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CHASINA CIRCE

Quando pequena, geralmente, sempre me distoei das outras crianças. Talvez fosse por conta do meu jeito peculiar de ser direta, meus pais nunca mentiram para mim, bem, pelo menos em certos aspectos. Se eu perguntava o que era a morte, eles falariam. Se eu perguntava da onde eu vim, da maneira mais abrangente eles iriam abordar o assunto sexo. Meu pai sempre foi cético, e gosto de pensar que levei para minha vida inteira que a verdade e aceitar a realidade eram caminhos certeiros.

E, naquele exato momento, eu sabia que não sairia viva daqui. Eu não conseguiria ter o tempo que May iria querer e certamente Lin iria me ver morrer, minhas pupilas iriam encontrar meu corpo, minha irmã teria que ir em meu enterro e Kurt iria observar tudo isso.

Talvez fosse por isso, que eu queria uma despedida. Talvez fosse por isso que eu o encarava como se fosse a última vez que ele me veria, porque Kurt sabia tão bem quanto eu que nada disso iria acabar bem. Seu pai não fazia a mínima ideia de que seu filho é casado e que esse papel que ele quer que eu assine não vale de nada, porque Kurt já selou todos os destinos das pessoas presentes aqui.

Eu o amava, era fato, era a coisa mais verdadeira e pura que poderia admitir. O amava demais. Então, talvez ignorando as consequências disso, as palavras que saíram em minha boca em seguida não doeram tanto quanto eu deveria.

— Leve-me — disse, para ninguém em específico. — Leve-me e lhe daria tudo — Kurt se virou bruscamente em minha direção e Lin deu um grito abafado contra sua boca tampada. — Leve-me e deixe-os ir, somente assim, farei tudo o que quiserem.

Levi pareceu bastante satisfeito com isso porque sorriu para Gaia e Mich deu de ombros, Lídia me encarava perplexa do chão, talvez porque eu acabei de trocar minha vida pela a dela. Então, olhei para Kurt.

O que meu querido esposa não sabia é que eu estava pronta para a morte há muitos anos. Nascer, viver, reproduzir e morrer é o que os humanos fazem, eu? Eu sabia que iria morrer muito antes de constituir uma família ou poder ter vivido direito. Kurt merecia viver mais, ser feliz e amado. E eu teria certeza disso.

— Acordo feito? — sussurro, olhando uma última vez para o menino dos olhos de caveira.

— Feito! — ralhou Gaia. Os capangas me seguraram fortemente enquanto soltavam a mordaça de Lin e empurravam Lídia para Reed que pegou a mãe em seus braços, ela parecia que iria desabar completamente.

Ela me encarava como se eu fosse um fantasma, o que eu entendia porque sempre fui extremamente parecida com minha mãe. Mas naquele momento eu tinha apenas pena da mulher, ficar mais de uma década encarcerada deveria ter sido... minha linha de raciocínio perde completamente quando chutam atrás do meu joelho e eu caio para frente, rangendo os dentes para não gemer de dor por conta do meu joelho.

Kurt se move rapidamente em minha direção, mas um guarda para na sua frente e é tão rápido que eu quase não vejo e nem ouço ele destravar a arma e atirar bem na testa do homem que cai morto no chão. Com isso, eu sinto o metal frio em minha têmpora.

— O quanto você gosta dela? — ronronou Levi. — Vamos ver, não é mesmo? Considere isso como uma punição por tudo o que fez.

Eu já sabia o que viria, eu já sabia que o sangue que escorreria por mim, a dor causada seria unicamente para fazer Kurt sofrer. Eu queria dizer que não era para ele chorar, ou sentir raiva, mas quando já vi minha visão estava nublada, meus pulsos atados, gritos distantes de Lin e sangue escorrendo por mim.

— Pare com isso! — urrou Kurt, pisquei entre o sangue acumulado em meus olhos. — Pare com isso, porra! Você vai matá-la.

— Mas nós vamos — disse Gaia dando de ombros.

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora