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MORGANA
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝


As coisas estavam melhores em modo geral, mas principalmente em relação ao meu professor e eu. Depois de uma boa conversa naquele bar e o momento estranho em que ele colocou uma aliança em meu dedo, tudo ficou de certo modo resolvido, estávamos lidando com nossas diferenças e aprendendo a conviver um com o outro.

Claro que ainda tinhamos nossas desavenças, mas de algum jeito tudo estava se encaixando e aos poucos vivemos em uma harmonia criada do nosso jeito. Não podia deixar de falar o quanto algumas coisas eram estranhas, tipo o fato da aliança que agora vivia em nossos dedos como se isso fosse de fato um relacionamento amoroso, era esquisito termos feito desse acessório um hábito nosso.


Na escola tudo estava como sempre, os professores chatos, as matérias insuportáveis e a minha falta de disposição de tudo, quer dizer, essa última parte eu tinha evoluído bastante, pelo menos conseguia me atentar mais as lições. Agora a diretoria planejava um passeio para os alunos, por isso na semana que vêm ficaríamos livres de aulas.

Eu escolhi não ir, atividades em grupo não era meu forte e Mateo muito menos, por isso ele inventou qualquer desculpa para se afastar desse tipo de dever. O que significava uma semana com nós dois em casa, essa idéia ainda me dava um tipo de arrepio na espinha.

Voltando para os tempos atuais, eu simplesmente estava surtando, nesses últimos tempo estava vivendo uma onda de emoções avassaladoras que têm me deixado de cabelos em pé, tudo isso graças a nossa garantia pelo bem-estar do meu irmão. Hoje seria o dia da nossa entrevista com uma das funcionárias do orfanato.

Acordamos cedo e arrumamos a casa da melhor maneira possível, Mateo e eu passamos o início do dia preparando a casa para a visita e mostrando que éramos aptos para receber uma criança. O advogado tinha nos passado algumas instruções e nos afirmou que se seguirmos todos os seus concelhos e melhorarmos nossa relação, tudo estaria do jeito que deveria. Em breve teria meu irmão comigo.

Me olhei no espelho buscando algo que estivesse de acordo com a imagem que queríamos passar. Detestava vestidos, ainda mais quando eles eram do tipo mãe de família, nesse momento estava idêntica a um tipo de esposa troféu que vivia em uma casa maravilhosa e com a família perfeita, com certeza essa não era bem minha realidade.

Respirei fundo levando meus olhos até as malas que estavam no meu quarto, eu ainda não tinha desfeito minha bagagem e era uma sensação diferente ter notado isso só agora. Nunca imaginei que chegaríamos tão longe com isso, deve ser por esse motivo que minhas coisas ainda estavam todas no lugar em que chegou, eu devia ter algum tipo de receio de estragar tudo.

Tirei os pensamentos que não deveria da cabeça e fui em direção a saída, andei até a sala e vi o moreno sentado no sofá. Ele trouxe sua atenção até mim e vi um brilho diferente em seu rosto, Mateo sorriu em minha direção.

— Uau, você tá bem diferente.

— Eu sei, tô ridícula — Revirei os olhos indo já sabendo o que se passava em sua cabeça.

— Você tá bonita, Morgana, só é diferente do que costuma usar — Seu comentário me fez ficar com um pingo de surpresa nas emoções. Não estava acostumada com elogios vindo da parte dele.

Todos sabiam o quanto tínhamos nossos grandes desentendimentos, mas ultimamente até parecíamos pessoas descentes que sabiam boas maneiras e comportamentos. Acho que meu eu de poucos meses atrás jamais levaria isso a sério, conseguir conviver com Mateo era algo quase impossível, quando nos tornamos desse jeito?

O som da campainha tocou e antes que pudéssemos dizer mais alguma coisa nossos medos vieram átona. Nos olhamos como se já soubessemos o que cada um estava pensando. Tinha chegado a hora do pesadelo.

Mateo fez um gesto com as mãos dizendo para me acalmar e logo se levantou para abrir a porta. Escutei poucos murmurinhos até que a mulher estivesse no mesmo cômodo que eu, a morena de cabelos cacheados sorriu para mim.

— Com licença, você deve ser a Morgana Carter — Ela veio até mim e estendeu sua mão para que eu pudesse a cumprimentar — Sou a Karen Cardigan e vim fazer a entrevista de vocês para o primeiro passo da adoção.

— Muito prazer — Tentei depositar toda minha confiança, que não tinha nesse momento, em meu tom de voz — Pode se sentar, gostaria de alguma bebida para refrescar?

— Não, obrigada — Ela parecia bem simpática — Já podemos começar as perguntas se vocês quiserem.

— Claro, fique a vontade — Mateo falou indicando para que ela se sentasse na poltrona.

Nós dois ficamos a sua frente sentados no sofá, meu professor pegou minha mão e deixou nossos corpos próximos. Tínhamos que demonstrar intimidade e apoio um ao outro, pelo menos foi isso que o advogado havia nos falado.

— Bom, posso adiantar que o senhor Fabrício já nos disse muito sobre algumas coisas desse caso — Ela citou o homem que estava nos ajudando a acelerar esse processo da melhor forma possível — Não posso deixar de destacar o ponto principal, vocês dois são aluna e professor, podem me dizer como se conheceram?

— Sabemos das conclusões precipitadas que muitos tiram em questão a isso, mas antes de tudo acho importante destacar que não teve nenhum tipo de crime ou quebra de regras em nossa relação — Olhei para meu companheiro — Nos conhecemos no meu aniversário de dezoito anos, Mateo e eu nos encontramos em uma lanchonete e por um amontoado de coincidências acabamos parando na mesma mesa e passamos o dia conversando, foi aí que despertou um grande sentimento entre nós dois.

— Então não se conheceram na escola? — Ela anotou algo em seu caderno.

— Não, na verdade Morgana entrou atrasada nos ensinos, ela faz dezenove anos daqui alguns meses e toda essa construção de namoro veio antes que eu começasse meu trabalho de educação na escola dela — As palavras dele não era mentira. Realmente tinha entrado atrasada na escola.

— E a diretoria da sua rede de educação sabe disso? Existe alguma regra que proíba vocês de manterem um relacionamento?

— Por motivos de nossa segurança resolvemos não contar para ninguém essa nossa parte da vida, sabíamos que as coisas poderiam desandar e não queríamos nenhum tipo de julgamento nos rondando, em questão as regras não existe nenhuma falácia que seja contra nosso namoro — Ele não estava errado, tinhamos avaliado até isso.

— Outro ponto importante a se destacar é que o menino que vocês querem adotar é o irmão da sua companheira, caso vocês consigam a guarda, não teriam problemas se um filho natural entrasse no jogo? E o mais importante, estão prontos para receber uma criança que precisa de um grau maior de atenção? Até onde sei o menino têm uma condição genética especial.

— Não pretendemos ter um filho de formas naturais — Era estranho dizer isso — Mas se por algum acaso decidirmos avançar tal passo em nosso relacionamento, meu irmão ainda receberia tal atenção que merece, em questão as suas condições mentais eu posso garantir que sou a pessoa mais indicada para ter essa responsabilidade, crescemos juntos e de diversas formas eu fui sua portadora de voz, cuidei dele e acompanhei todos os seus processos hospitalares e todos os outros, acredito que sou a pessoa mais indicada para ter o título de mãe que ele merece, não sei se são todas as pessoas que podem passar por isso.

— É uma demostração de amor muito importante, senhorita Morgana, mas isso me leva a outra dúvida, como foi a infância de vocês?

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