Antonella dispensa o seu motorista alegando que a levarei para casa após tomarmos um café juntos e, apesar do olhar que ele a lança ser preocupado, a Lady garante que ficará bem. Então nós dois seguimos no meu carro para a cafeteria da minha família, com seus guardas pessoais nos seguindo, o que, admito, é um pouco estranho e intimidador.
"Desculpe por isso", Antonella acaba percebendo que fico olhando para o outro veículo através do espelho-retrovisor. "Sei que pode ser incômodo para quem não está acostumado. Na verdade, mesmo estando acostumada, admito que acho incômodo às vezes".
"Está tudo bem".
Sei que eles não estão atrás dela à toa. Se não fosse pela ação de Arietta e os outros dois quando Neal a abordou, por exemplo, Antonella provavelmente teria passado por um problema maior. Sem falar que, na última vez em que ela saiu sem eles, acabou se metendo em uma grande encrenca no Anarquia e, posteriormente, na Starry Night.
Por isso, tento disfarçar o meu estranhamento ligando o rádio em uma estação de hip-hop, o que também serve para nos tirar do silêncio entre nós.
Por algum motivo, hoje a Lady Lawrence está mais reflexiva e me pergunto se é por causa de Dom Quixote, pela polêmica dos vídeos na pista de dança ou por mim. Será que ela está incomodada sobre fingir que o beijo nunca aconteceu?
Olho para Antonella brevemente, mas ela está mirando a janela e não consigo ler o que se passa pela sua mente. Apenas acrescento à minha lista mental que os seus pensamentos também podem ser acerca de David e do que aconteceu entre os dois. Será que ele conseguiu se desculpar e ela o perdoou?
Não pergunto nada em voz alta.
Quando enfim nós chegamos ao Begônia Rouge, é só então que temo ser mal interpretado pelo meu pai como fui pelo meu avô ao estar na companhia de uma dama da corte. Todavia, John não está à vista e não consigo deixar de acreditar em tamanha sorte. Por mais que saiba que não há nada, além de amizade, entre Antonella e eu, não quero que ela comece a se incomodar com as paranoias dos Kannenberg sobre mim.
Estou pensando nisso quando levo Antonella até uma mesa mais afastada e um dos funcionários de meio período, um rapazinho de cabelo castanho, olhos sonhadores e aparelho nos dentes aparece só sorrisos para minha acompanhante.
"Você voltou", ele não parece fazer a menor ideia de quem ela é para ser tão informal e me pergunto como.
"Ah, oi. Como vai?".
"Bem, senhorita. Café amargo e Browne de doce de leite, como sempre?".
Antonella sorri por ele lembrar de seus gostos, mesmo que seja óbvio que ele lembraria quando está claramente a fim dela, o pirralho.
"Por favor".
Eu pigarro quando o rapaz está anotando o pedido no tablet, fazendo com que ele perceba que ela não está sozinha e me olhe com certo desagrado velado.
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SOBRE A REALEZA E PAIXÕES ACIDENTAIS - ATO I
RomansaPARTE UM: Sobrinha do rei de Orion, Antonella Lawrence cresceu sob rédeas tão curtas quanto as de qualquer membro da família real Greenhunter. Apesar de a possibilidade de sua ascensão para uma posição mais alta na linha de susceção ser baixa, ela n...