Quase três semanas se passaram desde a morte da Letícia, ainda é estranho viver sem receber mensagens dela, sem poder escutar a voz dela e as piadas ruins. Aos poucos estive conseguindo organizar melhor minha vida, no trabalho tudo anda muito bem. Carlos achou melhor eu ficar com apenas dois pacientes, já que estamos organizando minha mudança pro hospital na Inglaterra.
Minha mãe veio ficar comigo uns dias, tem sido bom, gosto de ter ela aqui comigo, mas ela precisa voltar pra casa e seguir com a vida dela. Gabriel veio aqui para reencontrá-la. Antigamente nossas mães eram boas amigas e ver o Gabriel novamente, foi muito bom para minha mãe.
Richarlison está jogando pela seleção e eu estou adorando. Com as poucas coisas que o Gabriel conseguiu me fazer entender do futebol, sei que o Richarlison está mandando bem. Os jogos com a seleção já acabaram e daqui uns dias ele deve retornar pra Inglaterra. Já estamos no fim de novembro, não comemorei meu aniversário da maneira que queria, minha mãe fez um bolo e colocou algumas velas, Laura veio ficar um pouco conosco, mas passamos o resto da noite assistindo filmes.
Falta pouco mais de um mês para minha mudança pra Inglaterra. A passagem já está comprada, meu consultório está quase pronto, já recebi uma lista com alguns pacientes e também recebi novas pesquisas para usar em meu estudo sobre LNH e LH.
Era quase 00:00h, estava na sala estudando alguns casos de linfoma descobertos no Canadá. Tinha pedido uma pizza para ir comendo, mas acabei me envolvendo com os estudos e anotações e não lembrei.
26/11/21 23:47
minha pessoa: Está em casa?
minha pessoa: Amanhã você vai na festa do Carlos?
Isabela: Estou estudando
Isabela: Vou, ele quer me apresentar á alguns amigos
minha pessoa: Como está a construção do consultório?
minha pessoa: Do jeito que queria?
Isabela: Só precisam terminar de instalar algumas coisas
26/11/21 23:48
Pombo: Isa?
Isabela: Oi meu bem
Pombo: 😀
Pombo: Está fazendo o que?
Isabela: Estudando
Pombo: Para um pouquinho aí
Pombo: E abre a porta para mim
Pisquei duas vezes rapidamente pro celular, olhei pra porta fechada e voltei a olhar pro celular. Não posso acreditar. Sinto minha boca formar um biquinho de choro, apoio os braços na mesinha de centro e pego impulso para me levantar e ir na direção da porta.
As lágrimas já invadem meus olhos, sinto a vista embaçar, Richarlison não seria capaz de fazer uma brincadeira assim. Não posso acreditar que ele realmente veio até aqui, que deixou de lado vários compromissos e responsabilidades. Minha mão estava trêmula e levá-la até a maçaneta da porta parecia a atividade mais difícil do mundo.
Abri a porta e lá estava ele, com a mala preta ao lado, a mochila nas costas e um sorriso no rosto. Ele parecia muito mais perfeito, estava com a pele um pouco mais bronzeada, seu olhar estava mais leve e o corte de cabelo um pouco diferente. Dei dois passos na direção dele e o abracei sem hesitar, me afundei em seu peito e abraço.
— Mulher, que saudade desse seu cheiro. — Richarlison falou e continuou fungando meu cabelo. O apertei mais no abraço e senti as lágrimas guardadas á semanas, rolarem pelo meu rosto.
Richarlison afundou o rosto no meu pescoço e beijou, me deixando chorar e desmoronar o quanto eu precisasse.
Não consigo identificar o motivo do meu choro, não sei se é pelo dia corrido, pela mudança se aproximando ou pela Letícia, mas alguma coisa me desarmou e me fez quebrar em mil pedacinhos agora.
— Não acredito que esta aqui. — Falei ainda chorosa e em seu abraço ainda. — Você precisa ir pra Inglaterra e treinar.
— Cê é meu amuleto da sorte, tô aqui por isso. — Ele respondeu sem jeito, abri um sorrisinho e fiz questão de olhar para ele, gosto de ver a feição dele quanto ele fala algo bonito para mim.
Nossos corpos ainda estavam colados, levei as mãos até as laterais do seu rosto e puxei para um beijo. Um beijo de saudade, carinho, calmaria e tranquilidade. Não estamos com raiva do relógio, estamos aqui para aproveitar cada segundo.
Em cerca de meia hora o Richarlison já estava acomodado, arrumou um espaço para a mala no quarto e tomou um banho. Aproveitei o tempo para me recompor e voltar a dar uma lida antes dele voltar.
— Posso falar uma coisa? — Richarlison perguntou assim que voltou pra sala, já vestido para dormir. Balancei a cabeça positivamente. — Cê ta comendo? Você emagreceu.
— Como quando dá, mas está tudo bem. — Respondi e levantei os braços para que ele viesse na minha direção. Ele segurou minhas mãos e eu o puxei.
— Isabela, Isabela. — Ele reclamou baixo e sentou do meu lado, cruzou as pernas em formato borboleta e me observou. — O luto é difícil mesmo, não tenho nem tanto o que falar, mas me diz, você conhecendo a Letícia como conhecia, acha que ela ficaria feliz vendo você assim? — Ele perguntou sério. — Não estou falando do seu corpo não, você ainda tá a mesma mulher gostosa de sempre, mas você mudou, sabe aqueles negócio de brilho? Parece que você deixou o seu apagar, esta mais desanimada e séria. Não quero ser chato, mas queria muito a Isabela de antes aqui de novo. — Rich falou calmo e com cuidado, sei que não está falando por mal, não interpretei dessa maneira. Nossa relação está sendo construída junto com nossa amizade, sei que ele falou por preocupação.
— O processo está sendo realmente mais difícil. Eu nunca tinha perdido alguém próximo á mim como foi agora, em poucos meses muita coisa aconteceu e não sei se minha mente conseguiu processar cada informação. — Respondi o observando também, coloquei minha mão em sua coxa e acariciei. — Processei o luto, jogando trabalho encima. Estou tão focada em me organizar bem para minha mudança, está sendo bom, tudo está dando certo, mas sabe aquele medo? — Perguntei e ele balançou a cabeça positivamente, mas senti que ele não tinha entendido bem. — Você deve ter percebido que eu sou muito emotiva, não já? — Ele concordou. — Sempre foi assim, é uma coisa minha, algo que é enraizado em mim. Particularmente eu gosto disso, gosto de ser exatamente dessa maneira, mas em momentos específicos são ruins, como agora. — Falei chateada e apoiei minha cabeça no ombro dele.
— Pô, Isa. Cê tem muitas qualidades que eu ficaria horas falando aqui, mas eu amo muito isso em você, esse negócio de sentir muito, sabe? — Ele perguntou já ficando sem jeito. Alguma coisa bonita vem por aí. — Sei que tá sendo difícil agora com tudo, mas pô, você nunca percebeu quando você vê que um filme que você gosta vai passar em algum canal que você não sabia, você fica eufórica, quer estourar pipoca, comprar o corredor de doces do mercado, se afundar na cama e coberta, e esquecer do mundo. — Ele explicou e eu ri, me afastei do ombro dele e o observei. — Lembra quando fomos no mercado aquele dia e tinha aquele doce de padaria que ce gosta? Aquele que tem nome de gente?
— Carolina!
— Viu? Você muda até a voz quando fala de algo que gosta. — Ele falou sério e eu ri. — Cara, lindo demais isso, sou apaixonadão. Vem cá. — Ele pediu e me puxou para deitar em seu ombro de novo. — É só um momento difícil, tá? Não muda esses seus sentimentos não, demonstra tudo que quiser, sinta tudo mesmo, fechou? — Com um sorriso animador no rosto, balancei a cabeça positivamente. — Amo você. — Ele falou ainda parecendo sério, sem desencostar a cabeça do ombro dele, levei a mão até seu rosto e acariciei com o polegar.
— Te amo.
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𝙞𝙣𝙨𝙩𝙖𝙜𝙧𝙖𝙢 || 𝘳𝘪𝘤𝘩𝘢𝘳𝘭𝘪𝘴𝘰𝘯
FanfictionOnde Isabela decide responder o direct de um jogador do Everton, no intuito de passar o tempo. Ela só não esperava que o jogador estava esperando um sinal verde dela há meses. 𝘀𝘁𝗮𝗿𝘁𝗲𝗱: 𝟮𝟲/𝟭𝟭/𝟮𝟮 ...