Capítulo 41

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Katherine

     Segurei a foto impressa e a levantei, para vê-la mais de perto. Emory e eu estávamos aqui já há algum tempo conversando e ela resolveu me mostrar algumas fotos da família que ela havia guardado. A que eu segurava agora, era uma de Isaac, ainda criança, ao lado de uma mulher mais velha. Os cabelos dela eram exatos da mesma cor que o de Emory e Isaac. Mas os olhos eram de Jake. Sua mãe.

     Deslizei o dedo suavemente sobre a superfície da foto, no rosto de Isaac. Ele agarrava a perna dela firmemente, com um largo sorriso no rosto. Seu cabelo estava na altura dos ombros aqui. Lisos, escuros e grossos. Seus olhinhos brilhando de felicidade. A feição da sua mãe demonstrava igual alegria. Ao contrário de Isaac, ela não olhava para a câmera. Olhava para ele.

     — Eles eram tão apegados. — ouvi Emory murmurar ao meu lado. Virei os olhos para ela e à vi observando a foto com um sorriso suave. — Sabe, Jake sempre foi muito independente. Nunca pedia ajuda para nada e gostava de resolver suas coisas sozinho. Eu era mais apegada ao nosso pai, por incrível que pareça.— ela riu um pouco, mas o som pareceu forçado. — Já Isaac... ele sempre foi o grude da nossa mãe. Amava fazer as coisas com ela, pedia a ajuda dela para tudo... — sua voz era um murmúrio com tanta emoção que doía o peito só de ouvir.

     Abaixei o olhar para foto mais uma vez. — Eu percebi pelo jeito que ele falou dela. Ela parece ter sido uma mulher incrível. — murmurei, encarando o brilho nos olhos da mãe de Isaac enquanto ela encarava seu filho.

     — E foi. — Emory sussurrou, — Só queria ter passado mais tempo com ela também. — quando sua voz engasgou um pouco, voltei meus olhos para ela. Seus olhos estavam marejados, mesmo enquanto tentava sorrir. — Seis anos não foi o suficiente para me fazer lembrar dos momentos com ela. Com o passar do tempo, os detalhes foram se apagando da minha memória. Eu não lembro mais o som da risada dela. Nem o cheiro dela. As vezes eu acho que se não fosse por essas fotos, eu não...

     Envolvi o corpo de Emory com os braços e a trouxe para mim quando ela não continuou, sua voz foi ficando cada vez mais baixa a cada palavra e então, simplismente sumiu. Ela deitou a cabeça no meu peito e abraçou minha cintura. Ela não estava chorando. Nem uma gota sequer caiu. Mesmo com a dor que obviamente ainda sente, ela não chorou. Acho que não é só fisicamente que os irmãos Clifford's se parecem. Apoiei minha bochecha no topo da sua cabeça e ficamos assim por um momento.

     Se fosse eu no lugar dela, já estaria me derramando em lágrimas. Não consigo falar da minha mãe sem chorar. Mas ela e Isaac, e eu tenho certeza que Jake também, considerando sua personalidade, não choravam na frente de ninguém. Percebi os esforços que Emory fez para não deixar a lágrima cair. E ela não deixou.

     — Isaac ainda não leu a carta dela, sabe? — a voz de Emory saiu abafada, por ainda estar com a cabeça apoiada no meu peito. Ela não me soltou, então eu também não. — E nem Jake.

     — Eu consigo entender. — respondi.

     Isso fez Emory levantar a cabeça para me encarar. Uma expressão confusa. — Entende? Por que? — perguntou. — É uma carta dela. A última coisa que ela escreveu na vida. Para eles.

     Abri um pequeno sorriso e inclinei a cabeça. — Você acabou de responder a sua pergunta. — quando sua careta ficou ainda mais confusa, continuei. — Até antes de você revelar esta carta, Isaac e Jake ainda achavam que poderia ter sido um triste acidente o que aconteceu com ela. Mas não foi. Mais de dez anos depois eles descobrem que ela havia escrito algo para eles, minutos antes de morrer, como forma de despedida. É o último vestígio dela. Um adeus definitivo. Eles sabem que lendo esta carta, as feridas antigas vão reabrir e eles vão chorar. Vai doer, Emory.

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