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MATEO
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝


A sala dos professores era, sem dúvida nenhuma, a minha parte favorita da escola e o motivo disso era simples. Primeiro, era um espaço onde tinham adultos para conversar, segundo, você sabia da vida dos professores e terceiro você sabia da vida dos alunos.

Alguns poderiam me chamar de fofoqueiro e até mesmo de sem educação, mas o que podia fazer se os meus colegas de trabalho não conseguiam disfarçar suas conversas?

Terminei de tomar o meu café e joguei o copo descartável na lixeira, onde Jane e a professora Magda conversavam perto dali, era algo envolvendo provas bimestrais.

Quando estava prestes a voltar para o meu lugar a porta foi aberta. A diretora e a coordenadora entraram e todos prestaram atenção.

— Professor Mateo, pode me acompanhar? — Raquel disse de uma forma dócil o que me fez relaxar. Não era nenhuma bronca.

Fui até as duas mulheres e senti um olhar mais penetrante sobre mim, a loira ao lado da diretora parecia bem curiosa. Fechei a porta e fiquei de frente para elas no corredor.

— Aconteceu alguma coisa?

— Professor Mateo, essa é a nossa coordenadora, Paula — Coloquei minha atenção sobre a mulher.

— É um prazer — Estendi a mão em direção a dela e senti seu aperto firme.

— Bom, você disse que precisava conhecer melhor a escola e como ontem não conseguiu acompanhar a tour com a Jane e Michael, eu decidi que Paula ia te mostrar tudo, se não for problema.

Sim, eu já tinha estudado aqui por longos anos da minha vida, mas tudo estava tão diferente que eu nem sabia a localização do banheiro. Por isso pedi que Raquel me ajudasse com essa questão.

— Não tenho aulas nesse período, então acho que não têm nenhum problema.

— Que ótimo! Agora eu preciso resolver algumas coisas, então vou deixar vocês a sós, boa sorte — Raquel direcionou um sorriso em minha direção e logo se afastou.


Olhei para a loira que havia ficado e notei sua beleza de rosto, ela não parecia ruim.

— Podemos começar?

— Claro — A mulher começou a andar e eu a segui.


~#~


Paula era a pessoa mais agitada que eu já havia conhecido. A mulher era muito mais expressiva do que eu esperava.estava com expectativas de que fossemos andar em silêncio e ela manteria aquela postura séria de sempre, mas tive a sensação que estava tendo uma tour com um papagaio de tanto que ela falava.

Não poderia culpar Paula por isso, talvez fosse só o jeito dela, mesmo assim era um pouco irritante.

Finalmente saímos da última sala e fomos até o corredor mais longo. Começamos a andar devagar até por fim ela dizer:

— Acho que isso é tudo o que tinha para mostrar.

— Obrigada coordenadora, acho que agora é melhor ir para a sala dos professores, preciso pegar minhas coisas para começar a aula.

— Mateo, espera — Olhei para ela confuso — Como você é novo por aqui eu imagino que ninguém tenha te mostrado a cidade ainda, por isso eu pensei que poderíamos sair para jantar talvez, se você não tivesse ocupado.

Paula era mesmo bonita, na maioria das vezes ela parecia uma mulher nervosa e antipática, mas ela era o tipo de mulher que eu ficaria. Será mesmo que era uma boa idéia sair com alguém do trabalho?

— Claro, quando você tá disponível? — Ela abriu um sorriso aliviado.

— Pode ser hoje.

— Perfeito, depois pega meu número e a gente conversa melhor — O brilho no seu rosto se instalou.

O sinal tocou no mesmo instante que voltamos a andar e aos poucos os alunos foram saindo em direção ao refeitório, fui desviando de todos os corpos.

Eu gostava de dá aulas? Sim, muito na verdade. Mas eu gostava de adolescentes? Não, de jeito nenhum. Não que eu odiasse todos, mas precisávamos combinar de que aqueles hormônios afetava todos os neurônios daquelas cabecinhas sem juízo deles.

E enquanto todos indo passando com pressa, uma única pessoa me chamou atenção. Olhei Morgana andando distraída no celular.

— Paula, você conhece a aluna Morgana Carter?

— Morgana? Acho que todos nessa escola conhecem ela — O desdém na sua voz foi algo perceptível.

— Tenho a impressão que não gosta dela — Disse fingindo uma despreocupação.

— Não me entenda mal, eu sou uma ótima profissional, mas aquela garota é simplesmente insuportável. Ela é uma péssima aluna, os alunos a odeiam e não tem nenhuma responsabilidade com os estudos.

— Os responsáveis dela não implicam com isso?

— A realidade é que aquela garota é estranha, pelo o que sabem o pai dela morreu e a mãe, apesar de ser um anjo, já parece ter desistido da filha a muito tempo.

— Por que diz essas coisa?

— É que ninguém sabe direito sobre a vida dela, mas essa é, sem dúvidas, uma péssima aluna, você vai querer ficar longe dela. Acredita que Morgana já até quebrou o nariz de um garoto?

Confesso que a última parte me assustou.

Observei Morgana se afastando e tentei entender o que se passava naquela cabeça, ela tinha mesmo algo de interessante. Essa garota parecia ficar na defensiva até mesmo com os amigos.

Senti meu celular vibrando dentro do bolso e me despertei dos meus pensamentos. Peguei o aparelho e notei quem me ligava.

— Paula, preciso atender essa ligação, mas nos falamos depois sobre o jantar.

— Tudo bem, vou subir para falar com a diretora — A mulher se afastou me deixando sozinho.

Atendi a ligação já com um sorriso no rosto.

≈ Eu não posso mesmo acreditar que você voltou para a cidade e não veio vê seu melhor amigo — Sua voz foi o motivo da minha felicidade.

≈ Oi para você também, imbecil — Escutei sua risada do outro lado da linha.

≈ Como você tá idiota?  Eu pensei mesmo que você não ia mais voltar — Seu tom pareceu mais preocupado.

≈ Eu tô... Ocupado, no momento tô no trabalho.

≈ Mal chegou e já está trabalhando? Que saco, então podemos nos vê hoje a noite?

≈ Hoje a noite não dá, vou sair com uma pessoa.

≈ Essa pessoa por acaso vai terminar a noite com a buceta no seu pau? — Soltei uma risada sincera.

≈ Você continua com a mesma delicadeza de antes, mas isso não é da sua conta.

≈ Você é um merda por trocar seu amigo por uma mulher — Revirei os olhos — Caso mude de idéia me liga e vê se não some dessa vez.

≈ Pode deixar — Desliguei o celular e respirei de alívio.

Como eu pude me afastar do meu único amigo de verdade?

Antes mesmo de poder aproveitar um pouco mais da minha felicidade, vozes em conjuntos começaram a surgir do patio. Estava mais agitado que o comum.

Isso não parecia nada bom.

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