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CHASINA CIRCE

As páginas de nossas histórias estavam finalmente acabando e era hora de dar adeus aos que partiram e refazer as pazes com os que sobreviveram. Por tantos anos esperei por esse momento, o momento em que eu poderia respirar sem dificuldade e sair na rua sem olhar para trás.

O sentimento de viver, após anos ter sentido que eu não estava vivendo, era libertador. Ainda havia aquela dor persistente no fundo da minha alma por aqueles que perdi, mas sabia que agora eu finalmente poderia olhar para frente e viver. Ainda sou a mesma menina perdida com uma dor profunda dentro do coração, mas essa menina sabe que agora, eu conseguiria seguir em frente.

Eu entro no apartamento de Kurt com passadas firmes, minhas mãos enfiadas dentro do meu sobretudo preto, o sol já se pôs e uma chuva forte caia pelo céu. Alex me ligou, o que foi uma baita surpresa, mas eu deveria saber que ele não me ligaria por livre e espontânea vontade. Olhei pelo vidro a cidade molhada e me virei dando de cara com Alex, ouvi uma cacofonia da cozinha da onde ele saiu, mas eu já estava ficando impaciente.

— Cadê Kurt? — minha voz saiu mais fria do que eu esperava. Alex ergueu as sobrancelhas.

— No escritório, está trancado lá há... — ele olhou para o seu relógio. — Quatro horas.

— E pensou em avisar isso apenas agora? — rosnei dando um passo à frente, ele recuou um para trás balançando a cabeça. — O que ele veio fazer aqui a propósito?

— Olha, é complicado ele não queria sobrecarregar você com e...

— Comigo — endireitei minha coluna e me virei para a voz em questão.

A mulher parecia, extremamente, com uma versão mais velha de mim e de Lily. Sósias... foi o que May me disse, mas eu não acreditava em coincidências. Olhei para os cabelos escuros, os olhos pretos, o corpo alto e elegante. Ela me encarava como se eu fosse uma sombra, como se estivesse vendo um fantasma.

— Você se parece tanto com ela que me dói — sussurrou. Eu não gostava de falar dos meus pais, não do jeito que eles morreram, não do quanto eu sou parecida, apenas não gostava. Me sentia violada ao pensar nisso. — Deus! Ela iria estar tão...

— Por favor, não faça isso — pedi em um sussurro. Ela parou de falar imediatamente. — Por favor — completei. Ela balançou a cabeça parecendo entender.

— Desculpe, não queria te chatear. Apenas... apenas me veio tantas memórias felizes deles e você... — ela limpou a garganta. — Eu sou a Lídia Circe — minha tia. Não me passou despercebido que ela não usou o Reed.

— Eu sei quem você é — limpei a garganta. — Sinto muito pelo que passou, sinto muito por não termos descoberto antes.

— Não pensem em mim como um fardo — ao dizer isso, Andrew apareceu atrás dela. — As escolhas de Levi foram feitas por ele, assim como suas consequências. Isso não é culpa de vocês.

— Mãe... — me choquei ao ouvir isso sair da boca de Andrew, ele não chamava a própria mãe biológica de mãe, percebi então, que o vínculo com Lídia deveria ser muito mais profundo do que imaginei.

— Mas não é! — retrucou ela, Alex sorriu levemente e eu me virei.

— É — eu disse ao passar do seu lado. — Deveríamos ter feito algo, não fizemos, não desconfiamos mesmo sabendo da maldade de Levi. Mas eu posso te prometer uma coisa — olhei dentro do seus olhos e inclinei a cabeça. — Ele vai morrer pedindo o seu perdão, isso eu posso te garantir — a mulher engoliu em seco e eu apenas me virei entrando no escritório.

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora