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PASSADO

CHASINA CIRCE, 17 ANOS

Drogas, sexo, luta. Era um ciclo sem fim que a cada dia que passava em minha vida eu me afundava. Eu não conseguia mais distinguir o que era o presente, passado e futuro. Meus pensamentos inadequados demais, minha vida um caos. Fiz dezessete anos apenas uma semana atrás e hoje dia 7 de novembro é o dia em que meus pais morreram. Encolhida na cama com a coberta sob o meu corpo eu encaro a parede pensando sobre aquela noite. Pensando que se Mallory não tivesse ido atrás deles, talvez nada disso teria acontecido, eu sabia que não era justo pensar isso dela, mas havia essa parte egoísta e destrutiva de mim que ficava pensando "e se". A porta se abre, e minha irmã com quinze anos agora, se senta na beirada da cama.

— Sinto muito — todos dias nesse mesmo dia ela sempre profere essas palavras. Sua voz saiu trêmula e quando ela toca em meu braço, pela primeira vez na vida, eu me encolho. Mallory soltou um soluço se levantando. — Dora e Mich querem nos levar pra sair... a gente pode comprar alguma coisa e talvez jantar depois, que tal? Eu posso... eu posso comer até seu sorvete de pistache com você — ela odiava sorvete de pistache.

— Não quero sair, Mallory — minha voz sai nada mais que um sussurro.

— O que você quer? — ela questiona, eu encaro a parede branca a resposta brilhando em minha mente. Morrer. Eu quero morrer, Lily. — Eu... eu te dou tudo o que quiser. Igual você me dá tudo.

— Vá embora, Mallory — sussurrei. —Apenas vá.

Eu vejo ela hesitar, mas depois de alguns segundos ela sai, porque sabe que nada iria mudar. Meia hora depois, Dora entra do quarto e eu finjo que estou dormindo, ela não acredita, mas saiu de qualquer maneira porque sabe que não vai conseguir uma resposta de mim. O carro sai. Gaia provavelmente está em um clube agora, e estou sozinha, então eu me afundo. Horas se passam e eu vou para o banheiro. Pego minha gilete nova e a quebro pegando a pequena lâmina, sentada no vazo eu olho para os meus braços então eu corto a cicatriz que um dia havia se curado.

Chorando, eu corto. Corto. Corto. Sangue escorrendo por meus braços, soluços deixando minha boca e uma dor excruciante crescente em mim eu me corto. Mas a dor não me alivia como antes fazia, a dor não me alimenta e não me dá propósito como antes. O sangue escorre por todo o banheiro e eu ligo meu chuveiro. O vapor subindo enquanto eu encaro meus braços, apenas um corte pode acabar com tudo isso. Eu levanto a lâmina perto do meu pescoço, chorando e tremendo, eu coloco a ponta em minha garganta e por fim fecho os olhos.

É só cortar, é só cortar, e tudo isso vai embora. Você não vai sentir mais nada, você não vai sentir dor, tristeza, raiva e você não vai se odiar mais. Você vai encontrar o papai. Você vai ver de novo a mamãe. Você vai finalmente dormir, não vai ter pesadelos. Corta. Corta. Corta.

Apenas corta porra... quando minha mão se prepara para fazer o movimento a porta se abre em um rompante e Mallory entra.

Ela grita enquanto corre em minha direção e pega lâmina jogando no vaso e dando descarga. Eu me despedaço enquanto minha irmã mais nova me abraça chorando também.

— Tudo bem — ela chora dando fungadas para tentar se controlar. — Vai ficar tudo bem, Sina. Eu não... não vou te deixar — eu apenas sei tremer e chorar enquanto ela me arrastou para debaixo do chuveiro. Ela pega meu pulso molhando enquanto enrola ao redor de uma toalha. Ficamos ali por alguns segundos até Dora entrar e começar a ligar para a emergência correndo escada abaixo.

— Estou aqui — Mallory sussurrava enquanto tremia debaixo de mim. —Estou com você — ela dizia isso tantas vezes, com a voz trêmula enquanto me abraçava que eu achei que estava alucinando. — Eu te amo — sussurrou. — Te amo, tanto, irmã. — eu também a amava. — Eu sinto tanto — eu também sentia.

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora