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MORGANA


Minha mente sempre foi um sopro jogado ao vento. Vazia, quieta e gelada, essas eram as características perfeitas para a descrição do que se passava pela minha cabeça. Mas ultimamente ela parecia tão mais cheia do que o comum, como se as portas de algum lugar do meu cérebro tivessem sido abertas e cobrindo ela de medo e angustia. A verdade era que eu nem sabia como ainda estava viva.

Minha rotina sempre girou em torno de uma única pessoa, meu irmão. Eu acordava graças a ele, estudava para me manter na vida dele, trabalhava para poder dá o melhor para ele, até mesmo respirava por ele. Mas quando você quase perde sua única motivação de vivência fica difícil se permanecer bem.

Faziam três dias que tinha enterrado minha mãe e até agora essa informação não se digeriu na minha cabeça, não era tão próxima dela mas mesmo assim isso afetava alguma parte dentro de mim. E também tinha meu padrasto que durante a vida toda a única coisa que recebeu de mim foi desprezo e nojo, a morte desse aí só me trazia coisas boas.

Em meio a toda essa situação não me restou tantas motivações de vida, mas desistir parecia perder algum objetivo dentro de mim, como se minha morte fosse a vitória de todos aqueles que me fizeram mal. E isso eu com certeza não queria.

Durante esses dias eu tenho ficado no bordel do Robert, tinha me afastado disso tudo depois que o Mateo me encontrou, mas desde então essa foi minha única escapada já que a casa não era nossa e os pais do Gael não cederam em me dá. Ou seja, eu tinha a opção de morar em uma casa noturna ou viver nas ruas.


O carro parou em frente ao hospital e eu pude finalmente voltar a realidade. Quando estava prestes a descer uma voz me atrapalhou.

— Morgana — Robert me olhou pelo retrovisor — Não esqueça dos seus deveres hoje a noite.

Engoli todo meu orgulho da maneira mais seca que consegui. Isso era humilhante de tantos jeitos.

— Não vou esquecer — Olhei para ele uma última vez e peguei minha mochila.

Andei em direção a entrada tentando esquecer a curta conversa que foi mais estressante do que deveria. Fui até a recepção já me sentindo muito melhor por está um pouco mais perto do meu pequeno.

— Bom dia, sou Morgana Carter, vim vê o Pedro do quarto dezessete.

— Pode me entregar seu documento? — Estendi minha carteira de estudante.

Meu coração palpitava de uma maneira mais rápida do que a alguns minutos anterior, essa era uma das poucas provas que comprovavam que eu ainda estava viva.

— Desculpa, mas o Pedro já está recebendo uma visita — Minha alegria se desfez em segundos.

A assistente social costumava vir nesse horário mas ela não precisava de nenhuma autorização para entrar. Então quem caralho pode ser essa tal visita?!

— Pode me informar quem é?

— Essa informação é pessoal, senhorita.

— Certo, obrigada.

Me afastei do balcão o mais rápido possível e senti meu coração se desesperar de uma maneira rápida e intensa. Derrepente uma idéia surgiu na minha cabeça.

Observei a recepcionista distraída com o computador e olhei em volta procurando alguém que estivesse de olho em mim. Quando vi que não tinha ninguém fui até o corredor que dava direto aos quartos.

A demora do elevador foi o motivo da minha ansiedade, a cada segundo que eu passava longe do meu menino mais eu sentia como se fosse cair em um buraco. Meu desespero aumentava a cada passo.

Apressei as passadas e virei de corredor rapidamente, dei de cara com as portas principais e assim que abri vi uma figura masculina de trás. Não pensei muito nas consequências que me traria interromper a conversa do desconhecido e da assistente social, avancei até eles.

— Bom, como eu ia dizendo, ele é um...

— O que tá acontecendo? — A loira me olhou com surpresa.

Senti meu peito encher de raiva e não contive a vontade de querer satisfação, mas assim que coloquei meus olhos sobre o rosto masculino o choque veio de encontro forte comigo. Meu professor me olhou como se estivesse levemente com medo.

— Mateo? — O nome saiu quase como um sussurro da minha boca.

Antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa a mulher se intrometeu.

— Ah, Morgana — Seu desdém foi visível no olhar — Eu estava conversando com o senhor Clarck, ele é um possível tutor para seu irmão.

— O que?! — Olhei o moreno que ainda parecia raciocínar o que dizer.

— Morgana, podemos conversar em um lugar mais particular? — Foram as primeiras palavras dele.

— Não pode tirar meu irmão se mim.

— Não vou tirar seu irmão de você.

— Depois de tudo o que eu te disse você ainda quer fazer isso? Por Deus, você é um monstro.

— Desculpa, mas vocês se conhecem? — A assistente tentou falar mas foi ignorada por nós dois.

— Monstro? Você nem me deixa explicar.

— Tenho certeza que estamos passando por um desentendimento, se vocês pudessem me dizer... — Ela foi novamente ignorada.

— Explicar o que? Mateo eu juro que eu te mato se por acaso...

Quando as ultimas palavras estavam prestes a sair da minha boca uma voz doce nos atrapalhou chamando toda nossa atenção. Mal pude me mexer quando notei de quem era aquele timbre maravilhoso.

— Onde eu tô? — Olhei em direção a maca e vi o menino coçando os olhinhos como se tivesse despertando — Mo, é você?

Meu coração galopou como se tivesse em uma corrida e meu estômago embrulhou de forma desajeitada. Naquele momento até mesmo os pássaros pararam de cantar.

— Pedro?

Uma onde de sentimentos me invadiu e derrepente até mesmo sustentar meu corpo foi um sacrifício. Observei meu irmão sentando na cama.

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