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PASSADO

CHASINA CIRCE, 16 ANOS

Talvez meus pensamentos sempre tenham sido sombrios demais.

Talvez eu já tenha nascido sem alma igual as pessoas alegam, mas elas nunca param para pensar que talvez tenha havido ações para essas consequências. Não foram poucas.

Talvez aqueles que tanto me julgam primeiro deveriam olhar atrás da cortina, mas eu sei que não vão. Afinal ninguém nunca perguntou ao bicho papão o porquê dele se esconder embaixo da cama, muitas vezes a história é triste demais para ser conhecida, e por isso eles julgam. Eles não têm coragem de ver o mundo feio que eles vivem e por isso eles fecham os olhos.

Eu nunca fechei os meus. Minha vida era uma bagunça, eu sou uma bagunça. De qualquer forma, isso não era problema dos outros para se preocupar ou lidar. Hoje foi um daqueles dias que eu estava sobrecarregada, sentada no sofá da casa da tia Gaia eu mexia na televisão esperando algum filme bom que aparecesse para me distrair. Eu não tinha dormido nada.

Minha irmã estava deitada com a cabeça em minhas coxas enquanto dormia profundamente, no fundo eu sentia inveja do seu sono. Seus cabelos escuros com alguns cachos espalhados, sua respiração calma e cílios trêmulos. Eu queria poder ter isso. Queria conseguir deitar e dormir assim, mas sei que não é tão fácil para minha irmã devido aos constantes pesadelos que ela tem desde os treze anos.

Dora apareceu no hall de entrada da casa com os cabelos vermelhos presos, e os olhos castanhos cheios de carinho enquanto via a cena à sua frente: Mallory babando em mim e eu ficando irritada por não achar nenhum filme. Seu corpo pequeno e cheio se moveu para a cozinha, rapidamente ela voltou com um prato cheio de cookies e uma garrafa de água.

Ela colocou a minha frente enquanto acariciava a bochecha de Lily que se aconchegou nela como se fosse um gatinho.

— Não estou com fome — eu disse, ela nem mesmo piscou.

— Você nunca está — era verdade, mas eu não queria preocupar Dora. — Mas vai comer esses cookies para me deixar feliz.

— Agora, por que eu faria? — questionei olhando-a de soslaio, vi um sorriso em sua boca. Ela deu um beijo na bochecha de Lily e se virou para mim, me dando um na testa.

—Porque eu te amo. E você me ama, fazemos sacrifícios para as pessoas que amamos — assim ela saiu da sala. Eu olhei para os cookies na bandeja e para a garrafa de água.

Olhei para a porta, depois para minha irmã em minhas pernas. Por fim, peguei um cookie e comi. Achei um filme bom. Quando fui ver não restava mais nada no prato.

PRESENTE

A cabeça de Black descansava descontraidamente em minha perna enquanto eu digitava sem parar no laptop em meu colo. Eu distraidamente acaricio atrás da sua orelha enquanto passo por alguns arquivos importantes.

Meu pai se chamava Cole D'Amico Circe e ele foi o fundador das empresas D'Amico, um legado que foi passado de pai para filho, no meu caso, de pai para filha. Desde criança sei que fui preparada para assumir a empresa do meu pai que consiste em uma multinacional, encarregada do transporte de petróleo.

Mas era tudo uma fachada, a empresa na verdade foi criada para possibilitar o tráfico de armamento militar e drogas por todo os EUA. Ele comandava a parte Sudeste do país, comandava os nove estados, ou seja, sabia de tudo e todos. Quando ele morreu o advogado do papai nos encontrou, ele disse que eu tomaria posse de tudo quando eu tivesse 21 anos e até lá seria uma cooperadora da empresa.

DARK ANGEL (FINALIZADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora