1

11.9K 598 47
                                    

• MORGANA •
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝


Existem situações em nossas vidas em que tudo o que queremos é sair de nossas próprias mentes e apenas escutar o profundo silêncio que existe dentro da escuridão. Eu desejava isso mais frequentemente do que deveria.

Não era difícil vê em meu rosto o quanto eu me detestava e desejava que tudo isso acabasse de uma só vez, mas não se pode culpar alguém como eu por querer tanto isso. As vezes me sinto cansada de pensar em como eu gostaria de está longe da confusão que é dentro da minha cabeça, mas não dá para se livrar desse tormento que me ronda.

Eu não costumava me importar com atrasos, na real eu nem sabia como tinha passado de ano mesmo depois de tantas faltas, mas hoje em específico eu estava com uma sensação diferente no peito, algo parecia que ia mudar.

Termino de colocar tudo na minha bolsa e garanto que não esqueci nada, parecia está tudo em seu lugar.

Me apressei para sair do quarto e em instantes eu estava descendo as escadas. Assim que cheguei no último degrau, reparei no meu irmão assistindo desenho na televisão, ele estava bem melhor do que na noite anterior.

Pelo gritos que escutei ontem a noite no andar de baixo, meu padrasto provavelmente chegou em casa bêbado e como de costume Pedro ficou com medo e correu para o meu quarto. Foi difícil conseguir dormir com ele acordando pelos pesadelos.

Meu irmão têm síndrome de down e é o ser mais sensível que eu conheço. Essa era pior parte da minha vida e não tô falando porque tudo isso me afeta, mas sim pelo simples fato de que, no final das contas, o mais prejudicado é meu irmão. Eu os odiava por causar sentimentos tão angustiantes no meu pequeno.


Segui em direção a cozinha e não pude deixar de sentir repúdio ao vê o homem que estava lá, como se a manhã já não estivesse ruim o suficiente. Minha mãe seguia ao seu lado como sempre e não demorei para notar o olho roxo e o corte no canto da sua boca, que droga.

— Bom dia, querida — Fernanda disse com um sorriso no rosto. Como ela conseguia isso depois de tudo o que passou?

Não era assim sempre, as vezes ele chegava com flores e declarava todo o amor que supostamente sentia por ela. Mas tinham dias como esse, no qual ele chegava tão violento que fazia minha mãe aparecer com um hematomas horríveis no rosto.

Eu tento intervir as agressões na maioria das vezes, mas no final eu sempre recebia um sermão da minha mãe dizendo que eu não deveria intromete. Não posso culpa-la, o amor cega as pessoas e quando alguém foi tão machucada na vida é fácil se encantar com palavras jogadas ao vento, se apegar no primeiro que te de um pingo de atenção.

— Oi.

Fui até a o balcão e peguei uma maçã na fruteira, não fazia nenhuma questão de me sentar na mesa com eles.

— Eu vou deixar Pedro na escola hoje, não se preocupe — Me assustei na mesma hora.

— Não precisa, eu posso levar ele.

— Hoje é seu primeiro dia de aula, já tem muito com o que se preocupar — Fernanda levantou e foi até a pia.

— Você não ia no salão hoje? Eu posso deixar ele sem problema e pelo o que fiquei sabendo a primeira aula foi cancelada no período da manhã.

— É mesmo? — Tentei ser o mais convincente possível — Tudo bem então, mas vá rápido para você não se atrasar.

Respirei aliviada e olhei uma última vez para o monstro sentado diante a mesa, ele me observava com o olhar malicioso. Apenas ignorei e fui até Pedro para podermos ir.

A verdade era que eu tinha tanto medo quanto meu irmão.


~#~


Corro pelos corredores como se tivesse fugindo da minha própria sombra, no fim das contas eu me atrasei bem mais do que esperava.

Todo começo de ano tinha aquela baboseira de apresentar os professores para os alunos, mas eu não me importava tanto com isso, na verdade era uma boa desculpa para que eu pudesse vim mais tarde.

Mas é claro que existia uma regra rigorosa em questão aos horários, eu sempre dava um jeito de me reverter nessa situações mas era mais difícil quando a droga da inspetora era um pé no saco.

Virei o corredor rapidamente e tentei ir o mais rápido que consegui sem me cansar, não pude controlar meu corpo quando outra pessoa se chocou contra mim. Olhei meu caderno no chão e logo subi para a loira.

— Me desculpa, eu não tinha te visto! — Ela ergueu a cabeça e pareceu surpresa ao me vê.

— Viollet?

Seu corpo ficou tenso e vi o espanto em seus olhos verdes como a natureza, ela parecia uma corça de frente para o seu caçador, segurei meu riso quando percebi que ela estava com medo.

Sempre foi assim, com a maioria das pessoas, mas em específico Viollet por algum motivo se tremia quando me via, desde que estávamos no primeiro grau eu acho. Era fofo vê ela nesse estado.

— Ai meu Deus, perdão! — A loira começou a recolher as minhas coisas que tinha caído — Foi um acidente, vou tomar cuidado da próxima vez.

— Tá tudo bem, obrigada — Peguei minhas coisas da sua mão e me afastei da garota. Ela não entrava para a lista de pessoas que eu odiava na escola.

Por sorte assim que cheguei na sala de português, não havia nenhum professor a espera, mas em compensação Paula estava lá, a supervisora mais chata do mundo, e claro que eu recebi uma bronca daquelas.

Depois de pouco tempo fomos apresentados para a nova professora de português, seu nome era Jane Miller e por coincidência ela também era casada com o nosso professor de matemática.

No geral não foi tão ruim para um começo.

Assim que o sinal bateu eu não esperei muito para sair da sala e seguir meu caminho para o terraço. Ascendi um cigarro que encontrei na minha bolsa e apenas pensei em como toda minha dor acabaria se eu só pulasse dali.

Depois de alguns minutos a porta foi aberta e vi um homem desconhecido sair, ele me olhou confuso.

Nosso Segredo Onde histórias criam vida. Descubra agora