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KURT REED

Sinto que meu jogo virou totalmente. Não, merda, eu tenho certeza. Eu deveria saber que ela não iria seguir minhas regras, Chasina não obedece ninguém a não ser ela mesma, e se o que eu vi lá dentro foi parte do seu treinamento tenho certeza que estou completamente fodido.

Por alguma razão, eu pensei que seu trabalho não iria ser tão sujo assim. E eu quero me bater por ter ficado obcecado e até mesmo excitado com tudo isso. Meu Deus, porra.

Como pode a vontade de querer ela embaixo de mim se transformar rapidamente na vontade de matá-la. Eu liguei para todos, Andrew, Morgan, Hayden, Alex, Cathy... a chamada não foi nem mesmo para a caixa postal, foi desligada. A única que chamou e caiu na caixa foi a de Mallory, e isso me aliviou bastante. Chasina não machucaria sua irmã. Eu acho... não posso mais prever seus movimentos ou sequer o que se passa em sua cabeça e isso me irrita demais, sempre pude ler as pessoas, não importa o quão fechadas elas são ou quão astutas.

A mulher está tranquila ao meu lado enquanto olha para as árvores que não passam de meros borrões, os cabelos soltos e a roupa cheia de sangue trocada, todas as vezes que eu liguei para cada número eu vi que ela sorria levemente. Não sei se estão todos mortos, ou machucados, mas eu realmente espero que não, apesar de ter feito exatamente isso com o garoto dela. Como ela descobriu sobre o subsolo, eu não sabia, porém admito que não estou nem um pouco surpreso. Nesses 15 minutos de carro até o meu prédio me imaginei jogando ela para fora do carro ou simplesmente pegando a arma e atirando em seu rosto, devo dizer que cada pensamento foi tentador. Tudo ficaria mais fácil assim.

Talvez sim. Talvez não.

Meu treinamento não foi completamente diferente do dela, eu aprendi tudo o que eu sei quando meu pai me iniciou nessa vida. Eu não era um garoto talentoso, porém esforçado, porque no fundo eu sabia que queria ser o melhor e queria tirar o meu pai do poder. E o esforço ganha do talento, todas às vezes. Respiro fundo tentando controlar minha ansiedade quando passamos pelo portão e entramos para a garagem direto para o subsolo, meus soldados acenam de seus postos e quando saio do carro eu perco a razão. Prenso Chasina na coluna de cimento, meu sangue latejando de raiva e algo mais... medo. Medo de encontrar todos mortos. Por minha culpa. Eu não podia fracassar com eles, inspiro e respiro controlando minhas emoções, eu não podia me deixar quebrar agora. As pessoas que estão lá dentro precisam de mim.

Seus olhos austeros com essa cor cinza peculiar me encaram sem emoção alguma, seria eu uma pessoa má se eu matasse alguém que parecia não ter um pingo de alegria pela vida? Porque parecia isso. Parecia todas as vezes que Chasina não quer viver, que não quer estar nesse mundo, e que apenas quer concluir seu objetivo e depois desaparecer e cair em um lugar tão profundo e escuro que nada irá ajudá-la. Ela é meu reflexo de quando era mais jovem, quando eu era adolescente. Eu sei a sensação. Mas o que eu tinha eram pessoas ao meu redor, e ela também pelo visto. Por que querer ser assim? O que lhe falta?

Seus olhos encaram os meus, e ficam ali pelo que parecem uma eternidade. Sua pele emanando aquele cheiro refrescante e doce ao mesmo tempo, sua respiração superficial batendo em meu rosto. Seu olhar se suavizou por um segundo, e ali eu vi o olhar de uma garotinha perdida e com medo. Eu vi uma criança ali que não teve infância e as cicatrizes que o mundo lhe deu.

Somos tão diferentes, mas tão iguais ao mesmo tempo.

O destino a colocou em minha vida assim do nada? Ou nossas histórias têm raízes tão profundas que em algum momento tudo se cruzou, e eu ainda não percebi. Ela parece tanto minha mãe, ainda me lembro da primeira vez que a vi e achei que estava louco por estar vendo um fantasma. A pele pálida, as bochechas côncavas, os cabelos pretos... é possível que eu tenha deixado algo passar?

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora