PRÓLOGO

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Itália, Veneza, 9 anos atrás

A garota de dezoito anos andava pelas ruas escuras da Itália, sentada no asfalto com o corpo ensopado por conta da chuva, ela pegou um cigarro do bolso e o acendeu dando uma longa tragada prendendo a fumaça em seus pulmões. Ela sabia que não deveria fumar, mas no momento aquilo era a única coisa que poderia acalmar seus nervos. Ela também sabia que não deveria estar sozinha a noite em um lugar cheio de becos e bares com homens bêbados, mas ela não poderia estar ligando. Na verdade, fazia muito tempo que a garota não ligava para nada. E pra que iria?

Chasina D'Amico Circe havia perdido muito para uma garota de dezoito anos.

Seu coração? Estava destroçado.

Pais? Mortos.

Melhor amigo? Estava foragido ou morto em uma espelunca qualquer.

O primeiro amor? Morto.

Ela não tinha nada. E foi por isso que deixou sua cidade, sabia que estava criando um buraco negro e não queria levar sua irmã consigo, Mallory era a única coisa que a segurava nesse mundo. Não, não, de todos os males que já passou Chasina nunca deixaria nada acontecer com sua irmãzinha. Poderia estar longe, mas tinha olhos e ouvidos por todos os lugares, o que o dinheiro e a influência não podem fazer?

Um dia, pensou consigo mesma, ela faria todos se ajoelharem. Um dia ela conseguiria uma pessoa que fizesse seu coração bater novamente. Ela só não queria morrer até lá.

Algumas pessoas não sabem o cheiro da morte. O som. O sentimento. A garota pensou, olhando para as suas botas.

Mas a morte sempre esteve na vida dos seres humanos desde que habitavam as terras mais longínquas, a morte era um lembrete constante de que um dia tudo iria acabar. No fim nós apenas fazemos as coisas porque sabemos que vamos morrer, era o que ela dizia a si mesma.

Era estranho pensar que uma menina de dezessete anos já presenciou tantas merdas em sua vida. Já viu tanta gente morrer que sequer abala a garota mais, então, segundo suas experiências, a menina conseguia te dizer o cheiro da morte. O som. O sentimento.

O cheiro da morte é forte, o ferro presente em nosso sangue é o que mais destaca e é o primeiro que nossas vias respiratórias inalam.

O som da morte é como se fosse uma gota de chuva caindo. É tão rápido que as pessoas mal notam o estampido dos corpos ao cair no chão, mas também de uma sutileza incrível para aqueles que a veem. É rápido. É quase inaudível. A garota poderia dizer facilmente.

O sentimento quando você vê alguém que você ama morrendo, nem mesmo a menina dos olhos cinzentos poderia te dizer. É como se um buraco tivesse se instalado em seu corpo, sua pele se arrepia e sua alma fica atônita por alguns segundos que parecem horas. Seus olhos se arregalam e sua boca se escancara esperando um grito que talvez nunca saia. Então, o sentimento de ver alguém que você ama morrer é de longe algo que qualquer um poderia descrever.

Mas o que ela sentia era raiva. Uma raiva incontrolável que às vezes ela mesma não sabia dizer de onde ela vem... Na verdade, ela sabia sim. Vinha do passado. Das suas chances perdidas, dos sonhos destruídos e alma devorada. Chasina sabia muito bem de onde vinha sua raiva e, curiosamente, ela tinha um nome e um rosto o qual ela ainda não tinha consciência.

A menina soltou a fumaça do cigarro. Uma sombra apareceu em sua sombra, ela ergueu os olhos para uma mulher de quarenta anos. Sua expressão grotesca encarava Chasina com interesse como se ela fosse um filhotinho. Mal sabia, a mulher, que ali estava de longe uma das suas melhores criações.

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora