•MORGANA•
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝
Eu detestava julgamentos e não fazia questão de esconder isso. Tinha um enorme sentimento dentro de mim que abominava todas as especulações que faziam sobre minha vida e por coincidência aquele idiota gostava bastante de perguntas.
Na maiorias das vezes eu apenas ignorava aquele crápula, mas quando ele me insultava sem nem ao menos disfarçar eu tinha sérios ataques de raiva.
Precisava de uma certa paciência para saber lidar com isso.
Continuei dobrando todas as roupas jogadas na minha cama e a cada movimento eu sentia a raiva passando pelas minhas veias. Meu coração martelava de sentimentos intensos de mais para serem contidos.
Eu detestava faltar a escola e não porque eu gostava daquele lugar, mas eu só não suportava essa casa. Porém, eu sabia que se fosse hoje mataria alguém, por isso a decisão que me pareceu ser mais certa foi faltar e fazer qualquer coisa em casa.
Por sorte eu estava sozinha, minha mãe tinha saído para o supermercado, Pedro estava na escola e Gael provavelmente estava em algum bar.
O silêncio pela minha casa era meu prazer, estar em paz e sem nenhuma confusão acontecia em raros momentos na minha vida, por isso apreciar situações desse tipo era fundamental, mesmo assim eu estava me sentindo burra e impotente por não conseguir parar de pensar naquele capeta.
Como ele pode questionar minha inteligência? Eu estava mesmo achando que aquele idiota queria me ajudar?
Respirei fundo e deixei a pilha de roupas jogada na minha cama, aquilo era muito para organizar. Saí do meu quarto sem me preocupar tanto por ainda está de pijama e andei pelo longo corredor indo em direção as escadas que dava acesso para o andar de baixo. Fui até cozinha e peguei um pouco do suco que tinha na geladeira.
Eu poderia fazer dezenas de coisas hoje, tipo terminar de arrumar o meu guarda-roupa, mas eu não estava com vontade nem de respirar, quem dera arrumar casa.
Fiquei presa em meus pensamentos por um tempo e o barulho de fechadura da porta quase passou despercebido. Assim que me virei um cheiro forte de bebida acompanhada pelo homem terrível se instalou naquele cômodo. Senti meu coração praticamente pular dentro do peito.
— Oi, Morgana — Suas palavras saíram tão emboladas quanto seus passos em minha direção.
— Gael? — Engoli em seco mas logo tratei de voltar ao raciocínio.
— Estava com saudades, querida? — Ele olhou para o meu pijama e senti o sentimento de medo entalar na minha garganta.
Eu estava sozinha naquela casa enorme, sozinha com um monstro em minha frente e com um sentimento terrível de medo e pavor. Por Deus, será que eu merecia mesmo morrer desse jeito?
Dei passos para trás tentando ao máximo passar despercebida pelo homem, mas já parecia ser tarde demais.
— Pode me responder onde você foi ontem?
— Não é da sua conta — A resposta foi de imediato.
— Você é tão mal educada que as vezes eu só consigo pensar em como as coisas seriam diferentes se fosse minha filha.
— Graças a Deus não sou — Aquilo pareceu irritar bastante ele.
— Não deveria me responder assim, não quando estamos sozinhos nessa casa e eu poderia simplesmente fazer coisas terríveis com você.
Ele se aproximou de mim e eu rapidamente saí da cozinha tentando ir em direção as escadas. Quando subi o quinto degrau ele puxou o meu pé.
A dor em minhas costas foi tão instantânea quanto a vontade de chorar. Meu corpo latejou por socorro no mesmo instante em que o homem colocou seu pé com firmeza em meu abdômen... Essa não.
— É uma pena uma menina tão bonitinha como você ter a língua tão afiada — Ele olhou para as minhas pernas e tentei afastar seu peso de mim — Acho que as consequências vão valer a pena com tudo que eu planejo.
O homem se abaixou em minha altura e agarrou meus cabelos com tanta força que eu não pude evitar me derramar em lágrimas. Ele me puxou até o quarto dos fundos e me jogou no cômodo como se eu fosse qualquer lixo.
— Gael... Por favor, não.
Ele vêm até mim e rasga a alça da minha blusa tento empurra-lo mas a única coisa que eu recebo é um tapa no rosto que garantiu o gosto de sangue em minha boca.
— Parece que agora você sabe ser educada.
— Gael...
Ele coloca seu corpo em cima de mim e eu sinto um volume nojento em minha região íntima, empurro seus ombros com força enquanto sinto seus beijos em meu pescoço.
Sinto o toque dos calos da sua mão na pele da minha perna e aquilo pareceu tão doloroso quanto o tapa que eu recebi. Por que comigo? Por que desse jeito?
— Por favor, eu não quero, eu... — O ar faltou em meus pulmões e não pude mais respirar.
Senti minha cabeça bater no pé da mesinha de canto e soltei um murmurinho de dor. Levantei a mão e meus dedos entraram em contato com um objeto. Um abajur.
Quando Gael estava prestes a tirar meu shorts eu apenas agarrei a luminária e com um mal jeito, que garantiu uma dor em meu pulso, bati com o vidro em sua cabeça. Seu grito de dor foi o que eu precisava para saber que aquilo o deixaria distraído.
O loiro colocou a mão na cabeça e senti algumas gotas de sangue em meu rosto. Ele se sentou e eu apenas o empurrei para longe de mim me deixando finalmente escapar.
Não precisei raciocínar tanto quando corri em disparado para a rua, nem sequer pensei no fato de está de pijama, ou o céu já está escurecendo, nem mesmo pensei em como minha respiração aguentava meu ritmo. Eu apenas corri para longe.
Não sabia a quanto tempo estava andando daquela forma, mas em algum momento meu corpo me obrigou a parar e quando eu caí na calçada minha visão estava embaçada pelas lágrimas.
Eu iria morrer, a morte viria até mim e carregaria minha alma para um lugar tão frio e solitário quanto minha mente. Eu teria meu corpo invadido e as pessoas sequer ligariam para isso, eu seria apenas mais um número e aquilo me atormentava tanto quanto todas as palavras praguejadas a mim, aquilo doeria tanto quanto ter olhares decepcionados em minha direção, aquilo seria tão torturante quanto a tentativa de preencher um vazio significante dentro de mim.
Se desde sempre eu quis morrer então por que só agora eu me importava com o fato de respirar?
Não me lembro muito do que aconteceu a seguir, apenas senti meu corpo caí no asfalto e logo em seguida ele ser levantado. Desmaiei sem nem recuperar a linha de raciocínio.
Depois disso tudo passou a ser gelado e silencioso. Me perdi em minha cabeça sem saber como sair.
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Nosso Segredo
FanfictionO tão sonhado, último ano do ensino médio, acaba de começar para Morgana, uma jovem impulsiva, magoada e com cicatrizes abertas que ainda não se curaram. Com novas mudanças na escola e na sua vida particular tudo se desestabiliza, principalmente qua...