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MATEO
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝

Nunca tive muitas dificuldades para dormir, sempre me entupi de remédios e caí na cama como um bebê, mas essa noite, foi de longe, uma das piores que já tive. Nunca pensei que teria tantos problemas em fechar os olhos.

Eu tinha uma desconhecida no quarto ao lado e isso nem era o que me causava medo, por algum motivo confiava cegamente em Morgana. Mas tinha que falar o quanto ela conseguiu tomar meu sono.

O fato de deixar minha aluna viver comigo era assustador, mas a idéia de ter uma criança dentro dessa casa e sobre minhas responsabilidades era ainda pior.

Nunca me dei bem com esses pequenos, sempre pensei que minhas habilidades com eles seriam desenvolvidas quando tivesse um filho, mas infelizmente a rota da vida mudou totalmente esse destino. Um filho perdido já era dor o suficiente para eu saber que não tinha nenhuma intenção de me casar e arrumar crianças para a cabeça.

Saí do banheiro com toda a minha higiene matinal completa, estava pronto para encarar a vida. Coloquei alguma roupa para o trabalho e não dediquei tanto tempo no espelho para saber se estava mesmo adequado para o trabalho.

Me afastei do quarto e o primeiro sinal de algo diferente atacou meu nariz, o cheiro de comida recém feita fez meu estômago roncar. Isso era estranho.

Fui em direção a cozinha e me surpreendi ao notar o que estava diante a mesa. Tinha torradas, ovos mexidos, pães e outros complementares de um café da manhã. Meus olhos foram até a garota que lavava uma pequena pilha de louça.

— Ah... Bom dia? — Morgana me olhou assustada.

— Mateo, pensei que ia acordar mais tarde hoje.

— Tenho aula já de manhã — Coloquei minha bolsa em uma das cadeiras — Você que fez isso tudo?

— Sim, pensei que você estivesse precisando de uma boa refeição para hoje.

Pensei que quando eu acordasse e desse de cara com minha aluna as coisas seriam estranhas, mas isso era bem pior do que eu tinha imaginado. Ela fez comida para mim?

— Não costumo comer de manhã, mas obrigado — Sentei em uma cadeira e comecei a me servir.

— Precisa de ajuda com alguma coisa? — Ela parecia ter engolido todo o orgulho para falar essas palavras. Foi aí que eu entendi o que estava acontecendo.

— Morgana, você sabe que não é minha empregada, não é?

— Claro que não sou — As palavras da garota saíram no impulso — Quer dizer, eu só quero ajudar da melhor forma possível.

— Pode ajudar fazendo o que eu falei ontem, indo para escola e cumprindo sua única obrigação.

— Ainda não tô pronta.

— Não posso deixar que prejudique seus estudos.

— Não se preocupe, eu vou voltar, só preciso de mais um pouco de tempo — Seus olhos se entristeceram.

— O que pretende fazer hoje? — Mordi um pedaço da torrada crocante.

— Vou visitar Pedro, agora que ele acordou tenho muita coisa para contar — Era tão estranho vê uma criança cuidando de outra.

— Mande lembranças para ele, falarei com alguns amigos hoje para ajudar na nossa situação.

— Obrigada mais uma vez — Ela me olhou com uma mistura de sinceridade e tristeza que fez eu sentir uma dorzinha no peito.

Essa não era a garota que eu tinha conhecido a alguns meses atrás. A que estava diante de mim era bem diferente da orgulhosa e língua afiada aluna que eu tinha conhecido. Isso me fazia ter um certo tipo de preocupação.

~#~

O dia não tinha sido dos piores no trabalho, consegui sair mais cedo por não ter mais aulas no meu horário e isso foi minha grande salvação, os alunos estavam cada vez piores.

Juntei todas as minhas coisas e saí da escola as pressas. Durante meus intervalos entrei em contato com algumas pessoas que podiam me ajudar e cheguei a conclusão que teria que recorrer ao pior método possível, não tinha escapatória.

Fui em direção ao meu carro e entrei finalmente escutando apenas o silêncio. Passei a mão no meu rosto e pensei como faria para resolver isso.

Os últimos dias têm me dado mais dor de cabeça do que eu esperava. E foi como se Jonathas tivesse um ímã para me ligar, assim que sai recebi a chamada do meu amigo.

Olhei para tela e tentei entender o que o homem queria a essas horas. Atendi sem pensar muito no que tínhamos para conversar.

~ O que você quer? — Fechei os olhos buscando por qualquer paz momentânea.

~ Como assim você adotou a porra de uma criança, Mateo!? — A voz descontrolada foi bem notável.

~ Jonathas, como você sabe disso? — Uma parte de mim despertou preocupação.

~ Eu simplesmente cheguei no seu apartamento e tinha uma garota bem familiar arrumando suas coisas, pode me explicar por que não me contou nada?

~ Você tá no meu apartamento?! Meu Deus, eu vou te matar.

Liguei o carro as pressas e dei partida com ele o mais rápido possível, não controlei meu desespero. Será que Morgana estava com ele?

~ Eu tô sim e só para você saber a sua amiguinha me contou tudo.

~ Jonathas não fale com a Morgana, juro por Deus que arranco seus olhos se assustar ela — Desliguei a ligação e acelerei o carro mais rápido possível.

Eu confiava no meu amigo, sabia que ele jamais faria algo de ruim que me deixasse com nojo absurdo dele, mas não queria Morgana desconfortável na minha casa, muito menos que ela deixasse de confiar em mim depois de muita luta.

Nunca passei por tantos faróis vermelhos em minha vida quanto hoje. Foi necessário adquirir algumas multas para garantir que meu amigo não falasse nenhuma besteira.

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