•MORGANA•
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝As vezes sentia que quando algo novo acontecia em minha vida, mais um bilhão de problemas vinha junto com a novidade. Essa minha teoria estava cada vez mais se confirmando.
Não era segredo para ninguém que eu e Mateo tivemos um desentendimento desde o momento que nos conhecemos. Mas desde o dia em que fomos naquele escritório e o velho disse que teríamos que fingir ser um casal, a relação pareceu ter sofrido uma grande alteração, eu só não sabia identificar se era para pior ou melhor.
Teríamos que mudar diversos hábitos nossos se quisermos que a tutela do meu irmão fique com Mateo, o único problema era que eu tinha uma absoluta certeza que não conseguiríamos, tudo isso porquê não tínhamos nenhum afeto um pelo outro.
Poucos dias se passaram desde que aquela estranha conversa com o advogado aconteceu, o clima no apartamento estava pesado, mas no momento eu não pensava em nada disso.
Peguei na mão do meu irmão que parecia muito melhor, ele conseguia sorrir e brincar mesmo com tudo que aconteceu. Era mesmo um anjinho na minha vida.
— Então os carros voadores chegaram e começaram a derrubar um montão de balas coloridas do céu e todas as crianças corriam para pegar! — Sua animação foi visível apenas na voz.
Pedro me contava seu sonho que envolvia um reino de cachorrinhos, uma população só de crianças e carros voadores. Sua imaginação sempre foi bem fértil para essas coisas.
— E aposto que o senhorzinho também foi se acabando pegar essas balas — Cutuquei sua cintura e ele soltou uma risada gostosa.
— Claro que não, eu estava dirigindo o carro — O brilho em seus olhos fez meu coração se encher de alegria.
Sempre foi assim quando eu estava com ele, me sentia viva de tantas formas que não conseguia passar um minuto sem pensar em meu irmão. Minha única felicidade estava sendo carregada por um sorriso que nem tinha todos os dentes.
O som do meu celular tocou e foi como se um pesadelo me acordasse do melhor sono que já tive. Derrepente a realidade voltou para mim e eu notei que não poderia ficar ali por mais tempo.
Os momentos de despedida eram sempre os mais difíceis de digerir. O tempo bem que poderia parar apenas para que eu pudesse admirar um pouquinho mais o rosto da minha criança.
— Pedro, agora eu tenho que ir, mas amanhã eu volto para você me contar mais sonhos, pode ser? — Fiz carinho em sua mão e vi suas expressões ficando tristes.
— Mo, eu não quero ficar aqui sozinho — Seu tom de voz fez meu peito doer.
— A assistente vai ficar com você, não gosta dela?
— Ela sempre ronca quando dorme e não conta boas histórias quando eu tenho algum pesadelo — Senti a dor de não poder fazer nada em questão a isso.
Tecnicamente Pedro não tinha nenhuma família por enquanto, até sua adoção ser realizada ele tinha que ficar com funcionárias das leis de crianças e adolescentes. Uma grande baboseira que só me atrapalhava.
— Olha, vou te contar um segredo, mas você tem que prometer que não vai falar para ninguém — Segurei sua mão e vi seus olhos entristecidos virarem curiosidade pura.
— Eu prometo que não vou falar para ninguém — E ele realmente não falaria. Pedro guardava muito bem segredos.
— Eu conheci um homem que pode nos ajudar nesse momento e se tudo dê certo nós dois vamos voltar a morar juntas bem rápido.
— Tá falando sério? — Seu sorriso banguela fez eu retribuir o gesto.
— Claro que sim! Mas agora eu tenho que ir e você vai ficar aqui por mais um tempinho.
— Tudo bem! Não demora para me visitar, por favor.
— Pode deixar meu pequeno.
Levantei da cama e me aproximei de sua bochecha para poder deixar um beijo na sua pele. O menino aceitou e eu logo me afastei.
— Não apronte nada — Foi a última coisa que disse antes de pegar minha bolsa e ir em direção a saída.
Assim que abri a porta surpresa atingiu meus olhos. Vi Mateo ao lado da assistente social me olhando.
— O que você tá fazendo aqui? — Fechei a porta atrás de mim.
— Você demorou muito para me encontrar lá na frente, por isso vim garantir que estava tudo certo com você, meu amor.
Eu tinha muitas coisas para falar sobre aquele tom de voz carinhoso, mas as palavras "meu amor" me deixaram desconcertadas por um segundo. Mateo estava ficando louco ou só queria que eu desse um soco na sua cara?
— Ah sim, o senhor Clarck estava me falando sobre vocês — A mulher que acompanhava meu irmão falou. Ela parecia emocionada — Ele me explicou que na última vez em que estavam aqui tinham brigado, desculpa por ter falado aquelas palavras para você Morgana.
— Ah, é mesmo? — Olhei meu professor com um sorriso falso — O que mais Mateo disse?
— Não se preocupe, ele só falou coisas boas de você, seu noivo é mesmo uma boa pessoa, querer adotar seu irmão é uma causa tão nobre.
Olhei para o Mateo e mostrei minha vontade de matar ele, mas o homem pareceu ter ignorado isso. Ele se aproximou e colocou a mão em minha cintura.
— Foi um prazer conhecer voce — Os dois apertaram as mãos — Mas agora eu e minha noiva temos que ir, quando tivermos mais tempo com certeza vamos voltar aqui e te vê.
Os dois se despediram e eu guardei minha raiva para mim, poderia matar Mateo em casa. A assistente era burrinha de mais para acreditar em uma mentira tão simples, mas eu não esqueceria disso tão rápido.
Andamos até a saída e tirei sua mão de minha cintura assim que passamos pelas portas da frente do hospital. Olhei para ele com ódio.
— O que foi? — O sínico perguntou como se não tivesse feito nada.
— Por que falou aquelas coisas para a assistente?
— Porque foi isso que combinamos de falar para as pessoas, vai ter que ser menos estressadinha se quiser que isso dê certo — Ele foi em direção ao carro e abriu a porta para mim — Pode entrar, querida.
A vontade de cortar aquele sorriso de sua boca foi grande mas eu me controlei o bastante para apenas entrar no carro. Juro que ainda mato esse homem enquanto ele estiver dormindo.
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Nosso Segredo
FanfictionO tão sonhado, último ano do ensino médio, acaba de começar para Morgana, uma jovem impulsiva, magoada e com cicatrizes abertas que ainda não se curaram. Com novas mudanças na escola e na sua vida particular tudo se desestabiliza, principalmente qua...