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CHASINA CIRCE

Aquele seria o dia em que tudo o que trabalhei durante anos acabaria. Aquele seria o dia em que três pessoas morreriam, ou talvez duas. Ou mais, mas eu deixaria isso para me preocupar depois.

Me permiti acordar com calma e fazer amor com Kurt novamente, se fosse a última vez que eu fosse vê-lo, pelo menos teria dito tudo a ele. Não iria cometer o mesmo erro de não dizer tudo o que eu queria para os meus pais ou para Dora.

Então eu segurei Kurt pelo tempo que eu conseguisse, eu disse tudo o que queria para ele.

— Por que está parecendo uma despedida, Circe? — sussurrou olhando fixamente para meus olhos ao mesmo tempo em que acariciava meus cabelos.

— Não posso dizer o quanto eu te amo? — brinquei, apoiando meu queixo em seu peito. — Não posso brincar com meu marido? — seu peito roncou com uma risada grave.

— Não, não pode quando eu sei que algo está acontecendo aqui — ele bateu na minha testa levemente, logo acima da cicatriz. Kurt roçou seu nariz contra o meu em uma carícia lenta. — Consigo escutar seus pensamentos, querida. Pensei que já sabia disso.

— Eu sei que pode — beijei seus lábios. — Não é atoa que eu odiava você — seus lábios se abriram em um sorriso grande. — Não seja arrogante, bello.

— Eu posso ser arrogante — dei uma risada quando ele nos girou na cama. — Tenho tudo o que eu quero na vida. Uma mulher bonita, dinheiro, uma família, diga-me o porquê não ser arrogante com isso? — acariciei seus cabelos, pensativa.

— Sou muito feliz por ter te conhecido, sabe?

— Querida...

— Preciso que faça algo para mim — cortei, não querendo ouvir suas palavras. Kurt acariciou minha cicatriz.

— Qualquer coisa.

Depois de contar o que queria e fazer com que Kurt me prometesse que faria o que eu disse, eu me levanto e pego minha bolsa pegando uma caixinha que eu não abro há anos. Sento ao seu lado e respiro fundo, Kurt se enrolou nos lençóis e se sentou ao meu lado.

— Dora me deu isso no natal antes de morrer — digo, minha voz trêmula. — Sei que Lily tem um e que usa diariamente — eu abro a caixinha que revela dois colares de prata. — Mas nunca tive coragem de usar porque toda vez que eu olhava para isso, me lembrava que eu falhei com ela e não merecia seu presente — eu pego as duas correntes finas, uma com o cordão maior, na ponta o pingente de dragão com olhos de rubi brilhantes. — E também porque faltava uma... coisa.

— O quê?

— Dora me disse para dar isso para a pessoa que eu confiasse com todo o meu corpo, e que eu amasse com todo o meu coração. Sei que minha irmã deu a outra metade do dela para Andrew, na época eu não tinha ninguém para dar isso, e eu iria cumprir seu último pedido — eu abro o colar e coloco nele. — Achei a pessoa.

Nossos olhares se encontram e eu sorrio para ele, timidamente. Kurt abriu a gaveta do lado da cama e pegou uma caixinha também, ele abriu revelando um anel de ouro branco com um pequeno rubi em cima.

— Comprei isso depois que assinei os papéis do "acordo" sobre nosso casamento — ele girou a aliança. — Fiquei com tanta raiva na época porque você me tirava do sério e eu achei que tinha feito uma decisão equivocada, mas então voltando para casa vi isso na vitrine da joalheria e soube que era seu — ele pega minha mão esquerda e coloca em meu dedo. — Não houve um dia sequer que eu me arrependi das minhas decisões em relação a você. Talvez apenas uma: a de não ter admitido a mim mesmo que era você desde início e isso teria nos poupado anos.

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora