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CHASINA CIRCE
PASSADO, 20 ANOS

Eu estava no Complexo há dois anos e apenas agora May me deixou ir em uma missão. Isso era um recorde na verdade, as pessoas demoravam mais de quatro anos para sair de campo e fazer uma missão. O meu lar por agora não era identificado e apenas o Governo sabia da existência e não se metia, recebíamos propostas anônimas de matar entre outras coisas por pessoas poderosas e perigosas. O preço dos trabalhos são muito altos, isso banca tudo lá dentro e até mesmo o salário que recebemos. Algumas tarefas eram difíceis, outras, mais tranquilas.

Eu não fiquei surpresa por a minha ser praticamente uma baboseira de me certificar de limpar a casa e certificar que não tinha ninguém que a tivesse visto. A hierarquia aqui era algo bastante respeitado, então pessoas mais velhas (não necessariamente pela idade) sempre ficavam com a parte divertida enquanto os "novos" limpavam a sujeira. Não importava o seu nome e dinheiro, diante dos guardas e de May você era apenas uma pupila que deveria acatar as ordens e segui-las senão seria punido.

Cindy, Olly e Ester são meus acompanhantes da vez. E apesar de já ter se passado dois anos da minha primeira briga com Cindy — houve muito mais — eu tinha que engolir a birra e conviver com o peso morto que ela era. A casa não era nada demais para os meus padrões, dois andares com um jardim bonito e piscina. O casal que vivia aí dentro eram corruptos e tinham vários inimigos, pelo perfil que eu peguei quando fui estudar, eles tinham apenas um filho. Cindy conversava com Olly enquanto entrávamos na casa, eu apontei para os dois corpos que jaziam ao chão.

— Cale a porra da boca e joga algo inflável neles — eu gostava de irritar Cindy, principalmente dando ordens. A menina revirou os olhos.

—Pegue essa atitude e enfie no seu rabo, que tal? — ela sorriu e eu levantei minha mão.

— Ei! — disse Olly levantando as mãos enluvadas. Cindy lançou um olhar furioso para ele. — Vamos, Ester e eu vamos ajudar com os corpos. Chasina vai verificar se tem câmeras e merda do tipo. Jogue gasolina, Cindy.

Não que elas iriam sobreviver com o incêndio, mas melhor prevenir do que remediar. Dando uma última olhada, eu vaguei pela sala, cozinha, jardim. Por fim, subi as escadas checando o quarto do casal e do filho, ele deveria estar agora em um orfanato... parei meus passos quando eu vi olhos caramelos me encarando assustados. A criança que deveria ter 10 anos me encarou e se escondeu debaixo da cama quando eu olhei de volta para ele. Franzindo o cenho, eu me agachei e deitei no chão vendo o menino. Seus cabelos pretos bagunçados e roupa esfarrapada.  O que ele estava fazendo aqui?

— Oi — eu disse meio sem jeito. O menino se encolheu. — Está tudo bem, eu não vou te machucar — continuou em silêncio. — Seus pais...

— Não! — ele sussurrou, se encolhendo ainda mais. — Por favor, não chame os meus pais. Por favor.

— Por quê? — eu certamente não diria a ele que seus pais estavam no momento mortos na sala de estar. — Saia e eu não vou te levar para os seus pais.

O menino pensou por alguns segundos, e se rastejou para ficar ajoelhado à minha frente. Com os olhos arregalados e com hematomas por seu  pescoço, eu olhei para os seus braços vendo marcas de agulhas e cicatrizes de cigarros em sua pele. O menino estava chorando baixinho, abraçando o pequeno corpo, os olhos esbugalhados e com olheiras.

— Por favor... — soluçou. — Não me leve para mamãe ou para o papai. Não quero que eles me toquem...

— Eu não vou — sussurrei, afastando uma mecha do seu cabelo enquanto meu coração quebrou. Ele relaxou um pouco. — Qual o seu nome?

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora