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CHASINA CIRCE,

PASSADO, 16 ANOS

Consegui ter a aprovação de quem você quer tanto conquistar é difícil. Chamar atenção para ter o mesmo carinho que sua irmã tem, é difícil, ainda mais quando você é sempre vista como a problemática da família. Você sempre foi a amiga que por trás de todos os seus sorrisos, escondeu os choros. Você sempre foi a irmã que esteve ao lado da família, mas quando comete um passo errado, tudo cai sobre você.

Porque você xinga.

Porque você se tatua.

Porque você não abraça e diz que ama a pessoa.

Você é a errada.

Você é a insensível.

Voce é a folgada. A chantagista. A mentirosa.

Eles não veem o que você tenta, tenta ser a filha perfeita. Tenta ser a menina perfeita, ter as melhores notas, ter o melhor corpo, ser a melhor em tudo. Mas no fundo, você sabe que não é. É uma máscara, é a cortina sobre seus sentimentos que de tanto usar parecem verdadeiros, porque no fundo sabe que está tão perdida e sozinha. Até que um dia você parou de tentar, parou de ser a perfeita, parou de querer ser aprovada porque sabe que nunca será aceita.

Mas isso, isso é culpa da adolescência; é o que os adultos dizem.

Não é culpa de suas palavras afiadas que cortam profundamente sua pele, não é culpa de seus atos e olhares, não é culpa deles não te notarem. A dor cresce, mas não há nada para salvar a si mesma porque você já se afogou. Então você procura atenção em outros lugares. Pior erro que pode cometer.

Doce garota, por que choras?

Doce garota, por que se esconde?

Doce garota, por que sorri sendo que quer chorar?

Doce garota, por que finge?

Porque quero ser amada. Quero ser notada. Quero ser invencível. Quero provar a eles que não sou o que eles pensam, sou melhor. Sou a melhor. Serei a melhor. Em tudo.

Sentada no asfalto da nossa casa, eu observo pela janela da cozinha do meu vizinho minha tia se ajoelhar e desabotoar a calça de um juiz. Ele é casado e tem um filho, Gaia falou que iria ver uma exposição que eu faria na escola.

Eu gosto de desenhar, então mesmo que ela tenha falado que minha arte é inútil e provavelmente seria um horror, eu fiz a exposição. E esperei. Porque no fundo fiquei feliz que pelo menos ela iria aparecer. Uma hora se passou, duas, três, até que a escola fechou e eu tive que voltar para a casa. No momento, ainda estou parada aqui vendo minha tia escolher chupar um homem do que ver a arte que sua sobrinha com tanto trabalho fez.

De repente um garoto se senta ao meu lado, seus cabelos são dourados de um modo cobreado, a pele branca e cheia de sardas. Olhos verdes gentis, mas profundamente tristes. Doce garoto, por que é tão triste? O que acontece com você dentro daquela casa?

Ele se senta ao meu lado e coloca os cotovelos sobre o joelho, olhando para a janela não faz nenhuma careta de surpresa ou mágoa, apenas o vislumbre de uma vasta escuridão. Imagino que não seja a primeira vez que ele vê o seu pai nessa situação, e assim como eu, sabe que não será a última.

— Sua mãe?

— Tia — respondo olhando para o chão.

— Família problemática?

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora