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CHASINA CIRCE

9 MESES ANTES

O sangue respingou pelas minhas roupas e inundaram minhas luvas. O corpo morto jazia ao chão, as pernas espalhadas e os braços abertos da mesma maneira misericordiosa que ele pediu clemência. Inclinei minha cabeça observando o sangue escorrer à medida que o ferimento se alojava em seu corpo, a bala perfurou seu crânio. Me agachei ao lado do corpo morto e com luvas eu afastei um pouco do cabelo de seu rosto, o homem de 50 anos parecia inofensivo por essa perspectiva. Inclinei minha cabeça, pobre Maurice.

Muitos tinham razões para sobreviver. Soberba, luxúria, amor, dinheiro, prazer.  Muitos dos tolos não pensavam que suas vidas poderiam ser retiradas facilmente, nossas vidas não eram mais que meros vidros que poderiam ser quebrados em poucos segundos, um erro irreparável.

Era o que aconteceu com esse homem; o poder o corrompeu. Felizmente ou não, eu não me importava nem um pouco. Apenas estava fazendo meu trabalho, mas um pequeno sorriso se instalou em meus lábios lembrando-me das coisas que ele tinha feito e o que sua morte iria causar.

O corpo seria retirado por um dos meus capangas confiáveis, enquanto ele não chegava eu peguei o anel de ouro em seu dedo que continha um brasão de uma caveira e guardei em meu bolso. O sangue, aquele cheiro familiar de sempre, não me incomodou.

Muitos tinham razões para viver.  Se me perguntassem a minha eu diria que nunca tive a chance. A oportunidade de sequer saber o que era viver. Eu parei de me sentir um ser humano minimamente normal há 12 anos. E eu sabia que eu nunca mais voltaria a ser.

O homem não iria fazer falta nesta vida.

No entanto, seria eu melhor que ele?

Seria seus erros tão irreparáveis quanto os meus?

(...)

O homem à minha frente tinha trinta anos de idade, seus cabelos eram curtos rente ao couro cabeludo, sua barba por  fazer fazia com que ele adquirisse certo charme, suas feições suaves e lábios rosados eram adoráveis. Nem parecia que era um mafioso com um clube de bordel enorme na esquina ao lado que lavava dinheiro sujo para os seus superiores.

O terno da Gucci esbanja seu dinheiro sujo assim como o relógio caro de ouro. Ele tinha uma aliança no dedo esquerdo, mas eu duvidava muito que a pobre mulher acreditava que ainda tinha um relacionamento monogâmico. Afinal, o homem não parava de lançar olhares para o decote reto da minha camisa de seda. Apesar da camisa ser vermelha com um decote e mangas longas, ele era totalmente fechado nas costas — não me lembro da última vez que usei algo aberto nas costas nesses últimos cinco anos. Seus olhos devoravam meus peitos, entretanto, ele não olhava diretamente para o meu rosto. No lado esquerdo, especificamente. Não era a primeira vez que nós nos encontrávamos, e com toda certeza não seria a última.

— Você entende, Sr. Valeira, que eu fiz o que o senhor pediu. Consequentemente, está endividado comigo? — digo em italiano.

— Sim — o homem sorri, mas seu sorriso desmorona do seu rosto quando ele limpa a garganta ao ver minhas expressões gélidas. — Eu sei da sua fama, tá bom? Estou ciente do que é estar endividado com você — um sorriso mordaz cruza o meu rosto. — Mas precisei que você fizesse isso. Ninguém suspeitou de você, e, se suspeitou, não seria louco de retrucar.

— Que bom que entende, Sr. Valeira — digo com a voz rouca olhando bem para os seus olhos. — Aqui está o pendrive com tudo o que me pediu, assim como o anel — passo o envelope. — Espero que não esteja brincando comigo, senhor. As consequências disso não seriam boas, eu posso te assegurar.

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora