Nosso Segredo

19

•MATEO•
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝

Nunca pensei que o problema de uma aluna iria interessar tanto a ponto de me questionar tanto sobre o meu futuro. Que tipo de besteira eu sou capaz de cometer?

Olhei Morgana sentada diante a mesa e notei sua aparência abatida, o irmão mexia tanto com ela que eu me preocupava se em algum momento a garota ia cair dura no chão. Ela estava visivelmente abalada.

Com certeza o fato do Pedro acordar tão derrepente foi uma baita de uma surpresa, acho que nem mesmo a assistente social esperava por aquilo.

Assim que o garoto acordou ela correu até o irmão e esqueceu totalmente a briga que estávamos tendo, Morgana verificou o irmão da cabeça aos pés e se certificou de que ele estava mesmo bem. No fim das contas a única coisa que o menino tinha era os hematomas e algumas partes pouco doloridas, mas ele estava bem.

Foi estranho vê aquele garotinho realmente acordado, uma coisa era vê-lo inconsciente e outra era escutar aquela voz. Foi uma sensação inexplicável.

Peguei a caneca e o bolo em minhas mãos e me aproximei da mesa em que ela estava sentada com um semblante que eu nunca tinha visto em minha vida.

Coloquei o prato na sua frente e ela despertou de imediato, ofereci a caneca com chocolate quente em sua direção. Ela gostava de doce, de preferência bolos super recheados do tipo aniversário, eu acho.

— Por que tá me dando isso?

— Você não parece ter comido muita coisa.

Sentei na sua frente e tentei perceber o que ela sentia. Morgana era a porcaria de uma incógnita para mim.

Ela me olhou com dúvida por um tempo mas logo pegou a colherzinha e começou a comer o bolo, um alívio suspirou dentro de mim e eu só consegui agradecer por ela ter colocado comido na boca. Eu já tinha uma criança no hospital para me preocupar, não precisava de outra.

Pensei em como quebraria aquele clima e procurei a melhor solução para resolver tudo.

— Como você tá se sentindo?

— Não quero conversar.

— Você precisa fazer isso.

— Não, eu não preciso — Ela estava irritada?

Respirei fundo e controlei meus ânimos. Ela estava passando por um momento difícil e eu não podia debater com uma adolescente

— Não é bom guardar as coisas para você, Morgana.

— Por que insiste tanto em se intrometer na minha vida? — O jeito que ela discutia e comia bolo era até engraçado de vê.

— Não tô me intrometendo, tô te ajudando — Ela me olhou com a mais pura raiva e continuou se entupindo de massa e chantilly.

Na minha cabeça Morgana era bem mais frágil do que aparentava, apesar de tudo o que aconteceu ela ainda era só uma criança. Gostaria que ela tivesse pelo menos um amigo para conversar.

Não Lia, ela até podia ajudar em uma coisa ou outra, mas mesmo assim a garota agia como se tivesse andando com um desconhecido, era até assustador. Por que eu me importava? Eu devia me preocupar? Isso é coisa de professor, não é?

— O que você vai fazer com seu irmão agora? — Ela paralisou com o assunto sensível. Não quis ser tão direto — Me conta, por favor.

Morgana suspirou e largou o garfo com o pedaço de bolo que ficou no prato.

— Eu não sei — Seus ombros descarregaram como se tivesse tirado um peso — Não posso fazer nada em questão a isso.

— E se alguém estiver disposto a te ajudar?

— Quem faria isso? Eu literalmente não conheço ninguém de confiança para me ajudar em um momento como esse e mesmo se conhecesse, quem me garante que isso vai ser de graça? A única coisa que posso fazer é torcer para meu irmão ir para um lugar bom.

Seus olhos carregavam uma tristeza, eles estavam cobertos de dor e desespero, mas eu ainda tinha tanto receio de fazer algo referente a isso.

O celular dela tocou e nós dois olhamos em direção a tela que estava em cima da mesa. Era uma ligação de um tal de Robert.

— Eu preciso ir agora — Ela pegou sua bolsa e o celular — Prometo que vou te pagar pelo bolo de hoje e o do outro dia.

Vi a morena pronta para sair com pressa e meus extintos apitaram no mesmo instante. Ela tinha mesmo que ir embora?

Porcaria Mateo, eu ainda me mataria pelas minhas tomadas de decisão precipitadas.

Mas como eu resistiria aquele rosto tão... Dela? Eu preferia ouvir Morgana me xingando por horas do que vê algum tipo de preocupação no seu rosto. Ela mal teve tempo para se despedir do seu irmão, isso era injusto.

Segurei o braço dela e fiz a atenção da minha aluna ficar sobre mim novamente. Certo, aquilo era uma loucura e eu estava completamente disposto a fazer.

— Morgana, espera — Meu coração batia tão rápido — Acho que posso te ajudar.