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•MORGANA•
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝


Era estranho não está em volta de quem você tanto se apegou. Um sentimento diferente fazia morada em meus pensamentos e eu tentava entender a necessidade que encontrei de está acompanhada a alguém, não qualquer pessoa, mas com ele.

Tinha passado anos sozinha sem esperança de florescer sentimentos complexos dentro de mim, nunca tive a esperança de realmente sentir algo por outra pessoa além de meu irmão. Mas então Mateo apareceu, fez com que eu o odiasse por tentar entrar em minha vida, até que ele finalmente conseguiu e agora aqui estava eu, procurando respostas a solidão que eu não recordava ser tão dolorosa.

Confesso que tinha ficado com bastante reflexões em minha cabeça depois que conversei com Eduarda, dezenas de questões passaram por minha mente, mas eu ainda estava aqui, sem atitude, sem emoção, sem reação, porém, com uma decisão difícil prestes a ser tomada.

Olhei além das janelas que não havia nenhum resquício de sujeira ou pó e observei o céu limpo que cobria minha visão. A lua estava radiante acompanhada de nuvens bem desenhadas e estrelas verdadeiramente brilhantes. Era uma cena hipnotizante.

Nunca tive momentos como esse de apenas conseguir parar e admirar uma linda paisagem, na verdade eu achava que era até mais fácil ficar coberta de ocupações, nem sempre pensar era algo bom. Mas nesse momento, com esse deslumbre de visão, com o silêncio à tona e uma melancolia enorme em meu peito eu podia afirmar que tinha perdido um grande privilégio de muitas vezes não ter parado e aproveitado.

Alguns passos foram perceptíveis atrás da porta e por um instante eu considerei a idéia de fingir estar dormindo apenas para não ter que olhar no rosto da bela loira que tinha me acolhido. Pensei que iria fazer isso, até que dois toques foram depositados na madeira e um abrir leve trouxe iluminação para o quarto. Não pude controlar o pavor ao vê o homem em minha frente.

Durante essa semana que estive presa comigo mesma eu pude refletir algumas coisas e muito dos meus pensamentos foram ocupados por cenários falsos imaginando como seria quando eu estivesse cara a cara com esse homem novamente, meu medo era que nenhuma dessas reflexões terminavam de um jeito, sempre acabava com um último olhar de decepção jogado a mim.

— Mateo? — Sussurrei o nome apenas para confirmar que não era um sonho.

O moreno entrou de vez no cômodo e fechou a porta atrás dele, precisei segurar o fôlego para conter minhas emoções.

Ele guardava um semblante triste no rosto, suas feições não estavam autoritárias como sempre e até mesmo a barba que sempre estava aparada agora começara a aparecer um pouco mais. Podia admitir que no fundo eu tinha uma certeza que ele não ligaria para nada que havia acontecido, jurei a mim mesma que ele me deixaria apodrecer aqui e mal tera tempo para pensar em mim, tive medo de que isso acontecesse mas preferia acreditar que eu tinha sido apenas um passatempo ao invés de uma decepção.

Um silêncio ficou presente entre nós dois, um silêncio endurecedor que por alguns segundos me fez acreditar que eu estava em algum delírio, mas não, isso era puramente real.

— Você cortou o cabelo — Foram as primeiras palavras dele para mim. Olhei as pontas que estavam bem mais curtas agora.

— Ah, sim, Eduarda disse que seria bom depois que eu... — Interrompi as palavras me lembrando do acontecimento anterior a esse.

Certo, eu tinha me dopado com remédios. Tinha colocado tantos comprimidos além da minha garganta que aconteceu bem mais do que uma simples sensação de êxtase, mais do que uma inconsciência normal.

— Ficou linda — Ele pareceu entender o que eu quis dizer — Como... Como você está?

A pergunta era como uma faca atirada em meu peito e derrepente eu não consegui mas segurar as dezenas de mariposas em meu estômago prontas para me sufocar. Minha única reação foi correr em sua direção e passar os braços ao redor de sua cintura antes desabar, ele me apertou com força em seus braços.

— Que inferno, Mateo, você me deixou aqui, me deixou mesmo sem pensar — Apertei sua pele ao máximo que pude e inspirei seu cheiro me recordando de todas as vezes que pude sentir sua fragrância. Jurava que ele estava fazendo o mesmo.

— Me desculpa, por favor — Ele sussurrou mas era tarde para desculpas. Eu era um ninho de emoções sem controle.

— Por acaso você sequer pensou em meus sentimentos, cogitou a idéia de que eu precisava mesmo de você?! — Gritei de forma furiosa mas não consegui sair daquele abraço — Porra, eu precisava disso... Precisa de você, Mateo.

Ele me apartou em seus braços fortes e desejei que minha vulnerabilidade não estivesse tão a mostra assim, mas a verdade era que ele já tinha visto tudo de mim, até as coisas mais sombrias.

— E você cogitou a idéia de que morrer era a melhor saída para isso... Estava mesmo disposta a se matar por algo assim? — Ele deu um passo para trás e segurou meu rosto, fazendo com que nossos olhos ficassem grudados e eu notasse o quão pior estava de mim — Têm idéia do que eu iria fazer quando pensei que nunca mais poderia te vê? Caralho Morgana, eu literalmente não viveria sem ter sequer um resquício seu em minha vida! Você é louca da cabeça?

Me afastei de seu toque e olhei para o homem por completo. Ele estava preocupado comigo, alguém realmente estava preocupado comigo. Não qualquer pessoa, não qualquer desconhecido, mas o meu homem, o único que carregava meu coração.

Engoli o choro a força e limpei minhas bochechas encharcadas. Éramos dois fodidos e não tinha outra definição para isso, pois só pessoas verdadeiramente problemáticas estavam dispostas a acabar com sua própria existência por não ter seu amado.

— Pensei que estivesse decepcionado comigo, você soube de tudo, e aquela conversa... Eu... Eu não consegui suportar, não quando aquele olhar vinha de você.

— Acha mesmo que eu não sabia dessa parte de sua vida?! Acha que não investiguei o quanto você se sacrificou para poder sobreviver? Pior, você acha que eu seria capaz de odiar minha única felicidade por ela ter lutado pela proteção do próprio irmão? Eu jamais olharia para você com outro olhar que não fosse admiração.

— Então por que me deixou ir?! Por que me trancou aqui e sequer veio me visitar?... Você se importou na necessidade que tenho da sua presença? — Minhas palavras pareceram surpreender ele.

Um silêncio atingiu o cômodo que nós dois estávamos. Uma quietude mortal e cheia de emoções inexplicáveis diante a minha revelação.

Uma dependência, eu tinha mais do que carinho por aquele homem, tinha mais do que sentimentos bobos e passageiros por ele. Eu dependia de Mateo, dependia de sua existência para a minha vivência.

E é justamente por reconhecer isso que tinha apenas um caminho melhor para esse situação. Olhei meu professor com afeições muito mais desconcertante do que antes.

— Eu vou embora, vou fugir com Pedro.

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