Capítulo 64

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Isaac

     — Você está com uma cara horrível.

     Não levantei meus olhos do prato de comida quase cheio na minha frente, mas ouvi os passos de Jake quando ele deu a volta na ilha da cozinha. E, pelo seu tom de voz, eu sabia que ele estava me lançando uma das suas caretas.

     — Obrigado. — murmurei, revirando a comida com o garfo distraidamente. Estava há tanto brincando com ela que mais parecia uma papa agora. Uma papa de ovo, purê e bacon. Meu rosto se franziu em uma carranca.

     Quando já estava me dando enjoo olhar para aquela gororoba, suspirei e arrastei o prato para longe, recostando-me na cadeira.

     Não dormi a noite toda e agora não consigo comer nada. Devo estar doente.

     As minhas pálpebras estão pesadas e, antes de sair do quarto, fiz uma careta para o meu reflexo no espelho, vendo meus olhos vermelhos e com olheiras profundas. Lembro muito um zumbi quando não durmo direito.

     Após uns minutos, Jake sentou-se na minha frente com seu próprio prato e começou a comer vagarosamente. Ainda me lançando caretas e olhares de questionamento. Mas eu estava disposto a ignorá-lo. Talvez ele ficasse calado se eu também estivesse.

     — Sabe... — começou. E eu quase revirei os olhos. Claro que ele não ficaria. — Achei que você estaria feliz depois de ganhamos.

     — Eu estou. — disse secamente.

     Jake ergueu uma sobrancelha escura. — Estou vendo. — ironizou. — Nunca vi um rosto mais alegre do que o seu. Está radiante.

     Continuei sem expressão e ele bufou, balançando a cabeça. Observei enquanto ele voltava sua atenção para a comida e percebi que ele estava pensando em uma forma de me fazer falar.

     Seja lá o que fosse que ele achava necessário.

     Não menti para ele. Eu estava mesmo feliz por termos ganho. Estava aliviado pra caralho. Parecia que um peso do tamanho da estátua da liberdade havia sido tirado das minhas costas.

     Eu poderia finalmente sair de trás daquela mesa e começar a fazer o que eu sempre quis. Poderia dar aulas e realizar um sonho antigo.

     Como não estaria feliz?

     O problema era que, toda essa alegria estava disputando uma guerra dentro de mim com um sentimento de abismo escuro e vazio profundo, que ultimamente só crescia desde o dia em que Katherine me deixou. Ou eu deixei ela. Nem sabia mais.

     Embora a felicidade tentasse com resistência se sobrepor, a profunda escuridão engolia tudo e qualquer sensação boa que minhas células gerassem. Transformando-me neste trapo que vos fala. 

     Mas eu comemorei com meus irmãos. Quando chegamos em casa ontem, nós encaramos um ao outro e sorrimos de verdade. Sem câmeras e sem máscaras. Apenas nós. Emory foi a primeira a nos puxar para um abraço e ficamos enroscados em um aperto de seis braços por um longo tempo.

     Foi reconfortante. Senti paz e por alguns segundos, mesmo que poucos, consegui esquecer o mundo do lado de fora e aproveitei o momento bom com as duas das pessoas pelas quais eu daria a minha vida.

     Uma pena que tenha durado pouco. Assim que nos afastamos, embora eu tivesse conseguido manter o meu sorriso no rosto, aquela faísca de tristeza no meu peito começou a aumentar. Passando de um pequeno fiasco de luz, para uma chama grande e bem acesa.

     E só piorou quando eu entrei no meu quarto. O cheiro de tulipas que sempre me cumprimentava e me arrancava um leve sorriso quando ia para a cama, era como um gás tóxico para as minhas narinas agora. Doce, floral e suave. Mas que doía.

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