quarenta e oito

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05/11/21 11:39

Pombo: Isa?

Pombo: Já acordou?

Isabela: Estou é atrasada pra encontrar a Letícia

Pombo:

Isabela: Ué o que, homem? KKKKK

Pombo: Ela me mandou mensagem hoje cedo dizendo que precisou ser internada

Isabela: A Letícia?????????

Pombo: É, Ué

Pombo: Ia até te perguntar se ela estava bem, achei que estava com ela no hospital

Isabela: Merda

Isabela: Vou pra lá agora

Isabela: Te mando mensagem depois que ver ela

Pombo: Ok.

Procurei a conversa da Letícia e vi que ela tinha me mandado mensagem de madrugada. Ela cancelou nosso almoço, mas me deu as informações sobre como estava e de qual quarto estava.

Juntei meus documentos e fui direto pro hospital. Letícia não é mais minha paciente, talvez nem consiga vê-la hoje, talvez precise esperar horário de visita, mas quero tanto saber quem é o novo médico dela e o que aconteceu. Já sei que ela está em cuidados paliativos, mas por quê a internação?

Cheguei no Icesp e fui na direção do andar e quarto que já conhecia. Os pais da Letícia estavam do lado de fora do quarto, me aproximei e quando eles me viram, a mãe dela me abraçou, uma coisa que me deixou sem reação no começo.

— Ela te mandou mensagem? Eu acabei esquecendo no desespero. — o Pai da Lê falou e se aproximou.

— O que aconteceu, seu Luiz? — Perguntei preocupada, dona Ângela se afastou dos meus braços e me observou.

— Ela acordou gritando de madrugada, não estava conseguindo respirar, a nova médica disse que ela está com dezessete tumores nos pulmões, dra. Isabela, minha filha está com mais de vinte tumores pelo corpo, minha menina, minha. mi... — Ângela não conseguiu nem terminar de falar, ela desabou na minha frente, o marido dela à segurou e abraçou ela. Engoli seco naquele momento, Letícia estava muito pior do que imaginava.

A porta do quarto foi aberta, reconheci a médica rapidamente, era uma colega. Ela sorriu fraco, provavelmente não tinha boas notícias e sempre soube do meu amor e carinho pela Letícia.

— Oi, Dani. — Falei baixo e fui cumprimentá-la. — Como a Letícia está? — Perguntei e observei os pais da garota pararem ao meu lado para escutar.

— Não vou esconder nada de vocês... — Daniela começou a falar, seu tom de voz era de chateação, sei bem o que vem depois dessa frase avassaladora. — Os pulmões da Letícia não aguentam muito tempo sem a bomba de oxigênio, os tumores estão piores, se espalharam mais e muito mais rápido, o câncer que até então estava somente nos gânglios linfáticos superiores, atingiram todos os outros. Letícia deve ter no máximo algumas horas agora, eu sinto muito, muito mesmo. — Ela terminou de falar e engoliu seco, os pais da Letícia se abraçaram fortemente e eu pude escutar os gritos de dor abafados da mãe dela no peito do pai. Fixei o olhar na parede atrás da Dani, mas só enxergava um preto ao meu redor.

Há pouco menos de um mês eu sabia que esse dia chegaria, só não imaginei que chegaria como um tiro cravado no meu peito, sentia todas as camadas da minha pele rasgando lentamente e uma dor insuportável tomando conta do meu corpo. Que merda, Letícia.

𝙞𝙣𝙨𝙩𝙖𝙜𝙧𝙖𝙢 || 𝘳𝘪𝘤𝘩𝘢𝘳𝘭𝘪𝘴𝘰𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora