CAPÍTULO 2

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A coisa na porta

Elly

Salto da cama com um grito ensurdecedor vindo do andar de baixo.

Parte da minha mente queria acreditar que estava sonhando, que tudo aquilo era uma projeção da minha consciência. Mas a medida que descia cada degrau, outra parte repetia  "É a minha mãe, eram os gritos dela"

Nossa relação nunca foi de profundo afeto, na realidade, passávamos mais tempo brigando uma com a outra, do que sendo de fato mãe e filha. Mudavamos de casa mais do que trocavamos de roupa, era exaustivo, chato e nenhum pouco divertido.

Ela não me via como filha, sempre me culpou pela morte do meu padrasto...

Eu não tenho lembranças dele, não sei o que aconteceu nem a causa de sua morte... Talvez por isso eu sempre fosse assombrada com um pesadelo repetitivo...

—— Mãe. — Sussurro baixo, assim que coloco meus pés sob o tapete da sala.

O lugar estava escuro, sendo iluminado apenas pelo brilho das decorações de Natal, montadas do outro lado da rua.

— Você está aí mãe? — Chamo mais uma vez.

Silêncio... nada mais que silêncio. O som da chuva começando a cair era a única melodia a ser ouvida. Seria isso algo positivo? Estaria ela apenas dormindo? ... Ah sim, queira Deus que sim.

— Mamãe? — Chamo mais uma vez Sentindo um cheiro forte no cômodo pouco antes de apertar o interuptor.

Algo podre, um pouco famíliar, mas difícil de identificar...

—Ola ? — Ao ascender as luzes da sala, foi quando meu coração palpitou como nunca havia feito.

Meu professor de ciências estava com os pés sob a cabeça da minha mãe. Havia sangue por todo carpete, seu corpo se estribuchava com a dor do pisão.

Ele continuava a sorrir, com seus olhos brilhantes fixados aos meus...

— Olá Elly, te acordei querida ? — Ele sussurra pausadamente.

— Deixa a minha mãe em paz. — Imploro já com lágrimas aos olhos... Aquilo era culpa minha.

— Isso lá é jeito de tratar o seu professor? — Elle passa os lábios nos dentes. — Por que não se senta um pouquinho para nós conversarmos, que tal ?

Há algumas semanas eu vinha percebido um comportamento estranho por parte dos profissionais do colégio a qual eu estudava, era difícil de se explicar, como se todos mudassem de personalidade de forma repentina, e quase na maioria das vezes, eu me sentia no centro de tudo.

Faziam perguntas estranhas, onde moro, meu sobrenome, minha família... Nunca imaginei que dar aquelas respostas poderiam vir gerar um homicídio, sobre tudo da minha própria mãe.

— Elly, foge! — A voz nós lábios dela saiam junto a uma quantidade absurda de sangue. — Encontre-os... Encontre-o...

Quando as palavras roucas terminaram de sair, eu tinha certeza do seu pedido. Sabia que aquele seria um adeus, e talvez o pior de todos que um dia já imaginei ter de dar...

Dês dos meus 4 anos de idade, ela repetia a mesma coisa, inúmeras e diversas vezes : "Se um dia algo muito estranho acontecer, precisa encontrar os Winchester, eles podem lhe proteger de todo mal".

Durante os primeiros 5 anos que ela repetiu, eu apenas ignorei, levava aquilo como um tipo de mantra, talvez alguma coisa que ela dizia para me manter calma. Uma forma de dizer que eu tinha anjos da guarda.... Mas no meu último aniversário de 13 anos, soube que um deles era meu pai.

O mesmo pai que um dia tanto questionei a existência, mas nunca tive respostas...

— Encontre-o, fuja Elly, fuja daqui.

— Mamãe, eu... — Antes terminasse de falar o vejo estalar os dedos das mãos sem esconder o seu grande sorriso. E magicamente presencio o pescoço da minha mãe ser quebrado.

E foi aí que tive a mais pura convicção.  "seja lá o que fosse aquela coisa, com certeza não era meu professor de ciências..."

— Sinto muito pequena, sua mãe fala demais. — Seus olhos castanhos por alguns segundos ficaram amarelos, uma cor tão vivida que se tornava impossível de não notar.

mais que porra é essa... Um reptiliano?

Corro para o segundo andar mais uma vez, trancando a porta do quarto o mais rápido que pude. Não ouvi passos, muito menos qualquer mero tipo de ruído vindo da sala de estar.

E derrepente, lá estava ele outra vez, dentro do quarto, sem se quer ter atravessado a porta.

— Ora sua pequena tolinha, acha mesmo que pode fugir me mim ?

Meu corpo soava como se tivesse corrido uma maratona, o medo embutido com a dor de perder a minha mãe tomavam conta de cada parte de meu ser.

E mesmo  estando apavorada com tudo aquilo, de uma coisa tinha certeza, eu não queria morrer, e se houvesse uma forma de sair viva, por mais dolorosa que seja, eu estava dentro!

Foi então que joguei meu corpo contra a janela do quarto, se desfazendo em vários pedaços de vidro. Fechei os olhos torcendo para não ficar cega de alguma forma, e quando meu corpo acertou o chão, tive quase certeza que havia quebrado o ombro. Menso assim me levantei, e continuei a correr o mais rápido que pude.

— Por favor Deus, não me deixe morrer essa noite. — Choramingo como criança, passo após passo, salto após salto... Correndo por minha vida.

— Não se preocupe querida, nós iremos nos ver em breve, talvez muito antes do que você imagina. — Gritou a voz da coisa, se misturando a uma gargalhada grotesca.

Eu não tive forças nem coragem de olhar para trás, nada fazia sentido.... Seja lá o que fosse aquilo, não precisou se quer destruir a porta do quarto para entrar, como se possuísse uma magia de teleporte, podendo estar onde quisesse, a hora que quisesse.

E se aquilo era mesmo verdade, se aquela coisa podia sumir e aparecer em todo canto, por que permitiu que eu fugisse, por que não veio atrás de mim? por que não me matou no mesmo momento em que lhe dei as costas ?

Afinal, eu estava viva! mas como o meu desconhecido pai poderia me auxiliar em uma coisa dessas ?

Eram inúmeras perguntas, uma atrás da outra, todas sem resposta ou explicação. E quanto mais eu percorria aquela estrada, fraca, ferida e debaixo de toda aquela chuva, mas eu temia por minha vida. 

Minha Pequena Winchester Onde histórias criam vida. Descubra agora