PARTE UM:
Sobrinha do rei de Orion, Antonella Lawrence cresceu sob rédeas tão curtas quanto as de qualquer membro da família real Greenhunter. Apesar de a possibilidade de sua ascensão para uma posição mais alta na linha de susceção ser baixa, ela n...
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Apesar do jantar transcorrer sem mais comentários ácidos ou qualquer indício de incêndio entre os presentes, eu não consigo comer e acabo o jantar com mais fome do que quando ele começou.
"Você está bem?" David acaba me perguntando entre uma colher e outra da tortilha de amoras silvestres, que foi a sobremesa escolhida pelos noivos.
Apenas assinto, sentindo o peso da mentira. Não sei porque estou tão preocupada quando tudo está tranquilo, mas não consigo evitar.
Felizmente, David não insiste.
Assim que os pratos das sobremesas são retirados, mamãe volta a conduzir os convidados para o salão de recepção para um chá, mas eu não os sigo.
Resolvo aproveitar que estou aqui para procurar indícios que me ajudem com a história de Chrysanthème, o que pode me distrair da minha atual tensão. Assim, enquanto os outros vão para um lado, eu sigo por outro, rumo à biblioteca do palacete.
Ela fica na ala onde está o antigo quarto do príncipe, que hoje pertence aos meus pais, e sua sala pessoal, que agora é da minha mãe. Não se trata de um cômodo tão amplo quanto o do palácio, mas tem o seu charme, possuindo dois andares.
Entro na sala e o cheiro de páginas velhas e mofo me alcança sem dó, fazendo-me espirrar. Apesar da minha mãe ordenar que todos os cômodos sejam arejados com frequência, é fácil cogitar que os empregados não se importam muito com a biblioteca quando ela é pouco frequentada.
Aperto o interruptor que acende as luzes e entro no cômodo. A parte de baixo tem uma escrivaninha ao fundo e estantes lotadas de livros cobrindo cada centímetro da parede, as quais também ocupam o andar superior, que é como uma grande varanda. A parte de cima se abre com uma cúpula, a qual tem pinturas, como se o príncipe quisesse imitar a famosa basílica pintada por Michelangelo.
Eu mal sei por onde começar.
Não me interessava muito pela biblioteca, porque o acervo nunca foi renovado e os livros sempre me pareceram velharias frágeis, sendo a maioria romances que eu poderia adquirir em condições melhores e, é claro, em inglês. O acervo particular de Yifan é quase todo em mandarim e, apesar de eu conhecer a língua, sou bem melhor falando ela do que escrevendo e lendo.
"Se eu fosse o príncipe, onde colocaria um objeto importante para mim?".
Olho ao redor e dou alguns passos na direção da escrivaninha para abrir as suas gavetas. Todavia, só encontro mata-borrão, um selo e papéis amarelados e esquecidos de cartas que nunca foram escritas.
"Certamente, se havia algo importante para o reino aqui, foi destruído pelos invasores ou levado para o palácio", mas não tem como enquadrar possíveis cartas de amor nessa categoria, tem?
Começo a olhar as estantes, estudando as lombadas de cada livro e me imaginando como o charmoso e libertino príncipe do início do século passado.
A maioria das lombadas está desgastada e com os títulos dos romances apagados. Nenhum chama a minha atenção, exceto por cadernos de páginas amareladas e grossas, as quais parecem ter sido usadas para alguém aprender caligrafia em mandarim. Talvez o príncipe? As letras são bem rudes, como seriam em se tratando de uma criança.