Um presente do sol e pequenas reconciliações

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Era dia da Captura à Bandeira.

Kalliope havia passado as últimas horas se esquivando de qualquer um de seus irmãos que fossem lhe perguntar o que havia de errado – em especial Michael e Lee – e se concentrando com força em seu treinamento. Estava até mesmo evitando Percy, não conseguia nem mesmo olhar para ele depois do que lhe falou.

Ela não disse aquilo como uma maneira de assumir que Annabeth estava morta. Sabia que Annabeth não estava! Não sabia porque sabia, mas sabia! Havia falado aquilo mais em uma lembrança do que aconteceu com sua mãe do que qualquer outra coisa, mas não era como se fosse falar sobre isso para Percy. Não queria falar com ninguém sobre isso, na verdade.

Acordando como sempre bem cedo, começou sua rotina diária. Pegando o arco do Arsenal do Acampamento que estava consigo – já que seu próprio foi comido por uma serpente marinha enquanto ajudava Clarisse na Ilha Staten, teve que se contentar com um emprestado – saiu com cuidado do Chalé.

Junto com arco e flecha e a corrida diária, tentava conjurar a luz e mantê-la por mais tempo na palma de sua mão, mas estava sem sucesso.

Havia sido uma surpresa em sua luta contra Phobos ter mostrado possuir a habilidade que lhe permitisse manipular a luz. Kalli se perguntou se, com muita prática, se tornaria uma coisa única e poderosa ou era apenas uma habilidade mais simples, como sua capacidade de conseguir usar os sons.

Ao compartilhar sua descoberta com Quíron na busca de orientação, o centauro a disse para praticar, dizendo também que achava ser uma coisa única e que ela foi abençoada com a rara habilidade de manipular a luz, mas após não conseguir mais ver nenhuma evolução com o treinamento, estava começando a desistir da suposta bênção de habilidade.

Ela estava agora em uma clareira onde os sátiros geralmente se reuniam quando tinham um de seus conselhos da natureza. Era o lugar onde o sol incidia com mais força. Esperava que ali, se quisesse manipular a luz, suas chances de sucesso fossem maiores em um local com o máximo de luz possível.

De olhos fechados, estendeu as palmas das mãos e se concentrou em criar uma bola de luz sobre elas. Já estava nisso há algum tempo, determinada. Principalmente porque aquilo era uma boa fonte de distração, porém, ultimamente sua falta de concentração estava absolutamente enervante.

Sempre que ficava parada por tempo o suficiente, começava a recordar de sua mãe, seu físico rapidamente se deteriorando; o sangue. O bip agudo e constante do monitor multiparamétrico a assombrava até aquele momento, mesmo que tivesse sido por míseros segundos, foi o suficiente para que a marcasse pelo resto da vida...

Ah... Definitivamente não queria ter que lidar com isso agora.

Kalli sentiu seus olhos começarem a arder. O nó firme em seu peito lutando para ser desfeito.

— Você precisa se concentrar se pretende manipular a luz. — uma voz falou atrás dela.

Virando-se em direção à fonte do som, rapidamente estreitou seus olhos quando pousaram em um homem loiro que parecia ter dezessete ou dezoito anos. Ele estava sorrindo para Kalliope, brilhante e brincalhão, vestindo jeans, mocassins e uma camiseta sem mangas que ironicamente dizia "absorva o sol". Um visual ainda bem fresco e bem familiar em suas memórias e ela não ficou feliz em vê-lo.

— O que você está fazendo aqui? — perguntou sem rodeios.

O homem fez uma careta.

— Isso não é jeito de cumprimentar seu pai.

Revirando os olhos, Kalli cruzou os braços.

— Com essa aparência, eu diria que está mais para meu irmão mais velho do que meu pai. — disse, logo em seguida enfiando suas mãos no bolso da frente do seu moletom. Bem, não era exatamente seu moletom. Estava usando o moletom azul marinho que Percy tinha lhe dado quando a salvou das cobras falsas no Chalé Sete. Ela estava o usando muito. Dizia a si mesma que era porque estava frio e não tinha nenhum moletom quente, mas a verdade é que o moletom de Percy a trazia conforto.

𝐒𝐎𝐁 𝐎 𝐒𝐎𝐋 (𝑭𝒐𝒓𝒂 𝒅𝒐 𝒍𝒖𝒈𝒂𝒓)Onde histórias criam vida. Descubra agora