64. INOCÊNCIA?

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Sinto-me como se a minha mente estivesse desconectada do corpo e mal capturo o caminho que faço do apartamento dos meus pais até o hospital, com minha mãe tentando me fazer voltar à razão aos berros toda vez que excedo a velocidade enquanto dirijo

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Sinto-me como se a minha mente estivesse desconectada do corpo e mal capturo o caminho que faço do apartamento dos meus pais até o hospital, com minha mãe tentando me fazer voltar à razão aos berros toda vez que excedo a velocidade enquanto dirijo. Todavia, não me importo com o fato de que acabarei multado no futuro, porque dirigir em uma velocidade perigosa me ajuda a me manter concentrado na atividade, colocando à distância todas as vozes que ecoam dúvidas na minha cabeça acerca do estado do meu avô.

Um lado meu quer acreditar que foi algo imprevisto e que não passa de um susto, mas outro, o que já vinha estando desconfiado das suas atitudes, cada vez mais se convence do pior. Mesmo depois de ter implorado diversas vezes para não me esconder o seu estado de saúde, conheço Maxwell e sei muito bem que é exatamente isso o que ele faria, se estivesse passando por agraves em seu quadro médico, como venho desconfiando. E saber disso me deixa dividido entre me repreender por não ter insistido mais em fazê-lo admitir a verdade ou ficar com raiva do meu avô por esconder algo tão sério. Duas coisas que me fazem ter certeza de que não quero pensar nisso agora, então apenas dirijo.

Trinta minutos depois, mamãe e eu estamos no andar VIP do hospital, após sermos direcionados para ele pela recepcionista. É no ambiente comum de espera, o mesmo em que estive há algumas noites por causa de Antonella, que encontro meu pai junto de Aeryn e Kyle.

"O que ele tem?" A pergunta me escapa antes de qualquer cumprimento, assim que percebo o estado de Aeryn, cujo rosto levemente corado e inchado é marcado por lágrimas. "É algo grave?".

As batidas do meu coração ecoam em meus ouvidos e olho de um para o outro em busca de uma resposta que nenhum deles parece querer me dar enquanto a tensão se apodera de mim e me transforma em sua marionete. O desespero passa a preencher o vazio e o distanciamento se esvai, tornando tudo ainda mais real. De repente, Aeryn não é a única com lágrimas nos olhos, embora eu me esforce para não derramar as minhas.

"Ele está estável agora...", Aeryn começa, mas, por algum motivo, ela não parece muito confiante do que diz.

"O doutor Edgar falou conosco há alguns minutos. Disse que foram sequelas da pneumonia de um ano atrás", explica meu pai que, sabe-se os Ancestrais como, consegue se manter calmo. "Ele vinha tendo dores no peito e dificuldade para respirar, mas não levou a sério e não procurou ajuda. Passou mal enquanto almoçávamos e então o trouxe para cá e iniciaram os procedimentos de emergência. Os pulmões estão comprometidos e ele vai precisar ficar um tempo em coma induzido, até que possa respirar sozinho de novo".

Eu sabia! O velho mentiu para mim. Veio percebendo que estava doente, mas fingiu que não e só os Ancestrais sabem desde quando ele se sentia assim...

Fico tão dividido sobre me sentir aliviado que vovô esteja fora de perigo imediato e traído por sua mentira que acabo me afastando sem falar nada a ninguém, porque não me sinto capaz de falar algo sem que acabe magoando alguém. Então apenas vou para o outro lado da sala e me sento, imerso nesse sentimento dúbio e desconfortável.

SOBRE A REALEZA E PAIXÕES ACIDENTAIS - ATO I Onde histórias criam vida. Descubra agora