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MORGANA
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝


Era visível, por minhas vestimentas, identificar que eu não era a pessoa mais responsável do planeta terra, mas hoje era um dia diferente.

Mateo não foi trabalhar, mas mesmo assim não deixou de acordar cedo e me fazer acompanhá-lo nisso. Hoje seria o dia que falaríamos com o advogado sobre a tutela do meu irmão e eu posso dizer com todas palavras que era uma das primeiras vezes que me sentia tão nervosa.

Meu professor tinha me dado uma roupa adequada para essa visita, segundo ele eu tinha que ter a melhor aparência possível, até entendia o motivo de suas palavras, mas usar uma saia, acompanhada de uma blusa que fazia meu corpo inteiro ficar coçando, não era o meu forte.


— Tenho mesmo que usar essa porcaria? — Esfreguei as unhas no meu pescoço.

— Sim Morgana, precisa ficar com uma boa aparência — Revirei os olhos e continuei andando ao seu lado.

O escritório em que estávamos era de um padrão bem mais alto do que eu esperava, nunca tive contato a coisas de auto luxo, mas isso aqui era visivelmente outro nível para mim.

O prédio era todo espelhado, as pessoas usavam roupas desnecessariamente paparicadas e as portas dos corredores mostravam grandes nomes na profissão. Como eu conseguiria relaxar diante a isso?

Mateo tinha apertado o botão do elevador em um nível mais avançado, o que já me mostrou o primeiro sinal de problema. Não sabia agir de forma educada e racional perto de pessoas importantes.

Paramos em frente a uma das portas e nós dois respiramos fundo. Será que ele pensava em desistir dessa ideia louca ou só estava desacreditado sobre meus bons comportamentos?

— Não pode falar nenhuma besteira, consegue fazer isso? — Ele me perguntou e não pude culpa-lo pela dúvida.

— Vou fazer meu melhor — Seu semblante foi desacreditado.

O homem bateu duas vezes na porta e logo em seguida uma voz envelhecida autorizou nossa entrada. Ele abriu a porta e deixei que minha máscara fosse colada em meu rosto, evitei me deslumbrar com o escritório.

— Mateo! — O desconhecido de cabelos grisalhos se levantou e veio até nós — Não sabe como fico feliz por te vê.

— Fabrício, não pudia deixar de vir te encontrar nessa situação — O sorriso do homem mostrou uma intimidade com meu professor.

— E essa moça deve ser a senhorita Carter — Ele estendeu sua mão em minha direção e eu o cumprimentei — Muito prazer, querida.

— O prazer é todo meu — Só queria que isso acabasse de uma vez por todas.

— Podem se sentar, temos muitas coisas para conversar.

Mateo apoiou sua mão em minhas costas e me guiou até um sofá que ficava na sala, acompanhei o homem até o lugar.

— Estive analisando a situação que você me escreveu por e-mail e tenho que admitir que estou surpreso, tem mesmo interesse em adotar uma criança Mateo? — As palavras não fizeram o homem ao meu lado se abalar.

— Quero a tutela da criança, não seria como um pai para ela.

— E por que gostaria que essa responsabilidade estivesse em suas mãos? — Nós dois nos olhamos e eu fiquei em dúvida qual seria sua resposta.

Eu não sabia as verdadeiras intenções de Mateo, o moreno ficou disposto a me ajudar desde o início do problema, mas não entendia sua boa vontade já que tínhamos um grande desafeto um pelo outro.

Fiquei em silêncio para escutar sua resposta.


— Morgana é uma pessoa do qual precisa de ajuda nessa situação e eu não quero deixá-la em desamparo, me apeguei ao irmão dela desde o momento em que o vi e soube que não poderia deixar os dois separados, infelizmente ela não consegue ficar com a responsabilidade do seu irmão no quesito legal, por isso meu interesse em ajudar.

As palavras me pegaram de surpresa, com certeza não esperava essa resposta do carrancudo do Mateo. Mas, pelo jeito, pessoas podiam nos surpreender mais do que esperávamos. Ele gostava do meu irmão?

— É um motivo muito nobre Mateo, mas não posso deixar de ficar em dúvida, qual seria a relação que ambos têm um com o outro?

Se antes eu já estava abalada, agora eu tinha a certeza que meu corpo podia ir ao chão. Ele tinha alguma dúvida que nos odiávamos?

— Ah... Somos colegas? — As palavras tinham fugido em minha boca.

— Colegas? — O velho tinha um certo repúdio com a palavra — Em todo esse momento eu vi o senhor Clarck falar, mas e você Morgana? Como vai lidar com essa situação?

— Eu... Não tinha pensado nisso.

— Então quer dizer que os dois estão me dizendo que se vêem como colegas, não sabem responder uma simples resposta, seus únicos laços são de professor e aluna e mesmo assim querem adotar uma criança? — O homem nos olhou de forma que chegou a me deixar triste — Não posso aceitar trabalhar com um caso destinado ao fracasso.

— O que?! — Nós dois falamos juntos.

— Não vou pegar um caso que eu sei que não dará certo, vocês dois mal têm uma ligação para responderem algo sem calcular antes, isso não faria bem para uma criança e muito menos para vocês se o estado descobrir — O velho tentou se levantar mas eu não pude deixar isso acontecer.

Pedro era o meu mundo e eu não exagerava quando dizia que o amava acima de tudo. Talvez fosse melhor deixá-lo com outra família, mas isso significaria minha ruína e podia ser egoísta, mas eu não tinha nenhuma intenção de ficar longe do meu pequeno.

— Senhor, não pode fazer isso, precisamos de ajuda — O orgulho não me alcançava a essa altura do campeonato.

— Com certeza vocês precisam de muita ajuda, mas infelizmente é um caso perdido.

— Você não está entendendo, eu preciso da sua ajuda — Respirei fundo e não pensei muito nas palavras que diria ao homem — Faz pouco mais de uma semana que perdi minha mãe, uma mulher muito simpática, mas que jamais esteve apta para cuidar de uma criança, de combo meu padrasto foi junto e desse eu não tenho o que reclamar da morte... Sobrou apenas o meu irmão na minha vida, aliás, sempre foi só meu irmão, e se por algum acaso eu o perder... Não sei o que eu faço, preciso da sua ajuda e não tô falando de uma adoção, tô falando do meu motivo de viver... Você têm que nos ajudar, essa é minha única esperança de fazer algo bom o suficiente para ser notado, cuidar daquele menino é o meu propósito de vida.

O silêncio caiu em meio a grande sala que tinha uma iluminação natural perfeita e junto as minhas palavras lágrimas se formaram em meu olhos, mas não deixei que ela caíssem. Fabrício tirou os óculos e passou a mão em sua testa. Ele olhou para nós dois.

— Não acredito que vou fazer isso — Um pingo se esperança brilhou em meu peito — Certo, tem um jeito que podemos fazer isso acontecer, mas precisam se concentrar muito nisso.

— Pode falar, estamos dispostos a fazer qualquer coisa — Mateo disse com as mãos juntas.

— Esses orfanatos adoram se gabar por terem encontrado a família tradicional para crianças, eles tentam ser o mais clichê possível.

— E como podemos convencê-los que estamos adeptos a adotar uma criança?

— Eu vou dá entrada aos papéis de adoção de vocês, um formulário será mandado em seu endereço e os dois terão que responder as perguntas como se tivessem certeza do que estão fazendo, vocês poderão receber a criança por alguns dias em casa como modo de avaliação, mas acredito que a pior parte é a do concelho tutelar — Ele deu uma pausa pensativa na sua frase — Uma assistente visitará a casa de vocês e os dois vão ter que convencer a ela que são um casal.

As palavras ficaram presa em minha mente e a todo custo eu tentei digerir a frase. Ele disse um casal?

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