Capítulo 66

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Isaac

Cinco dias depois...

     Segurei o copo de vidro enquanto derramava uma boa quantidade do meu velho whisky, quase até a borda. Levei até os lábios e dei um grande gole, apreciando a ardência queimando minha garganta mas nem tanto quando ele chegou ao meu estômago vazio.

     Enchi o meu copo mais uma vez antes de me dirigir para a varanda da cobertura. Apoiei os antebraços no parapeito de vidro e encarei o líquido âmbar, vendo, por reflexo, as ruas lotadas de carros e pessoas andando de um lado para o outro lá em baixo.

     Era uma noite movimentada. E fria. A brisa gelada do vento estaria me congelando dos pés a cabeça se eu não estivesse totalmente vestido em um terno de três peças. Mas apreciava a corrente de ar no meu rosto.

     — Bebendo tão cedo? — ouvi a voz de Jake se aproximando.

     Suspirei, mas não me dei o trabalho de olhar para trás. — Preciso de álcool para encarar a festa de hoje. — falei calmamente, me referindo ao que nos aguardava na NRQ.

     Pelo canto do olho, vi Jake parar ao meu lado e imitar minha posição. Ele também já estava pronto, embora sua gravata ainda estivesse solta e pendurada em volta do seu pescoço. — Sei... e você está se preparando há três dias? — perguntou sarcástico.

     Fiz uma careta e parei o copo a centímetros da minha boca. — Eu não estou bebendo há três dias. — falei na defensiva, descendo a mão de novo e desistindo de dar outro gole.

     — Não há três dias, mas bebeu nos últimos três dias. — ele deu de ombros, porém o movimento estava longe de ser casual. — Não tem muita diferença.

     — Claro que tem.

     Jake suspirou. — Olha, você sabe que...

     — Que eu posso falar com você. Te contar qualquer coisa e chorar no seu ombro se eu precisar? — terminei o que eu já sabia que ele iria dizer. Já estava decorando de tanto que ele repetia. — Sim, Jake, eu sei. Obrigado.

     Ele segurou o meu pulso quando eu tentei levar o copo à boca mais uma vez e me fez encará-lo. Seus olhos brilhavam com emoções que eu não sabia decifrar. Bem, só uma, na verdade. E parecia raiva.

     — Não era isso que eu ia dizer, mas que bom que você sabe. — ele murmurou entredentes. — Sei que não é comigo que você quer falar. Não é de mim que você precisa agora. Mas ela...

     — Também não quero falar com ela. — o cortei antes que ele continuasse e me levasse de volta para um lugar onde eu não queria estar.

     Estava sendo doloroso e demorado, mas aos poucos, com o passar dos dias e com a ajuda do meu amigo âmbar aqui, estava conseguindo manter Katherine fora da minha cabeça por mais de três horas.

     O que era a porra de um recorde.

     Quem sabe o que eu conseguiria daqui uns meses?

     Jake estudou meu rosto por um momento, depois respirou fundo. — Odeio ver você assim, porra. — murmurou, dando um passo para trás e passando uma mão no rosto.

     — Eu estou bem. — dei de ombros, abrindo um sorriso torto. — Está se preocupando à toa.

     Ele balançou a cabeça. — É, estou vendo. — ele olhou para a sala de estar e depois voltou os olhos para os meus. — Você já leu a carta da nossa mãe? — perguntou, e desta vez, me pegou totalmente de surpresa.

     Desviei os olhos, negando com a cabeça. — Não. — respondi. — E você?

     — Não, mas... — ele hesitou, e foi impossível não olhar para ele de novo para tentar identificar o motivo da sua hesitação. — Depois do que aconteceu... sobre a escola, você sabe. Talvez fosse bom para você falar com ela.

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