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MORGANA
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝


Eu nunca fui uma pessoa de sentir medo das coisas, sempre que um desafio surgia em minha vida eu ultrapassava ele. Mas dessa vez eu tinha muito a temer e tudo por causa de um descuido com um professor idiota.

Dançar em uma balada noturna era um risco frequente a ser tomado, eu sabia que qualquer um poderia entrar alí livremente, mas jamais tinha encontrado um conhecido com exceção a ontem. E ainda por cima tinha que ser a pior pessoa possível.

Sabia o que me aguardava assim que o sinal tocou e não foi atoa que pedi para Lia sair da sala sem mim. Apenas pelo olhar do Mateo eu deduzi que uma conversa estressante estava prestes a acontecer.

Enrolei para guardar meu material e fiquei sozinha na sala sem levantar suspeitas de nada. Dei um tempo para seguir até meu professor e parar em frente ao moreno apoiado na mesa com o braços cruzados, o desgraçado até que tinha uns músculos bonitinhos.

— Não posso demorar muito — Foi a minha forma de cumprimento.

— Eu decidi não contar nada para os seus responsáveis... Sobre o que aconteceu ontem — Apesar do alívio uma sensação de suspeita me atingiu — Mas vou precisar de algo em troca.

— É claro que vai — Meu murmurinho quase foi imperceptível. Afinal, nada era de graça — Se quer alguma coisa mais íntima...

— Não, Morgana — Olhei para ele desconfiada — Não quero nada que envolva seu corpo sem roupas.

— Minha boca?

— Muito menos — Coloquei uma concentração maior nas suas próximas palavras — Quero que tenha aulas particulares comigo.

— E isso não é um código para sexo com aluna?

— Talvez para outros, mas não para a gente, isso vai ser puramente ético — Refleti as palavras em silêncio.

Sim, já havia me ocorrido de receber propostas sexuais de professores o que resultou em uma ótima denúncia sem indentidade com direito a demissão. Mas agora era diferente, eu estava nas mãos do Mateo e não precisava de mais nenhuma fofoca sobre mim, então se era isso que ele queria...

— Como essas aulas funcionam?

— Podemos ir para a minha casa e...

— Sua casa não — Interrompi — Se não vai ter nada relacionado a toques íntimos então podemos estudar na biblioteca do bairro.

— Por mim tudo bem — Ele abriu um sorriso convencido. Idiota — Começamos amanhã e não se preocupe, não sou um desses babacas que você fica, se não quiser nada comigo então não vou nem chegar perto de você

— Se eu não quiser? Então quer dizer que você quer? — Foi minha vez de sorrir e vê ele ficar quase um pimentão.

— Eu não quis dizer isso, quer dizer, não quero te ofender mas... Isso seria tão antiético e... — Uma risada sincera saiu de mim o que fez ele parar — Muito engraçadinha você.

— Até amanhã professor — Me afastei dele mas antes de sair algo surgiu em minha cabeça — Mateo.

— Sim?

— Por que quer tanto me dá aulas particulares se não têm interesse em mim? — Ele refletiu minhas palavras.

— Porque você merece algo melhor do que têm, algo melhor do que está aprisionada com aquele seu padrasto e mãe — Meu coração deu um sinal de vida pela primeira vez em algum tempo.

Algo melhor. Como ele sabia... Sentimentos estranhos me atingiram.

— Até amanhã, Morgana.


~#~


A escuridão pela casa revelava que todos já haviam se recolhido e provavelmente estavam dormindo. Não cheguei a tempo de colocar Pedro na cama.

Quando saí da escola me permiti passear um pouco pelas ruas, isso acabou demorando mais do que eu pensava. As vezes fazia isso, quando eu sabia que meu padrasto não estava em casa para descontar suas raiva não meu irmão e minha mãe estava de bom humor. Apenas sair vagando por alguma ruas paralelas era bom para a mente.


Geralmente isso acontecia quando minha cabeça estava tão cheia de problemas que eu não aguentava ficar presa a essa casa, mas dessa vez foi diferente. Não tinha ódio no meu coração, pelo menos não muito, mas algo quase parecido como paz se instalava em mim. Era uma sensação tão desconhecida.

Subi pelos degraus da grande escada e tomei cuidado ao virar no corredor, não queria acordar ninguém. Olhei a porta branca com algumas folhas de desenho e dei um sorriso para a madeira pintada de azul. Meu pequeno.

Me aproximei com cuidado e girei a maçaneta, logo em seguida passando pelo arco da porta e entrando no cômodo. Senti o cheiro gostoso de perfume de bebê.

Fui até a cama com cautela e me abaixei para ficar na altura do menino deitado alí, ele abriu os olhos sem relutância, já estava acordado.

— Você demorou de novo — Foram as primeiras palavras do Pedro.

— Me desculpa, eu precisei sair um pouco — Ele sentou na cama esfregando os olhinhos.

— Ontem você também saiu, mas chegou bem mais tarde e estava tão triste — O moreno me deu espaço em sua cama e eu me deitei.

— Eu sei, não queria ter te deixado aqui sozinho — Beijei o topo da sua cabeça — Você tá bem?

— Sim, o papai ainda não chegou e a mamãe parece triste, mas pelo menos não teve briga — Um sorriso tristonho se instalou em meus lábios — Desculpa, Mo.

— Te desculpar pelo o que?

— Não consigo te defender das pessoas que te fazem mal.

— Do que tá falando Pedro?

— Eu sei que as pessoas da escola não gostam de você e que o papai faz coisas ruins — Minhas batidas aceleraram — Mas não se preocupa, quando eu ficar bem forte vou te defender de todo mundo.

— Pedro... — Água se acumulou nos meus olhos.

— Te amo, Mo — Ele beijou minha bochecha e voltou a se deitar me deixando com aquelas palavras tão carregadas.

Como eu poderia deixar um ser desses com pessoas tão cruéis? Quanto o mundo poderia estragar o meu pequeno?

Certo, eu tinha muito por quem lutar.

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