossa atenção se voltou para ele. Ele ainda olhava com desgosto e raiva para o que sobrou de Ian. — O pulso está fraco. Se não for levado para o hospital agora, morrerá em minutos.

     Nem se eu pudesse, teria controlado o arrepio de satisfação que percorreu o minha coluna com essa possibilidade. Eu estava dividido entre o alívio e a frustração por saber que ele estava vivo.

     Teria que repetir para mim mesmo várias vezes a cada minuto que, pelo menos, Jake e Louis não iriam para a cadeia. Até essa vontade assassina deixar o meu corpo.

     Mesmo agora, olhando para o corpo ensanguentado de Ian, com ossos amostras e braços virados de forma errada, eu ainda sentia um fio invisível me puxando em direção a ele, sussurrando que eu devia terminar o serviço.

     O sussurro tinha a voz de Katherine, e embora eu saiba que ela jamais me pediria para fazer isso, ainda era tentador. Era real pra caralho.

     Com os olhos fixos nele, eu podia ver a leve e quase imperceptível elevação do seu peito quando ele respirava. Era lenta e fraca. Toda inspiração parecia ser a última pelo tempo que levava para o seu peito se mover de novo.

     O som do meu celular tocando me arrancou dos meus pensamentos de repente e eu pisquei, desviando o olhar. Quando levantei os olhos, percebi que Jake e Louis me encaravam em silêncio e com um olhar estranho.

      Deve ser porque eu estava com os olhos fixos no corpo de Ian como se ele fosse minha última refeição na terra. 

     Suspirando, ignorei os dois idiotas e tirei meu celular do bolso. Atendi a chamada assim que vi o nome de Emory na tela e levei o aparelho ao ouvido. — O que foi?

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