75. ERA UMA VEZ UM CORAÇÃO PARTIDO

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O luto não é um sentimento que faz parte do meu dia a dia

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O luto não é um sentimento que faz parte do meu dia a dia. Apesar de já o ter experimentado e presenciado antes, quando meus avós e conhecidos morreram, eu era muito nova ou distante daqueles que partiram para entender que, para alguns, a dor em volta da perda é tanta que se torna difícil de suportar.

Agora, mais velha e madura, aprendo que isso acontece da pior forma ao presenciar Aiden se fechar cada vez mais na própria mente e na própria angústia. Apesar de estar ao seu lado fisicamente, sinto como se ele estivesse a léguas de distância e, embora esteja tentando fingir que está tudo bem, sei que não está.

Eu estou pisando em ovos, morrendo de medo de dizer ou fazer algo que o magoe, então apenas fico quieta, esperando por alguma reação sua.

Faz quase dois dias que nós dois viemos para o seu apartamento no meio da madrugada e, desde então, Aiden apenas dormiu e ignorou qualquer tentativa minha de fazê-lo comer, o que é uma das partes mais frustrantes de estar ao seu lado e não poder fazer nada para ajudar.

Achei que, quando ele telefonou à minha procura, minha presença o ajudaria de alguma forma, mas agora eu já não tenho tanta certeza disso quando ele não come nada, não toma banho, não fala comigo e apenas dorme, ignorando completamente que a vida continua para ele.

Eu me sinto um lixo por pensar que Aiden deveria ser mais forte e enfrentar a perda, mas o que mais posso pensar, além disso? O avô dele se foi e, por mais cruel que seja, a vida realmente continua e me assusta que Aiden permaneça recluso porque a sua dor é tanta que ele preferia que a vida não continuasse.

Eu estou me sentindo tão péssima comigo mesma, completamente perdida nessa situação, que já nem sei se choro em razão da morte do sr. Kannenberg ou por sentir que estou perdendo o meu namorado e não consigo vislumbrar nada que possa ser feito para evitar.

Mais uma vez, eu volto para a cozinha com a bandeja intocada da refeição que levei para ele no início da noite e a coloco sobre a pia, sentindo os olhos ardendo com lágrimas não derramadas.

O que eu faço agora? A pergunta ressoa na minha mente, fazendo meu queixo tremer pelo esforço de não cair no choro de novo. Mais cedo, a mãe de Aiden telefonou para avisar que a cerimônia fúnebre será amanhã, mas, quando lhe passei a informação, ele apenas assentiu, virou na cama e voltou a fechar os olhos.

Eu devo avisar para mais alguém que ele está neste estado? Mas a quem, considerando que todos os seus parentes também estão tendo que lidar com o próprio luto e as responsabilidades envolvendo a Starry Night acabaram caindo sobre os ombros de Julian?

Efetivamente, não há mais ninguém e isso está me enlouquecendo.

Devo parar de agir de maneira compreensiva e tratá-lo com mais dureza? Parece uma opção cabível, mas eu não estaria agindo como eu mesma, quando estou longe de ser uma pessoa que exige que alguém engula o próprio sofrimento porque não consegue lidar com ele.

SOBRE A REALEZA E PAIXÕES ACIDENTAIS - ATO I Onde histórias criam vida. Descubra agora