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MATEO

𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝

Todos temos a oportunidade de mudar em algum momento da nossa vida, a chance de amadurecer, crescer e se tornar diferente, mas eu tinha a impressão de que sempre voltava ao mesmo patamar que estava antes.

Algumas pessoas descontam suas frustrações e cicatrizes nos seus hobbies pessoais, trabalho, drogas lícitas ou ilícitas e assim por diante, porém, por algum motivo comigo era diferente. Algo no fundo de um grande buraco dentro de mim me puxava e me impedia de progredir, de seguir em frente e deixar tudo para trás.

Por sorte eu pretendia fazer isso mudar em breve e apenas pelo fato de conseguir está exatamente aqui, já era um grande avanço.

Andei pelos corredores da grande escola em busca da sala de aula e tentei me guiar sozinho por aquele lugar que parecia não ter fim. É errado eu já está arrependido por ter aceitado isso?

Acho que a sensação de arrependimento começou assim que acordei com um homem e uma mulher pelados na minha cama, por sorte eu não tinha me atrasado e por azar eu não me lembrava de nada da noite anterior. Pelo menos não tinha sido tão difícil tirar eles da minha casa.

Respirei fundo e continuei seguindo meu caminho de acordo com o que os meus extintos diziam, por um milagre eu consegui chegar no lugar certo sem me perder.

Raquel, a diretora da escola e amiga da minha mãe, tinha me apresentado a um casal de professores, que assim como eu, iam iniciar nesse ano. Confesso que fiquei mais aliviado por saber que eu não era o único novo, mas tudo foi por água abaixo quando ela nos apresentou para os alunos e eu notei o que estava prestes a acontecer.

Eu tinha estudado nessa escola durante minha adolescência, a Raquel era minha professora de física e foi aí que ela se tornou uma grande amiga da minha mãe, mas tudo aqui havia mudado, não só a escola, mas também os estudantes dela.

Sempre trabalhei como professor, eu gostava mesmo de ensinar, mesmo que fosse para um bando de adolescentes dentro de uma grande caixa de hormônios. Mas depois de dois anos afastado, qualquer um se sentiria receoso.

Respirei fundo e tentei me convencer de que tinha feito a escolha certa, eu estava pronto.

Abri a porta e de imediato os olhares vieram até mim, fui até a mesa do professor e deixei minhas coisas em cima dela, me posicionei de frente a todos e em instantes os murmurinhos pararam.

— Bom dia a todos, me chamo Mateo Clarck e serei o novo professor de química de vocês — Os alunos se entre olharam e de início já notei quem era amigo de quem — Sei que vocês podem está nervosos pelo último ano no ensino médio mas eu terei o prazer de ajudar vocês com o que for preciso, e antes que possa conhecer melhor aos meus novos alunos, eu quero explicar de que maneira vamos trabalhar nesse ano.

Fiquei em silêncio por pouco tempo, apenas para vê se alguém tinha um posicionamento ou tentar encontrar algum tipo de dúvida naqueles olhos tão fixos em mim, não parecia tão ruim quanto eu imaginava.

— Bom, quero deixar claro que levo meu trabalho muito a sério e por isso gostaria que não houvesse brincadeiras ou conversas sem nexo, sei que nem todos vão gostar de mim e por mais que o objetivo não seja formarmos um laço de amizade, eu gostaria de manter o respeito acima de tudo, vou pedir para que quando eu entrar na sala todos os aparelhos eletrônicos estejam guardados em suas bolsas e de preferência no modo silencioso... Desejo boa sorte a vocês e espero que eu possa ajudar a todos dentro dos meus limites, alguma dúvida?

Todos ficaram em silêncio e apesar de me sentir nervoso algo se acalmou dentro de mim ao perceber que não tinha sido a coisa horrível que imaginei. Acho que tô menos enferrujado do que pensava.

— Ótimo, podemos começar então.

Assim que as aulas que eu tinha antes do intervalo dos alunos acabaram, eu me apressei para encontrar o lugar mais próximo para tomar ar fresco, não demorou para encontrar uma porta direto para o terraço e me sentir surpreso ao vê quem estava ali.


MORGANA
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝

Observo o homem diante de mim e disfarçadamente jogo o cigarro fora, levanto do chão que eu estava sentada. Ele me olha de uma maneira estranha e me sinto incomodada com aquilo.

Sua aparência era diferente da dos outros professores, para começar os sinais de pouca idade e logo em seguida por sua aparência física. Esse tipo de professor era novidade por aqui.

— Vai ficar me olhando? — Quebrei o silêncio de uma vez.

— Desculpa, eu não queria... Você tá bem?

— O que?

— Tenho quase certeza que te vi cogitar a idéia de pular daqui de cima, precisa de alguma ajuda?

— Não, eu já tô indo embora.

Pego minha mochila mas antes de conseguir sair ele me interrompe. Viro para o homem novamente.

— Ouvi dizer que a escola fornece ajuda de uma psicóloga para os alunos.

— Se alguém fosse procurar a terapia que a escola fornece, ia sair pior do que entrou — Ele deixou uma risada escapar.

— Você é o tipo de aluna que usa uma mascara rebelde para se proteger e não deixar que as pessoas vejam seu verdadeiro eu?

— Você é do tipo de professor que interrompe o suicídio dos outros? — Seus labios abriram um sorriso de lado.

— É no mínimo preocupante fazer piadas tão auto depressiva assim.

Ele não parecia tão péssimo, mas algo em sua essência transmitida me fazia querer socar seu rosto tão simétrico.

— Acho que não nos apresentamos direito, sou o professor de química, Mateo — Ele colocou as mãos no bolso e me analisou.

— Seus pais provavelmente não te amaram o suficiente para colocar um nome desses em você — Suas expressões me mostraram surpresa.

— Acredite, recebi muito apelidos durante a infância por isso — Por que essa aparência tão amigável mas ao mesmo tempo tão suspeita? — Você quer sair para comer alguma coisa? Posso te levar em uma lanchonete aqui perto.

— Não me diga que você é pedófilo — Suas bochechas ficaram vermelhas como um tomate.

— O que? Não! Eu não quis dizer nessa intenção, jamais sairia com uma aluna nesse sentido — Segurei a risada para mim mesma.

Antes que eu pudesse responder mais alguma coisa, meu celular vibrou dentro do bolso me puxando para outra realidade. Tentei não me irritar pela mensagem recebida.

Parece que o dia de hoje vai terminar bem pior do que começou.

— Vamos deixar para outro dia, professor — Coloquei o celular no bolso novamente e voltei a seguir meu caminho.

— Você não me disse seu nome — Dei um sorriso por algum motivo.

— Me chamo Morgana.

Atravessei as portas do terraço e segui meu caminho até a próxima aula que seria de geografia, no final do dia corri para ir até meu trabalho.

Talvez, talvez esse ano não fosse tão ruim.

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