CAPÍTULO SETE
O Diário de Edward Kaspbrak VII
(Continuação)
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12 de maio.
Drácula me contou sobre a viagem, como eu havia pedido; me deu detalhes, fez comentários pessoais, disse sobre as próximas que faria, no entanto apenas na estação seguinte, enquanto eu ouvia tudo atentamente e fazia várias perguntas, afim de prolongar aquela conversa o máximo de tempo possível, quanto mais eu pudesse mantê-lo distraído, seria melhor. De alguma forma, tentar conhecer mais sobre ele e sua natureza teve sobre mim, uma espécie de anestesia contra o medo que sentia dele, me fazia querer ainda mais entrar no jogo dele, tentar entender seu propósito ou até onde ele poderia chegar.
— (...) Eu particularmente prefiro mil vezes viver por aqui, ou em minhas outras propriedades em províncias mais afastadas, do que na cidade; não imagina a tortura que é para mim.quando viajo a outros países, e preciso ficar hospedados nas cidades grandes. Toda aquela movimentação, barulheira, aglomeração e insalubridade, me deixam perturbado. — Levou o cálice até a boca, consumindo mais um gole de vinho. — Sou um homem bem vivido Sr. Kaspbrak, já vi coisas demais, porém não consigo me acostumar com o ritmo de aceleramento das grandes capitais, o crescimento exacerbado da população, e a modernidade tomando conta do mundo, com uma tal de tecnologia.
— Mas Conde, — eu sorri, terminando de comer e limpando a boca. — Estamos vivendo na era das grandes revoluções, há pouco tempo atrás houve a revolução industrial na Inglaterra, que se estendeu até à America, as máquinas já estão tomando conta do trabalho braçal, até mesmo na Alemanha, esse sistema está sendo implantado aos poucos, por um lado é bom, pois assim diminui a taxa de mortalidade dos trabalhadores por acidentes nessas grandes fábricas, no entanto, por outro lado... As máquinas estão tirando oportunidades de emprego de muita gente, apesar de ser um trabalho beirando a escravidão, era o “ganha pão” de muitas pessoas, seria bom se houvesse um sistema que pudesse favorecer a todos de forma igualitária... — bebo o resto do vinho em meu cálice também.
— Acredito que esse problema provenha de inúmeras divergências, tanto políticas quanto religiosas; a ciência e a religião estão em pé de guerra o tempo inteiro, e sabe qual a diferença entre ambas? — balancei a cabeça de forma negativa. — Simples, a ciência nunca foi um atraso ao mundo, muito pelo contrário, fez com que ele chegasse até onde estamos, e vai evoluir ainda mais, embora que eu não consiga acompanhar e me agradar, ainda sim, é um regozijo a mim saber que estão surgindo mais pessoas intelectuais para questionar, e bater de frente com essa porcaria de “antropocentrismo”.
— Então, o senhor acha que a religião é um atraso no mundo?
— Não, não acho, tenho certeza. — Me olhou. — O temor do homem a esse cujo “Deus” (indicou aspas), fez com que ele temesse ao que não conhecia, ou àquilo que não é mencionado nos livros sagrados, desse modo, o tornou praticamente selvagem, fez com que caçasse e aniquilasse todos aqueles que não estão de acordo com a “imagem e semelhança” do seu criador divino, tão divino que abandona suas queridas criaturas quando mais precisam, e implantou a ideia de que: para você ser digno de chegar até ele, precisa adora-lo e temê-lo dia e noite, até mesmo lhe faz ir contra sua própria natureza. Caso o contrário, o inferno será seu futuro lar. Que maravilha!
Sorriu de forma sarcástica, eu fico calado por um tempo analisando suas palavras, ele dizia aquilo com tanta ironia, que era visível sua raiva ao divino, e já era de se esperar, visto que ele é uma criatura das trevas, algo que ainda não consigo compreender tão bem assim.
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DRACULA
Vampire"Sínico, atraente, e temível. Creio que, essas sejam as definições perfeitas para aquele que é conhecido formalmente como: 'Conde Drácula', do qual não se trata de um Conde como outro qualquer, mas sim; de um ser sobrenatural que foge completamente...