09. A ANATOMIA DE UM CORAÇÃO

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Não consigo evitar Maxwell Kannenberg por muito tempo

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Não consigo evitar Maxwell Kannenberg por muito tempo. Três dias depois de nossa conversa ao telefone em que ele me contou sobre a volta de Mary Ann à Orion, vou almoçar com meu avô na velha mansão da família e o encontro com uma carranca de repreensão que lhe é típica em se tratando de mim.

"Boa tarde, senhor Kannenberg", sorrio ao entrar em sua sala privativa, que mais parece uma biblioteca.

Trata-se do cômodo favorito de vovô na casa, pois transpira o legado Kannenberg. É onde fica a velha vitrola da minha bisavó, fotografias da família nas paredes, além de um universo de disco de vinil que ele escuta enquanto lê livros e toma chá de jasmim. Todos hábitos que Maxwell adquiriu depois que minha avó Aeryn morreu há dez anos e ele passou a viver de modo mais solitário. 

Antes disso, a sala exibia uma coleção dos mais variados modelos de armamento fabricados pela nossa marca e usados por vovô em caçadas das quais costumava se orgulhar, mas sempre causaram arrepios na senhora Aeryn Young. Então, depois que vovó morreu, ele fez as substituições como uma forma de honrá-la. Ou de se redimir, mesmo que tardiamente.

"Não seja cínico", vovô me repreende, fechando o livro da vez para tornar a carranca mais evidente. A capa diz que se trata de Razão e Sensibilidade, da Jane Austen.  "Sabe muito bem que está encrencado, Aiden. Como pôde desligar a ligação na cara do seu próprio avô, moleque?".

"Foi só um pequeno equívoco, Maxwell. Prometo que nunca irá se repetir", faço com ele o exato mesmo gesto de promessa de escoteiro que fiz para meu pai dias atrás, mas, diferente de John, o velho patriarca da família é osso duro de roer.

"É bom mesmo que não se repita", ele diz, somente para logo em seguida tocar no assunto que mais me deixa sensível:  "Eu soube pelo Karl que você e a Mary Ann se encontraram há alguns dias".

"Hum", resmungo, nem um pouco à vontade. A verdade é que parte do meu rancor pela neta do senhor Johnson voltou, porque dias se passaram desde o nosso encontro e ela não entrou mais em contato, o que me enche de dúvidas. Porém, eu me recuso a procurá-la primeiro, depois de tudo. Um pouco de orgulho ainda tenho que preservar. "Ela me procurou e nós conversamos, mas foi só".

"Eu não achei que ela fosse querer mais do que isso depois de saber o quanto se tornou um sem vergonha", Maxwell me ataca.

Eu finjo ter sido magoado ao levar as mãos unidas em direção ao peito num rompante dramático.

"Ninguém é tão cruel comigo quanto o senhor, vovô".

Seus olhos escuros, iguais aos meus, ficam injetados e aprofundam os vincos em sua testa.

"Cruel? Eu só estou tentando te colocar um pouco de juízo!" Maxwell se revolta. "Você já tem vinte e quatro anos, Aiden, não acha que está na hora de parar de agir como um adolescente e ser mais como a sua prima?"

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