KURT REED
Meu pai sempre dizia que os fracos eram covardes e aqueles que não regiam o que tinham com punhos firmes uma hora iria perder tudo. Quando pequeno tomei consciência logo cedo que os negócios da família não eram certos, ele sempre fez questão de me ensinar tudo desde criança. Na verdade, pensando bem agora, parecia até uma piada. O sangue estava nos laços da família Reed desde os primórdios. Nós roubamos, matamos, torturamos...
Para comandar o que temos eu tinha que ser frio, calculista, discreto e firme. E apesar do meu doador de esperma não ser um dos mais exemplares, para minha infelicidade, ele conseguiu perfeitamente moldar o seu herdeiro. Não importa por quais maneira e caminhos ele fez. Para ele eu não era mais do que uma boa máquina, fui criado para ser perfeito, fui criado para não errar nunca, mas uma vez que eu cometi um erro paguei as consequências. Mesmo sendo um adulto na época, nunca vou me esquecer qual foi o preço que eu paguei por não ter feito o que ele tinha dito.
Sempre pensei que para renovar, a pessoa tinha que morrer primeiro. As questões sobre isso eram óbvias e nítidas, eu tive que pagar o preço para aprender, e cinco anos depois eu executo perfeitamente a jogada que ele nunca conseguiu. Levi Reed nunca perdeu um jogo, mas eu prometi a mim mesmo que faria isso com ele. Eu tinha o que ele não tinha: pessoas leais a mim. Pessoas que se importam comigo e que iriam ao meu funeral, porque mesmo que eu fosse filho dele, eu nunca iria me ajoelhar diante do meu pai. Nunca iria me render a ele e submeter igual ele fez comigo a vida inteira, uma pessoa tentou dar um basta nisso, agora está enterrada a sete palmos abaixo do chão.
Na cama da cabine do jatinho eu olho para a sua mensagem.
Levi Reed: Preciso dos relatórios da empresa para essa semana, não fodidamente atrase.
Arquivo sua mensagem enquanto me levanto olhando pela janela, pousamos há alguns minutos. O voo em si foi tranquilo e rápido, visto que eu passei a maior parte do tempo dormindo para recompor meu sono, tirando o problema do outro lado da porta, tudo estava bem. Me levanto e me arrumo rapidamente e saio da cabine apenas para me deparar com uma Mallory ainda dormindo enquanto o pessoal tirava a bagagem, Chasina e seu cachorro não estava a vista em lugar algum, deduzi que poderia estar no banheiro.
Eu me sento do lado da minha cunhada que tinha acabado de acordar da sua soneca, os olhos azuis cristalinos me encarando suavemente enquanto se senta no assento e vê pela janela. Ela sorri contente.
— Foi tudo bem, você não acha? — diz baixinho coçando os olhos. Eu não diria a Mallory que em minha percepção não foi, e que ter sua irmã ao nosso lado não era um bom presságio.
— Sim — eu aceno com a cabeça. — Você conseguiu o que queria.
— Sim... — ela suspira pesadamente. — Eu só a quero ao meu lado, Reed. Não quero que minha irmã se afaste de mim. Ela só está quebrada.
— Pessoas quebradas são perigosas — digo olhando para os os seus olhos que ficam tristes.
— Vai dar tudo certo, Reed — ela diz pensativa. — Eu consegui achar ela, eu consegui trazê-la de volta. Ela está cedendo. Aos poucos ela vai voltar a ser a irmã que ela era.
— O que você disser, boneca.
Eu sabia mais, Chasina não havia voltado para o benefício da sua irmã. Por trás de tudo ela voltou porque viu que isso iria favorecer ela, Circe é uma pessoa calculista e que não deixaria os sentimentos interromperem suas ações.
Ela está planejando meticulosamente seus passos há cinco anos, as mortes, os avisos, nenhum deles eram apenas porque ela queria. Tinha algo muito maior, muito mais perigoso, e muito mais fatal. No fundo, Mallory sabia disso. Somos partes do jogo dela.
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DARK ANGEL (FINALIZADO)
RomanceCinco anos atrás Chasina Circe cometeu um erro terrível. Por sua culpa e por seu descuido uma pessoa que ela tanto amava morreu. Corroída pela culpa, a menina dos olhos cinzentos fugiu de Wilmington e desde então ninguém mais ouviu ou viu ela. Burbu...