trinta e quatro

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Passei o dia inteiro um pouco apática depois da notícia de uma página de fofoca, confesso que estou me sentindo ridícula por enfrentar isso aí. Geralmente gosto de trabalhar na conversa, mas estou em uma situação complicada, não posso ir atrás do Richarlison para escutar a versão dele, só tenho minha mente comigo e juro, é a pior companhia nesse momento.

O sol já se pôs, minha mãe saiu há algumas horas, me disse que iria encontrar algumas amigas e até agora não voltou.

Fui até a cozinha preparar uma vitamina, juntei algumas frutas e bati, virei em um copo e peguei gelo para servir. Assim que sentei no banquinho da bancada, a porta abriu e minha mãe entrou cantando animada.

— Estava onde, dona Andressa? — Perguntei forçando um sorriso, ela me olhou ainda animada e trancou a porta.

— Estava em um barzinho com as meninas, tudo bem por aqui? — Ela perguntou vindo na direção e olhando ao redor.

— Estou sozinha, mãe. — Avisei quando percebi o objetivo dela, ela sentou no banquinho ao meu lado e apoiou a mão na minha perna.

— Não conversaram ainda? — Ela perguntou baixo e com um sorriso fraco no rosto.

— Não, nem sei se vamos. Ele quer me ver um dia antes de ir embora. — Falei chateada e bebi um pouco de vitamina quando senti o choro fechando minha garganta.

— Só? Que merda. — Minha mãe respondeu e colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha.

— Uma página de fofoca postou que ele estava em uma festa ontem e que possivelmente estava acompanhado. — Falei rapidamente, olhei para cima com medo de alguma lágrima escorrer, mas minha mãe segurou meu rosto para olhá-la.

— Não acho que ele seria capaz, meu amor. — Minha mãe falou me encarando séria e tentando passar confiança.

— Eu também achava que não seria capaz de ficar contra ele, enquanto ele me defendia de um assédio, e adivinha? — Falei sem conseguir segurar meu choro mais, minha mãe me puxou para um abraço forte e eu não recuei.

Passei esses dias sem chorar por isso e mesmo que a Laura fique me lembrando que eu já pedi desculpas e entendi o lado do Richarlison, minha mente insiste em ficar fazendo a culpa fixar em mim.

— Isabela, você precisa entender que em uma relação, momentos assim serão comuns, vocês só vão construir uma boa relação, com erros e acertos. — Minha mãe começou a falar ainda me abraçando e fazendo cafuné no meu cabelo. — Acha que eu não me culpei quando percebi a burrada que cometi quando o clima pesado começou entre o Richarlison e o Guilherme? Mas cada um de nós, tomaram decisões erradas. Eu por ter trazido o Guilherme aqui sem te consultar, o Guilherme por ter te beijado sem permissão e o Richarlison por ter partido pra agressão.

— Mas ele só bateu no Guilherme, porque eu defendi o Guilherme e foi como se eu tivesse aceitado aquilo, realmente não respeitei o Richarlison naquele momento. — Falei me afastando do abraço dela, nos encaramos, ela riu com minha resposta e segurou meu rosto com força.

— Você é a pessoa mais pacífica, ingênua e calma que eu conheço, filha. — Minha mãe começou a falar devagar, como se estivesse me ensinando. — Quando você pediu pro Richarlison não bater no Guilherme, não foi por defender um e ignorar o outro, foi por amar os dois e ficar confusa em quem tentar ajudar, sua mente tentou falar alguma coisa para livrar os dois de problemas, não queria ver nenhum deles apanhando. — Ela falou em um tom de voz um pouco mais alto. — Talvez eu esteja errada, mas não te vejo como a errada da história, você foi desrespeitada pelos dois, isso sim!

— Pelos dois? — Perguntei confusa, ela deu a volta no balcão e foi até a cozinha pegar água.

— Você não disse que machucou o pulso com o empurrão do Richarlison na hora da raiva dele? — Balancei a cabeça positivamente, mas receosa com a opinião dela. — Ser assediada é uma merda, é de causar uma raiva imensa, mas você sabe que agressão nunca é a resposta, isso foi uma coisa que você me ensinou, querida. — Ela falou, voltou a apoiar a mão no balcão e bebeu água. — Eu realizei um sonho conhecendo um jogador, você sabe como eu torcia por isso, sabe que eu amei conhecer o Richarlison e confesso que o pouco tempo, já me fez adorá-lo como genro, mas da mesma maneira que dei um puta de um esporro no Guilherme, quero dar um no Richarlison por ter te empurrado. Até posso defender ele ter batido no Guilherme, mas não em você!

— Mãe, não quero mais confusão em relação a esse dia, isso está corroendo minha mente já. — Pedi respirando fundo e passando a mão no rosto para limpar as lágrimas.

— Só mais uma coisa, não se sinta tão culpada, ok? Se queria minha opinião, aí está. Metia um processo no Guilherme, esculachava o Richarlison pelo empurrão impulsivo e erguia a cabeça. — Ela terminou de falar, pegou a bolsinha no sofá e foi pro quarto.

Fiquei olhando pra porta dela, esperando ela aparecer para conversar mais comigo. A opinião dela quase causou um colapso na minha mente. Já estava sentindo tudo com intensidade, minha mente parece ter entendido essa conversa como uma pequena bronca e então atacou meu ponto fraco, meu aparato gastrointestinal.

Cobri a boca com a mão direita e corri até o banheiro. Fazia anos que não passava mal com ansiedade dessa maneira, a última vez que fiquei assim foi na minha primeira semana de internato. Abri a tampa do vaso sanitário e vomitei a pouca vitamina que tinha tomado.

Limpei a boca com as costas da mão e dei descarga, levantei e lavei a boca, logo escovando os dentes e olhando para mim pelo espelho. Preciso trabalhar isso em mim.

Sai do banheiro e fui pro quarto atrás do meu celular, evitei o dia todo pela notícia da festa, havia mensagens da Laura explicando sobre o Mathias e que o hospital talvez me ligaria em uma semana.

Tinha algumas mensagens do Richarlison, mas para ser sincera, a conversa com minha mãe me fez ficar com uma dúvida em relação a tudo o que estava pensando antes.

Minha mãe apareceu no meu quarto e correu deitando na minha cama.

— Quer dar uma volta na Paulista? — Ela perguntou animada, balançando os pés igual criança, joguei a cabeça para trás e resmunguei com preguiça.

— Amanhã volto pra casa e você não vai passear comigo? Sério? Você parou de me amar? Logo eu? A pessoa que criou você sozinha. — Ela falou rindo, ela adora fazer essa brincadeira para zombar com minha cara.

— Vou tomar um banho e vamos, pode ser? — Perguntei rindo, levantei da cama e dei um tapa na bunda dela.

— Te espero na sala em 30min. — Ela falou e saiu do quarto.

Peguei minha toalha e fui tomar um banho. Não estou com ânimo nenhum para sair, mas ela está certa e estou precisando respirar outro ar.

𝙞𝙣𝙨𝙩𝙖𝙜𝙧𝙖𝙢 || 𝘳𝘪𝘤𝘩𝘢𝘳𝘭𝘪𝘴𝘰𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora