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MORGANA•
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝

Uma explosão de sentimentos me atingia sem deixar que eu pensasse com consciência nas coisas. Ele estava na minha frente, a primeira pessoa que me deixei abrir por alguns minutos estava parado na minha frente.

Mateo sentou ao meu lado e instantaneamente o gato preto passou do meu colo para o dele. O moreno afagou o felino fazendo ele soltar um ronronado gostoso.

Uma onda de brisa gelada passou por nós fazendo meus pelos arrepiarem, o sol quente foi a única coisa que conseguiu conter um pouco do frio. Eu mal conseguia manter contato visual com o homem ao meu lado.

— O que tá fazendo aqui? — Ousei falar as minhas primeiras palavras.

— A diretora pediu para que eu viesse com ela representar a escola — Uma risada triste escapou da minha boca — O que foi?

— Acha mesmo que a escola se importa com isso tudo?

— Não, mas é sempre bom manter as aparências, não é? — Suas palavras foram sinceras antes de um silêncio curto cair entre nós — Eu sinto muito.

— Por favor não, se eu tiver que ouvir mais uma declaração de pêsames eu juro que surto — Meu murmurinho saiu como se eu não tivesse medo de falar o que penso com ele.

— Sei o que tá sentindo, Morgana, e é horrível passar por isso sozinha.

— Sabe? — Deixei que nossos olhos se encontrasse — Quantas hamsters teve que perder para dizer isso? — Sua risada sem graça foi estranhamente triste.

— Minha noiva morreu grávida do nosso filho — As palavras foram como uma estaca de gelo cravada em meu peito.

Puta merda. Muita coisa tentava se processar dentro da minha cabeça. Ele tinha noiva? Um filho? Por que minha boca só conseguia falar besteiras?!

— Desculpa, eu não tive a intenção de machucar.

— Tudo bem, não tinha como você saber — Vergonha me atingiu em segundos. Eu tinha mesmo que estragar mais as coisas?

O barulho das folhas balançando foi a única coisa que emitiu som por alguns segundos. O silêncio pesado era como um amontoado de arranhão em minhas costas. Não tive a intenção de machucar ninguém, ou talvez eu estava só tentando o atingir com palavras para acabar com aquela situação o mais rápido possível.

Desde quando passou ser tão difícil conversar com alguém?

— Como você superou isso? — Olhei para o moreno que parecia um retrato de reflexão.

— Não superei, você nunca supera.

— Isso não é muito reconfortante.

— Não posso mentir para você, a gente só... Aprende a viver com esse vazio.

— E se você não sentir um vazio? — Seus olhos vieram até mim intrigados — Se você só sentir... Suja, pesada.

— Então você se sente culpada pelo o que aconteceu — O gato se esfregou na barriga dele como se pedisse para que o carinho com a mão voltasse, mas Mateo não pareceu notar — Se sente culpada, Morgana?

— Eu... — Engoli em seco como se cacos de vidro estivessem acumulados em minha boca — Não sei.

— Por que... O que aconteceu quando você sumiu?

— Não quero falar sobre isso.

— Precisa falar.

— Não é da sua conta!

— Você me envolveu nisso, então sim, é da minha conta! — Seu grito foi mais alto do que eu imaginava — Porra, por que até em dias como esses precisamos brigar?!

— Você que começou! — Levantei do banco totalmente estressada — Se arrependimento matasse eu já estaria em uma dessa covas.

Tentei andar para longe mas não consegui dá dois passos antes de ser puxada.

Mateo me fez olhar para ele e eu não questionei muito para onde o gato havia ido ou o porque ele me segurava com tanta força pelo pulso mas ao mesmo tempo com tanta delicadeza, como se a qualquer momento eu fosse quebrar. Seus olhos tinham raiva, muita raiva, mas um pingo de preocupação também ocupava aquelas pupilas.

— Quero que confie em mim.

— Eu te envolvi nisso, não foi o que disse? Agora tô dizendo que não preciso mais de você — Tentei me soltar mais ele colocou mais pressão.

— O que aconteceu?

— Mateo...

— Não, você precisa me falar porque a idéia de alguém ter te machucado tá me consumindo por noites!

— Por acaso você se importa?

— Sim, caralho! Eu me importo com você! — Aquilo foi uma surpresa até mesmo para mim — Você é idiota, imprudente, uma adolescente que mal têm educação para falar com os mais velhos, mas não merece ser machucada, não merece o que te fizeram, e não venha me dizer que aquela casa te fazia bem ou as duas pessoas que está enterrando hoje. Eu sei que algo aconteceu, sei que você não é assim por tão pouco.

— Eu sou só uma aluna, Mateo, e você é só um... — Aquilo iria machucar ele? — Você é só um professor, que está passando por muitos limites éticos.

— Acredite, eu ainda tô bem dentro do limite ético — Meu coração não parava de acelerar, ele estava próximo de mais... — Quando eu te encontrei naquela rua você estava destruída, Morgana, algo aconteceu naquele dia, não é?

— Por favor, não... Eu não quero falar sobre isso — Lágrimas se acumularam nos meus olhos.

— Morgana... — Ele soltou meus pulsos devagar e levou as mãos até minhas bochechas — Você tá bem? Desculpa, eu não... Foi sem querer, acho que me alterei.

— Você não têm o direito de me forçar a dizer nada — Passei a mão no rosto com força cheia de ódio por deixar as lágrimas escaparem.

— Desculpa — Ele repetiu limpando minhas bochechas com delicadeza — Precisa de alguma coisa?

— Eu só quero sair daqui.


Afastei a porcaria das lágrimas rapidamente e olhei para meu professor que tinha expressões inexplicáveis no rosto. O que passava na mente desse homem? Ele parecia avaliar até minha alma.


— Na primeiro vez que te vi, naquele terraço da escola, te chamei para tomar café comigo, mas você disse para deixarmos para outro dia.

— E o que têm isso?

— Por acaso tá com fome agora?

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