oitenta

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— Por favor, Marquinhos

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— Por favor, Marquinhos. — Laura juntou as mãos como se fosse uma benção e fechou os olhos nervosa com o próximo pênalti.

Respirei fundo, segurei mais forte a mão do Gabriel e torci para ganharmos hoje. Infelizmente o Marquinhos errou o gol, a bola foi na trave e no mesmo instante os jogadores da Croácia correram no campo para comemorar.

Eu nunca havia chorado em um jogo de futebol e hoje está me fazendo pagar por todas as vezes sem chorar. Estamos oficialmente fora da copa do mundo de 2022. Nossa seleção ajoelhou no campo e assim como os torcedores eles também estavam chorando.

Richarlison deitou no campo e já sabia o quanto ele estava com o coração despedaçado. Laura sentou do meu lado e manteve o olhar desacreditado no campo. Sequei as lágrimas que não paravam de rolar no meu rosto e apoiei a cabeça nas mãos.

É indescritível a sensação que viver essa derrota está causando, a esperança da copa ser nossa era inexplicável e ver o que aconteceu é como  levar um tiro no peito.

— Isa, se acalma. — Laura falou e começou a fazer um carinho nas minhas costas assim que resmunguei, senti aquela dor na barriga de novo.

— Eu sei, eu sei. Tá tudo bem. — Respondi e a olhei. Sorri pra ele e nos abraçamos. — Parece até bobeira chorar tanto assim por isso, mas é tão difícil.

Já tinha combinado com o Rich de encontrá-lo no vestiário pós jogo, então com ajuda do Gabi, ele me levou até lá.

— Futura mulher do pombo... — Reconheci a voz do Antony e virei para olhá-lo. A cara dele estava inchada pelo choro, os olhos ainda com lágrimas e as bochechas avermelhadas. Sorri fraco e segurei meu choro.

— Vem cá. — Puxei ele pelo pescoço e o abracei, no mesmo instante ele retribuiu o abraço e voltou a chorar.

Fomos caminhando abraçando de lado até uma parte do vestiário, Antony me disse que iria chamar o Rich, fiquei apoiada em uma das paredes aguardando por ele. Senti outra fisgada na barriga, apoiei a mão e coloquei certa força para ver se aliviava um pouco.

— E ai... — Ajeitei minha postura quando o Richarlison apareceu, assim que o olhei, ele relaxou os ombros e voltou a chorar. O abracei e comecei a fazer carinho na nuca dele até a cabeça, repetindo os movimentos. — Tudo deu errado, minha perna, o jogo, a copa... Era nossa, Isabela, que merda, e... O que foi? — Ele perguntou assustado assim que eu me afastei com a mão na barriga de novo, apoiei a mão no ombro dele e me curvei tentando afastar essa dor.

— A Laura. Chama a Laura. — Falei entre os gemidos de dor e tentei sentar não chão, mas ele apoiou o peso do meu corpo nele e fez algum sinal com a mão.

Alguns paramédicos chegaram e me colocaram em uma maca, as lágrimas voltaram a rolar e o desespero tomar conta de mim. Richarlison estava me olhando apavorado, segui o olhar dele até minha calça e a cara de medo dele aumentou.

— Isso é sangue? — Ele perguntou apavorado para um dos paramédicos, fechei os olhos com força e continuei chorando. Confesso que não sei se o choro é de medo ou de dor. — Pedi para avisarem a Laura, vamos pro hospital que a seleção está passando, fica bem, por favor. — Rich falou e segurou minha mão enquanto os paramédicos me levavam para sei lá onde.

Richarlison estava conversando com um dos paramédicos quando uma enfermeira entrou na ambulância, Richarlison foi um pouco pro lado e ela começou a me examinar, olhei assustada pro Rich pelo fato de já saber quais perguntas ela faria para mim.

— É aquelas coisas de menstruação? — Rich perguntou baixo pra enfermeira que negou na mesma hora. — Ela é médica, talvez saiba explicar melhor. — Ele falou e eles me olharam juntos na mesma hora.

— Então você já sabe o que vou perguntar, não é? — Ela perguntou e eu balancei a cabeça positivamente.

— Não sou hipertensa e nem diabética, não sou alérgica a medicamentos e sou primigesta. — Tentei usar um termo diferente para ele não reconhecer e fico feliz que aparentemente não reconheceu. — Tenho endometriose e sou infértil, aumentando as chances de ser de risco.

— Estamos chegando... — Richarlison falou rápido e baixo, apertou minha mão de leve.

— Isabela, sua pressão está caindo muito rápido. — A enfermeira falou, umedeci os lábios com a língua e balancei a cabeça positivamente.

Não consigo nem duvidar que minha pressão está caindo, não consigo mais sentir minhas mãos e nem meus pés, provavelmente o sangue nos capilares já estão diminuindo e fazendo com que isso aconteça. Virei o rosto para olhar minha saturação e meus batimentos cardíacos que caiam bem rápido, talvez uma hipoxia causadora de um desmaio.

— Rich, a Laura está nos seguindo? — Perguntei reunindo todas minhas forças, ele concordou com um "uhum", balancei a cabeça confirmando que escutei e permaneci com os olhos fechados.

— Já estamos no estacionamento, aguenta um pouco mais, Isa.  — Rich falou e escutei a enfermeira falar alguma coisa que não entendi, senti uma picada no braço e já sei que deve ser algum medicamento.

Deitei a cabeça pro lado contrário dos dois e senti as lágrimas escorrendo de novo. Torci tanto pelo momento em que conseguiria ter um bebê e agora talvez o perca. Sabia que essa gestação seria muito arriscada, mas tive tanta esperança de que nada aconteceria. Isso provavelmente é um aborto e para ser sincera era algo que eu deveria estar preparada, mas não estava, não estava nem um pouco.

Acho que a melhor coisa disso tudo é que só eu vou sofrer com a perda, Rich não ficou sabendo e não precisa sofrer por mais uma coisa.

Uma sensação de sono foi tomando conta de mim e quando menos esperei, um preto tomou conta da minha vista e dormi.

𝙞𝙣𝙨𝙩𝙖𝙜𝙧𝙖𝙢 || 𝘳𝘪𝘤𝘩𝘢𝘳𝘭𝘪𝘴𝘰𝘯Onde histórias criam vida. Descubra agora