• MORGANA •
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝Existia um vazia tão enorme em mim que eu precisava me lembrar de que tudo isso ainda era real para continuar vivendo. Tudo parecia tão automático para as outras pessoas, mas para mim era bem mais difícil do que devia.
Eu não podia simplesmente largar tudo e esquecer de como se vive, não podia me encher de palavras falsas para me tirar da realidade e me iludir com minha própria imaginação. Essa era a minha realidade e mesmo ela sendo terrível eu teria que viver com isso.
Olhei para o enorme letreiro e senti como se andasse em cima de vidro a cada passo que eu dava em direção ao estabelecimento. Meu coração doía em vê aquilo, eu caminhava em direção a minha tortura.
Abri as portas dos fundos e não me senti surpresa ao vê quem estava a minha espera. Tentei não vomitar alí mesmo.
— Você está atrasada — Robert falou enquanto tragava o charuto.
— Tive um imprevisto — Precisei deixar Pedro na casa de uma babá, não confiava nele sozinho em casa.
— Para sua sorte eu tô de bom humor, comprei uma coisinha para você — Ele estendeu a sacola em minha direção — Veste e sobe no palco, você têm quinze minutos.
O velho se afastou sem me deixar falar nada. Certo, eu era apenas um objeto nesse lugar.
Fui em direção ao corredor e precisei de muita paciência para aguentar a música alta que passava por todo lugar. Em instantes cheguei ao banheiro e começei me trocar.
Nada disso era por prazer, eu não me sentia bem em um lugar como esse, não gostava dos olhares, dos toques, da tortura de ter que me expor para desconhecidos. Eu simplesmente não suportava.
Mas quando você se vê sem saída, quando olha a sua volta e percebe que precisa de um jeito para fugir da sua própria existência, você aceita a primeira coisa que vêm a sua cabeça. Não era por mim, era pelo meu irmão e os anos de felicidade que ainda posso dá a ele.
Troquei a minha roupa rapidamente e em minutos eu estava vestida apenas com a lingerie que tinha recebido. Eu odiava me vê assim, odiava a forma como aquilo deixava exposto meu corpo, odiava em como o tecido da calcinha arranhava meus machucados. Eu odiava a porra da minha vida.
Segurei a dor entalada na minha garganta e respirei fundo. Saí do banheiro com um sorriso no rosto e passei pelas portas principais do inferno.
Seria uma noite bem exaustiva.
•MATEO•
𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝 𓆟 𓆞 𓆝
Eu detestava quando o dia chegava ao fim e a noite se estabelecia no céu, não por causa dos horrores que encobria a cidade durante a escuridão, mas sim por causa daquele silêncio ensurdecedor que parecia não existir vida.
Não gostava da bagunça, não gostava do barulho, não gostava da agitação, mas acima de tudo eu não gostava em como eu ficava preso na minha mente quando o silêncio se instalava. Por isso o barulho me fazia suportar todas as questões anteriores.
Depois de tantas dores você aprende em como o caos pode ser um lar para você.
Eu não pretendia desmarcar a minha ida em qualquer bar que seja, mas meu pai me ligou desesperado para que eu viesse nesse jantar, então aqui estamos nós.
Fiz uma curta oração na cabeça e fui em direção a porta da casa, toquei a campainha e não demorou muito até que o mordomo atendesse a porta. Não prolonguei nenhum assunto, apenas fui em direção a sala de jantar que eu sabia que estariam me esperando.
Assim que entrei a atenção recaiu sobre mim e minha mãe foi a primeira a se levantar. Ela me abraçou com força.
— Mateo! Eu estava com tanta saudade.
— Oi, mãe — Ela me encheu de beijos na bochecha e assim que me soltou pude dá atenção para o resto da minha família.
— Fico feliz que esteja de volta, Mateo — Minha prima, Luisa, estendeu a taça em minha direção em forma de cumprimento.
— É bom está de volta — Ou quase isso.
— Filho! — Meu pai veio até mim e me abraçou de uma forma firme, retribuí — Você está bem?
— Tô sim — Eu queria que sim.
— Bom, vamos sentar, estávamos esperando você para iniciar o jantar — Elizabeth falou fazendo todos nós sentarmos diante a mesa.
No lugar estava exposto comidas variadas, tanto doce quanto salgada. Minha mãe sabia mesmo como exagerar.
Comecei a me servir de tudo o que queria até meu pai iniciar a conversa.
— Então, como estão as coisas na Filadélfia?
— Estão progredindo, acho que o senhor fez um bom negócio naquela região — Ele me ofereceu um sorriso.
— Confesso que fiquei triste quando disse que precisava se afastar um pouco, mas também fiquei feliz por você ter assumido temporariamente as coisas por lá.
— Não sabe como sentimos saudades, querido, foram dois longos anos terríveis — Minha mãe disse entristecida.
— Bom, mas agora você tá com um novo emprego, não é? Como estão as aulas, Mateo? — Luisa perguntou bebendo um gole de vinho.
— Estão boas, eu ainda tô recomeçando mas por enquanto tá tudo bem.
— Ainda não acredito que deixou os negócios dá família para assumir um cargo de professor — Elizabeth parecia mesmo indignada.
— Querida, isso é problema do Mateo e não nosso.
— Obrigada pai — Disse em um tom irônico o que fez a mulher revirar os olhos.
Estávamos prestes a iniciar outro assunto, mas no mesmo instante passos vieram do corredor despertando todo mundo. Meu coração parou por milésimos de segundo ao vê o homem entrar no cômodo.
Matias sorriu para todos nós.
— Boa noite, família.
Um nó travou minha garganta e senti uma raiva crescente em meu peito, em questão de segundos toda minha paciência foi por água a baixo. Que porra esse infeliz está fazendo aqui!?
— Eu vou embora — Levantei da cadeira mas minha mãe fez o mesmo.
— Mateo, espere! — Ela segurou minha mão — Ainda não terminamos o jantar.
— Não consigo comer no mesmo lugar que ele.
— É bom te vê, irmãozinho — Ele ironizou.
— Matias, por favor! — Minha mãe o repreendeu — Essa briga de vocês já durou por tempo de mais, eu exijo que isso pare aqui mesmo!
— Mateo, você voltou de viagem a um mês e nem veio nos vê, será que pode pelo menos ficar para um jantar? — Olhei para o meu pai e senti aquele aperto na garganta mais forte.
Era como se todas as minhas dores voltassem átona e as cicatrizes se abrissem de volta. Observei o meu irmão e ele abriu um sorriso para mim, enjôo me subiu ao lembrar de cada detalhe.
— Apenas um jantar — Voltei a me sentar e parecia que todos suspiraram de alívio.
Matias se sentou a mesa e toda a conversa com um ar pesado voltou, mas aquele barulho em minha cabeça pareceu aumentar em mais um nível e derrepente tudo alí virou um pesadelo. A dor em meu coração foi mais forte do que pude aguentar.
Quando eu iria superar o passado?
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Nosso Segredo
FanfictionO tão sonhado, último ano do ensino médio, acaba de começar para Morgana, uma jovem impulsiva, magoada e com cicatrizes abertas que ainda não se curaram. Com novas mudanças na escola e na sua vida particular tudo se desestabiliza, principalmente qua...