CHAPTER VIII

713 73 318
                                    

CAPÍTULO OITO

Leonor Von Arco.

 
   

13 de maio.

Assim que deixei o quarto, mergulhei na escuridão daquele corredor, não havia um só ruído, nem sinal de vida presente. Por um instante, até cheguei a acreditar que estava sozinho — algo que me deu uma leve sensação de alívio — no entanto, isso passou no mesmo instante em que desci a escada, e me apresentei ao grande salão de jantar.

Vi Drácula repousando à mesa, lendo seu exemplar de Contos Noturnos, no que já estava quase no fim do livro; ele lia tranquilamente, estava próximo à cabeceira da mesa, em que era o “meu” lugar de fazer as refeições. Percebo que ele não se importa nenhum pouco em me seder o lugar principal da mesa, na minha casa, e na maioria, o lugar principal da mesa sempre é ocupado pelo patriarca, os demais ficam à sua volta, como em uma hierarquia, em contragosto, o Conde não parece se importa nem um pouco com isso. Mais uma tradição que ele foge completamente.

Pensei que ele não havia notado a minha presença, contudo, assim que me aproximei ainda mais tomando meu lugar, o mesmo disse calmamente, ainda sem me olhar:

— Boa noite Sr. Kaspbrak, soube que ficou trancado o dia todo, sequer deu sinal de vida...

— Eu estava me sentindo indisposto. — Não respondo seu cumprimento, nem irei!

— E também não fizera questão de dar nenhuma satisfação aquém deva. — Completou sua frase anterior, destacando que e eu o interrompi. — Em sua casa, nunca o ensinaram que isso é bastante rude? Pelo o que sei, Frank é um Aristocrata, me admira que seu herdeiro não tenha noção básica de educação.

Virou a página do livro, descruzou as pernas apenas para trocar as posições, colocando dessa vez a esquerda por cima da direita, sem nem dar ao trabalho de me encarar, e embora seu tom sejasse de repreensão, ainda havia um toque de escárnio presente nele. Ele estava me provocando, isso era evidente! Tive que engolir o seco e contar até cinco mentalmente.

— Passei o dia indisposto, como disse, e também não tive fome. — Respondo com a voz um pouco baixa, enquanto estou fitando meus próprios pés. — E na minha casa fui sim muito bem educado.

— Não é o que percebo.

Eu havia cerrado os punhos fortemente, mas não queria perder o controle, por isso, respirei bem fundo de maneira silenciosa, engolindo todo meu orgulho, e respondendo com o máximo de calma que consegui forçar:

— Hm, confio que me perdoará Conde, o senhor tem razão, eu não tive modos, — forcei um sorriso. — Não irá mais acontecer, pode ter certeza.

O mesmo que até então estava concentrado nas páginas do livro, ergueu o olhar até mim, posso estar equivocado, mas vi claramente uma micro expressão de desapontamento, como se esperasse outra resposta, isso me fizera dar um sorriso interno de satisfação. Foi quando percebi que ainda estava ali em pé e parado feito uma estátua, automaticamente me sentei, tentando fazer as coisas com o máximo de pressa possível, meu prato já estava servido (como sempre) tudo como de costume, e também acreditei que ele iria me presentear com sua desagradável companhia, em contrapartida, o mesmo endireitou a postura, descruzando novamente as pernas longas, se pondo de pé e dizendo:

— Sim, claro. — Sorriu forçado. — Quando acordar assim, acredito que não seja difícil avisar ao criado, devo lembra-lo de que: não está mais em sua casa. E aqui, eu gosto de me manter muito bem informado sobre as coisas... — Fechou o livro, isso me fez desviar o olhar e encarar meu prato à frente. — Agora, quero que coma bastante, para recuperar as energias que perdeu, afinal de contas... — Ele havia rodeado a cadeira e sussurrou em meu ouvido, me fazendo tremer de raiva: — Sou um homem exigente Sr. Kaspbrak, e gosto de comer apenas coisas saudáveis.

DRACULAOnde histórias criam vida. Descubra agora