PARTE UM:
Sobrinha do rei de Orion, Antonella Lawrence cresceu sob rédeas tão curtas quanto as de qualquer membro da família real Greenhunter. Apesar de a possibilidade de sua ascensão para uma posição mais alta na linha de susceção ser baixa, ela n...
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Detesto quando as coisas chegam a este ponto e, geralmente, faço de tudo para que a minha companhia da vez entenda que sou dela só por um curto período e que não quero nada sério. A maioria entende isso muito bem e nós nos curtimos por uns dias e depois nos despedimos com bons termos, mas sempre surge alguma que, sabe-se lá por quê, sofre da síndrome da Bela e acredita veemente que domará a Fera e me fará mudar de ideia quanto ao que penso acerca de relacionamentos sérios.
Obviamente, um grande desperdício de tempo e esforço de ambas as partes e, para o meu azar, Donna é uma mulher dessa categoria. Ela não cedeu aos meus distanciamentos propositais ou cortes indiretos de uma aproximação maior entre nós, então está agora mesmo com um sorriso no rosto enquanto vasculha o cardápio da cafeteria Begônia Rouge, sem parecer fazer ideia do motivo que me fez trazê-la aqui.
Não sei se ela é ingênua ou se apenas não lê as fofocas a meu respeito por aí, mas o fato é que Donna está agindo como se estivéssemos em um encontro qualquer e não em um princípio de desastre.
"Acho que pedirei uma torta de nozes, apesar de estar preocupada com as calorias...", ela pondera enquanto eu a observo. "Mas essa parece ser a opção menos calórica e sempre posso ficar sem jantar. Qualquer coisa, nós também podemos dividir. O que você acha, Aid?" Ela ergue o olhar do menu por um momento e sorri diretamente para mim.
É agora, penso. Se não disser agora o que tenho para falar e fingir simpatia até o final, vai ser pior. Já tive experiências demais assim para agir quase no automático quando respiro fundo, fico reto na cadeira e encaro Donna com seriedade:
"Desculpe, mas acho que não vou poder fazer isso".
Ela franze as sobrancelhas em um sinal de confusão, embora o sorriso ainda esteja congelado nos seus lábios.
"Está de dieta?".
Essa é minha confirmação de que ela não vai entender se eu ficar só falando nas entrelinhas.
"Não, é que você não vai querer dividir nada comigo quando souber porque a trouxe aqui".
"Eu não estou entendendo...".
"Por favor, não me ligue mais. Nós não vamos voltar a nos ver depois de hoje, Donna", vou direto ao ponto. "Ou talvez a gente até se veja, mas você vai rosnar para mim ao invés de sorrir e eu vou fingir não te conhecer".
"O que...", ela parece um tanto atônita. "Do que está falando agora? Eu te fiz algo que você não gostou?".
Essa é a parte mais difícil de tudo. Nenhuma das mulheres com quem saio pode me acusar de desonestidade, porque, ao abordá-las, sempre digo que vamos ter apenas uma noite ou duas juntos. Nada sério. No entanto, as mulheres como Donna, que acreditam na mudança de ideia, sempre querem um motivo para isso não acontecer e eu nunca tenho um. Pelo menos não um que não as deixe mais bravas, já que o único motivo para eu fugir de um compromisso carrega o nome de Mary Ann e o título de minha ex-namorada.